As plantações de sequeiro e gota-a-gota em várias localidades da ilha de São Nicolau têm sido ameaçadas pela praga da galinha-do-mato. Antigamente a espécie era combatida por caçadores, com recurso aos cartuchos, agora proibidos.
Em declarações ao A Nação, o jovem agricultor e empreendedor no ramo, Alessio Sequeira, diz que, desde que os cartuchos foram proibidos, a população da galinha-do-mato vem crescendo de forma significativa, causando a perda de sementeiras, em várias localidades.
Este ano muitos agricultores acabaram por perder as suas sementeiras devido à proliferação deste animal.
“Semearam cedo, a chuva demorou e a galinha comeu as sementes. Voltaram a semear e as galinhas comeram as sementes novamente, fazendo com que muitos acabassem por desistir, pois não estava a valer a pena”, indica Alessio Sequeira.
Segundo este lavrador, quem semear e não colocar pedras pode ter a certeza que vai perder a lavoura.
Dificuldades também em áreas irrigadas
Este problema, entretanto, não é comum apenas aos campos de sequeiro.
“Mesmo nas áreas irrigadas tenho muita dificuldade em fazer alguma coisa neste momento porque as galinhas não me deixam. Para sancionar uma plantação é preciso cobri-las, o que acarreta muitos custos com compra de rede, mão-de-obra e montagem da estrutura”, revela.
Sem solução à vista
Sequeira garante que por diversas vezes os agricultores já tentaram recorrer ao Ministério da Agricultura na tentativa de se encontrar uma solução, mas sem efeito.
“Não nos dão nenhuma o pção. Não temos nenhum tipo de remédio para eles, fazemos uma armadilha, funciona hoje e amanhã já não funciona, é muito complicado”, revela.
Cartuchos proibidos
Em outros tempos, conforme conta, as galinhas-do-mato eram combatidas com recurso à caça, com espingardas e cartuchos.
Estes recursos f oram, e ntretanto, proibidos, especialmente a entrada de cartuchos nos portos e alfândegas do país, com vista a combater o seu uso para outros fins, nomeadamente a criminalidade.
Este camponês, agricultor na região de Chã Grande, em Carvoeiro, diz que o problema tem sido sentido um pouco por toda a ilha, incluindo em outras regiões como Fajã, Água das Patas, e outros, pelo que as autoridades devem zelar pela sua resolução.
“É uma situação que acho que quem de direito deveria analisar, senão as coisas vão ficando cada mais complicadas para os produtores”, exorta, lembrando que um grupo de agricultores chegou a fazer um abaixo assinado pedindo autorização de uso de cartuchos para caçadores com documentação para a prática, mas nunca houve reação das autoridades, nomeadamente Ministério da Agricultura e Governo.
A Nação entrou em contacto com a delegada do MAA em São Nicolau que disse, entretanto, ser um assunto que ultrapassa a delegação do ministério, uma vez que envolve outras áreas.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 838, de 21 de Setembro de 2023