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Economia

Relatório de política monetária: BCV prevê recuperação do PIB e redução da inflação

O governador do Banco de Cabo Verde, Óscar Santos, perspectivou, esta semana, que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em volume deverá recuperar “gradualmente”, atingindo os 4,7% e 5,4%, em 2024 e 2025, respectivamente. Já em termos de inflação, espera-se que a taxa média anual desça de 4%, em 2023, para 2,2%, em 2024, e 0,1% em 2025. 

Os dados constam do Relatório de Política Monetária do Banco de Cabo Verde (BCV) apresentados esta semana, na cidade da Praia, por Óscar Santos. Este responsável deixou claro que os “elevados níveis” de incerteza a nível global estão reflectidos no relatório, “agravados” pelas recentes tensões geopolíticas, nos últimos seis meses. Neste quadro, a economia nacional foi afectada por um “abrandamento no crescimento da atividade económica global”, bem como dos principais parceiros do país, em especial na área da zona Euro e Reino Unido. 

“No concernente à economia nacional observa-se uma pronunciada tendência de moderação do crescimento, com a actividade económica a ressentir-se da performance menos exuberante do setor do turismo e do desvanecimento dos efeitos de arrastamento do processo de recuperação pós pandemia. No entanto, é de realçar o facto da economia estar a crescer mais em consonância com o seu potencial e a repercussão da evolução do contexto externo a repercutir-se no desempenho da economia nacional”, argumentou.

Crescimento condicionado no 1º Semestre de 2023

Citando os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), Óscar Santos explicou que o Produto Interno Bruto (PIB) em volume registou um “abrandamento”, crescendo 5,8 por cento no primeiro semestre de 2023, em comparação com o crescimento de 18,9% no período homólogo.  

“O enfraquecimento da procura, os critérios de concessão de crédito ligeiramente mais restritivos para as empresas e a moderação da procura externa turística, condicionaram o crescimento económico no primeiro semestre do ano”, justificou, afirmando que o abrandamento do crescimento do PIB estendeu-se a quase todos os sectores de atividade, com particular destaque para os serviços ligados ao turismo.

Igualmente, o BCV aponta que o perfil da inflação manteve a sua “trajectória descendente”, em reflexo da redução dos preços dos produtos energéticos e, ainda que em menor grau, dos produtos alimentares, bem como, os efeitos de base descendentes. 

“Destaca-se a redução das pressões inflacionistas corroborada pelo abrandamento dos preços das classes de “Produtos Alimentares e bebidas não alcoólicas” e de “Habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis” e redução de preços da classe dos “Transportes” além da desinflação de preços de algumas classes de bens”, justificou.

Conforme explicou, de acordo com dados do INE, a taxa de variação média dos últimos doze meses do índice de preços no consumidor situou-se nos 5,3% em setembro de 2023. A taxa de inflação homóloga, por seu turno, indicou, atingiu os 2,6% em Setembro, contra os 8,7% registados no período homólogo.

Melhoria nas contas externas

Óscar Santos avançou ainda que as contas externas registaram uma melhoria menos acentuada no défice da conta corrente em comparação com o semestre homólogo. Neste contexto, contribuíram, sobretudo, os abrandamentos registados nas exportações de serviços de viagens de turismo e nas remessas de emigrantes, que cresceram 40,9% e 1,4 %, respectivamente (contra 500 e 15,8% no semestre homólogo). 

Além disso, destacou que houve reduções nas exportações de serviços de transportes aéreos (em 37,1%) e nas reexportações de combustíveis e víveres nos portos e aeroportos nacionais (em 10,4%). 

“No entanto, os rendimentos de investimento direto expatriados aumentaram. O aumento dos influxos líquidos de financiamento da economia, em resultado de entradas de financiamento a favor do Tesouro, provenientes sobretudo do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional não foram suficientes para cobrir as necessidades de financiamento da economia na medida em que o país registou uma perda de activos de reserva de cerca de 6 milhões de euros”, observou.

Stock

Em consequência, o stock de reservas externas líquidas, nos primeiros seis meses do ano, permitiu garantir 5,7 meses das importações de bens e serviços (seis meses no semestre homólogo), ainda assim, como explicou, “em níveis considerados adequados para a manutenção da estabilidade do regime cambial de peg. fixo ao Euro”.

O relatório de política monetária, conforme nota o Governador do BCV, esclarece ainda que as contas públicas têm evidenciado uma “trajectória de consolidação orçamental sustentada pela performance positiva das receitas e em abrandamento das despesas correntes e despesas com ativos não financeiros”.

De notar que para 2023 o BCV antecipa um crescimento de 4,5%do PIB, sendo que, como referiu essa fonte, as actuais projeções, face às divulgadas em Abril de 2023, refletem uma revisão em alta do crescimento do PIB, em 0,4 pontos percentuais.

Como argumentou, as perspectivas atualizadas do Banco Central levam em consideração vários factores, como o desvanecimento gradual dos efeitos positivos de arrastamento do processo de recuperação da crise pandémica; a conjuntura externa menos favorável, marcada pelo menor dinamismo nos principais parceiros económicos do país, com implicações ao nível da procura turística, que espera-se que seja mais moderada; os efeitos cumulativos da inflação, que, embora esteja a reduzir, continua ainda em níveis elevados); as condições de financiamento adversas e os critérios mais restritivos de aprovação pelos bancos de novos empréstimos, em particular para as empresas e, ainda, alguma incerteza em relação à oferta e aos preços da energia.

PIB deverá recuperar gradualmente em 2024/25

O BCV, perspectiva que, em 2024 e 2025, o crescimento do PIB em volume deverá recuperar “gradualmente”, situando-se nos 4,7% e 5,4%, respectivamente, devido à expectável “melhoria dos rendimentos reais das famílias” suportado pela descida da inflação e pelo aumento da procura externa turística, em linha com a melhoria das perspectivas económicas dos principais parceiros.

Contudo, o relatório de política monetária, aponta que o crescimento continuará a ser “condicionado” pelas repercussões na “economia real” de uma maior restritividade das condições de oferta de crédito, com implicações na redução da procura de crédito e, por conseguinte, nas decisões de consumo e de investimento dos agentes económicos, bem como pela retirada gradual das medidas de apoio orçamental de compensação pela alta dos preços da energia. Isto, face à queda prevista nos preços futuros dos produtos energéticos no mercado internacional.

Quanto à inflação, Óscar Santos diz que se espera que a taxa média anual reduza, gradualmente, de 4% em 2023, para 2,2% e 1,0% em 2024 e 2025, respectivamente. 

“Esta tendência é impulsionada pela expectativa de queda dos preços das matérias-primas, tanto energéticas quanto não energéticas, nos mercados internacionais, pela normalização das cadeias de abastecimento globais e pela redução das pressões sobre os custos de produção. Adicionalmente, a política monetária restritiva e as condições mais apertadas para a obtenção de crédito também deverão contribuir para reduzir a procura e, consequentemente, a inflação”, justificou.

Face ao contexto, este responsável alerta que é fundamental o alinhamento gradual da condução da política monetária do BCV à actuação do BCE, de forma a reduzir o diferencial de juros e, assim, poder mitigar os riscos associados a uma potencial saída de divisas. Deste modo garantindo a sustentabilidade do regime cambial de paridade (peg) fixo da moeda nacional ao euro, sem descurar os desafios associados à estabilidade financeira.

Medidas adoptadas

Face ao quadro e contexto evidenciado, Óscar Santos apontou algumas medidas tomadas pelo BCV, entre elas, o aumento da taxa de juro diretora (TRM) em 25 pb (pontos -base), de 1,00% para 1,25%; o aumento da taxa de juro das Facilidades Permanentes de Absorção de Liquidez(FPA) em 15 pb, de 0,55% para 0,7%; o aumento da taxa de juro das Facilidades Permanentes de Cedência de Liquidez (FPC) em 25 pb, de 1,25% para 1,5%; o aumento da taxa de juro de Redesconto em 50 pb, de 2,00% para 2,50% e a Manutenção do coeficiente de Reservas Mínimas de Caixa (DMC) nos atuais 10%.

O governador garante que o BCV continuará a acompanhar a evolução das “variáveis e condições económicas”, assim como a evolução da conjuntura internacional e os riscos advenientes para a economia e o sistema financeiro nacional, mantendo-se “alerta” para intervir, “em qualquer momento”, adotando as medidas que se mostrarem “adequadas”.

Isso, tendo em vista a “salvaguarda da estabilidade financeira e garantia da credibilidade do regime cambial de peg unilateral face ao Euro”. 

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