O presidente e fundador da associação ambientalista Biosfera I considerou um “caso de sucesso” a reintrodução da Calhandra do ilhéu Raso em Santa Luzia que já conta com mais de 1.500 indivíduos no país.
Tommy Melo fez estas considerações à Inforpress, avançando que o projecto de reintrodução surgiu após a Biosfera I e um consórcio identificarem que esta espécie endémica de Cabo Verde já se encontrava à beira de extinção.
Tendo em conta os registos fósseis encontrados na ilha de Santa Luzia que indicaram que anteriormente a ilha foi um habitat desta espécie, continuou, decidiram iniciar os estudos para a sua reintrodução.
O processo, conforme este ambientalista, iniciou-se em 2015 com os estudos de terrenos que ficaram concluídos a meio do ano de 2017, mas a reintrodução da espécie foi feita em 2019, uma reintrodução com menos de 100 indivíduos, que, passados quatro anos, em Março de 2023, ao fazer a contagem viram que a população na ilha de Santa Luzia já ultrapassou os 600 e no ilhéu Raso, contabilizaram cerca de 900.
Passos enveredados
O primeiro passo após os estudos, conforme explicou, foi a eliminação dos gatos que existiam na ilha e, hoje, com o aumento desta população de calhandra na ilha e no ilhéu Raso, Tommy Melo disse que o sentimento é de “gratidão” ao ver que o trabalho “foi bem feito”.
“Um animal que se encontrava em perigo muito crítico de extinção e que conta agora com duas populações diferenciadas, em ilhas diferentes, já possui uma resiliência muito maior aos efeitos das mudanças climáticas”, realçou, avançando que na ilha de Santa Luzia a taxa de sobrevivência da espécie se multiplicou e que caso houver um bom regime de chuva nos próximos anos, esse número poderá triplicar ou quadruplicar.
Questionado se pretendem fazer este mesmo processo em outras ilhas, Melo avançou que a introdução é sempre mais complicada, relembrando que no caso de Santa Luzia foi uma reintrodução e que nos casos da introdução num novo habitat onde ela nunca existiu poderá trazer muitos conflitos com as espécies locais e não se sabe se os conflitos podem ser desvantajosos para a Calhandra ou para as outras espécies que ali já existem, podendo causar “um certo desequilíbrio”.
Biosfera I planifica reintrodução de outras espécies de aves, como cagarras, rabo-de-junco e pedreirinho
Quanto às outras espécies em vias de extinção, informou que estão a planificar a reintrodução de outras espécies de aves, como cagarras, rabo-de-junco e pedreirinho, fazendo a montagem de ninhos artificiais para chamar novamente as aves marinhas para se nidificarem novamente em Santa Luzia, justificando que é uma ilha que havia muita nidificação, mas que todas as colónias foram extintas pelos gatos.
Sobre as políticas adoptadas pelo Governo em relação à biodiversidade e às espécies endémicas no país, declarou que todas as espécies se encontram no livro vermelho e estão salvaguardadas pela regulamentação.
Espécies invasoras ameaçam populações selvagens
Entretanto, sublinhou que o problema é que na prática estão a surgir novas ameaças introduzidas pelo homem, nomeadamente as espécies invasoras, como gatos, cães e ratos, que proliferam e que são uma “ameaça muito grave” para as populações selvagens dessas espécies, como répteis terrestres, colónias de aves marinhas e aves terrestres.
Daí defender ser necessária uma fiscalização, e para as zonas de maior interesse, deve-se criar programas de biossegurança para impedir que haja a livre proliferação desses animais invasores.
Acrescentou que é preciso também uma regulamentação para o controlo desses animais, mesmo nos centros urbanos em todas as ilhas do país, mas que seja um regulamento pensado e que possa ser implementada para surtir efeito.
O projecto da reintrodução da calhandra do ilhéu Raso ultrapassou os dois milhões de euros, conforme avançou o presidente da organização que se dedica à conservação ambiental, financiada por congéneres estrangeiras.
C/ Inforpress