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O sistema de ensino em Cabo Verde

Por: Olímpio Tavares

Nesta pequena reflexão, pretendo analisar, de forma sucinta, os principais aspetos que enformam o sistema de ensino cabo-verdiano. Para isso, vou centrar-me em 4 pontos que considero essenciais para o processo de ensino: o ensino; a aprendizagem; a avaliação das aprendizagens e a indisciplina.

Todo o processo de ensino começa com um conjunto de estratégias que o professor considera fundamentais para levar o aluno a aprender alguma coisa, no âmbito de uma determinada disciplina. No entanto, essas estratégias nem sempre são adequadas ao que o aluno precisa realmente para aprender algo que seja significativo e duradouro. É essa falta de estratégias adequadas que condiciona negativamente todo o processo de ensino vigente no país.

Ensino

O formato de aulas em Cabo Verde é, em geral, magistral, no sentido negativo do termo, ou seja, o professor é a única fonte e autoridade do saber, e conduz a aula, na maior parte das vezes, no sentido único, obrigando os alunos a seguir o seu raciocínio de forma acrítica, configurando assim um tipo de ensino tipicamente dogmático, uma espécie de catequese escolar. A passividade dos alunos é extremamente importante para a maioria dos professores porque assim facilita a transmissão de um suposto conhecimento. Por isso, é de extrema importância que o aluno fique calado, ouvindo assim o longo sermão do professor ou cadeias intermináveis de exercícios muitas vezes sem ligação direta com os objetivos da aprendizagem.

A aprendizagem

O que o aluno aprende neste formato de ensino é, basicamente, reproduzir numa prova ou noutro tipo de trabalho, que muitas vezes tem o formato de uma prova, aquilo que supostamente aprendeu numa determinada unidade de aprendizagem. O tipo de questões que aparecem com mais frequência nessas avaliações começam, normalmente, com: carateriza; indica; o que é; descreva; refira; entre muitos outros. Questões que começam com: justifica; problematiza; analisa; avalia; qual é a tua posição; entre muitos outros aparecem com pouca frequência.

O primeiro tipo de questões destina-se a testar a capacidade de memorização dos alunos. Quanto mais fiel for a capacidade de memorização, maior será a probabilidade de o aluno ter uma nota elevada, mesmo que não compreenda o que está a dizer. Esse tipo de questões testa, normalmente, as competências cognitivas inferiores dos alunos.

O segundo grupo de questões, que é mais raro nas nossas práticas pedagógicas, destina-se a testar as competências cognitivas superiores dos alunos. Aqui o que se pretende é este seja capaz de compreender e analisar criticamente um determinado conteúdo.

A avaliação das aprendizagens

A avaliação, como já vimos, é, basicamente, a verificação da competência mnemónica do aluno. Neste sistema, o aluno que tem lapsos de memória, ou uma «branca» num teste qualquer está fadado ao fracasso. Neste sentido, a avaliação é tipicamente sumativa, uma prestação de contas no final de uma unidade de aprendizagem. O aspeto formativo da avaliação das aprendizagens fica praticamente de fora. O que acaba por ser uma pena porque segundo a investigação científica levada a cabo nos últimos trinta anos, a avaliação que mais contribui para as aprendizagens dos alunos é a avaliação formativa. Isto acontece porque neste formato de avaliação o professor recolhe constantemente as informações sobre o processo de aprendizagem dos alunos e intervém em tempo oportuno, de forma que estes consigam ultrapassam as dificuldades de aprendizagem e evoluir para um nível superior.

A indisciplina

Todo o processo de ensino, aprendizagem e avaliação requer um controlo rigoroso de atos de indisciplina na sala de aula. As estratégias seguidas no nosso sistema de ensino são, sobretudo, remediativas e não preventivas. Se um aluno comete um ato de indisciplina, o mais provável é que seja colocado fora da sala de aula, sem possibilidade de justificar ou pedir perdão pelo incómodo provocado. Boa parte dos professores não consegue ver outra alternativa além da expulsão.

Uma estratégia alternativa seria não punir o aluno no momento do ato à frente dos seus colegas. Assim, o professor ganha tempo para arrefecer a sua raiva, e escolhe as palavras certas para fazer o aluno refletir sobre o seu ato, e aproveita para estabelecer um contrato com ele, no sentido de mudar esse comportamento.

As melhores estratégias para manter a disciplina na sala de aula são preventivas. Uma forma plausível, a meu ver, é estabelecer o contrato pedagógico com os alunos. Esse contrato deve ser feito, normalmente, no início do ano letivo. Consiste, basicamente, em entrar em acordo com os alunos sobre o que é permitido e o que não é permitido na sala de aula. Esse acordo, para ser eficaz, terá de ser aprovada na plenária da turma, de forma democrática, com as possíveis sansões, que são, normalmente de cariz pedagógico. 

Em suma, pode-se dizer que temos um sistema de ensino de pouca qualidade, apesar de termos uma das melhores legislações. O grande problema do sistema de ensino cabo-verdiano, a meu ver, é a falta de estratégias pedagógicas que vão ao encontro das necessidades de aprendizagem dos alunos. O mais importante não é ensinar por ensinar, o que acontece em muitos casos, mas ensinar para aprender. Só assim a escola ganha o seu sentido pleno.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 837, de 14 de Setembro de 2023

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