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Cultura

Dino d’ Santiago: “Nunca tinha tocado só para africanos”

Imagem: facebook - DinoDSantiago

O palco do Festival da Baía das Gatas foi a oportunidade de Dino d’ Santiago cantar para as raízes cabo-verdianas e africanas. O luso cabo-verdiano subiu ao palco no último domingo e impressionou o público com apelo à africanidade, à ancestralidade e à luta contra o racismo e a favor da diversidade racial.

Dino d’ Santiago arrepiou os espectadores do festival da Baía das Gatas com a intensidade do espetáculo que “há muito sonhou”. Como diz, pela primeira vez, teve a oportunidade de ‘tocar’ para africanos e no festival que idealizou.

No espectáculo “único” e “intenso”, Dino tocou em assuntos como o afastamento de Cabo Verde de África, homenageou a mãe, cantou Os Tubarões, Cesária e reivindicou o lugar de corpos pretos pelo mundo, através da música “Nova Lisboa”.

“Um cidadão comum”

Dono de discursos poderosos e apesar de não se considerar activista político e sim um “cidadão comum”, o artista admite que os discursos em palco não são pensados, permitindo-se expressar o que sente no momento.

“Raramente penso no que vou dizer, visualizo muito, desde que descobri esse poder foi uma transformação na minha vida. Sempre visualizei os meus concertos. Não é só um querer, vejo o que vai acontecer, sinto, emociono-me. E, depois, no final, o truque é a gratidão por aquele momento”, conta.

Nos espetáculos, assim como aconteceu na Baía das Gatas, Dino junta-se ao público para celebrar, o que para o artista é algo repleto de significado. “As pessoas estão a dar tanta energia, querem-me tanto ali e eu quero tanto estar ali. É um momento meu, é egocêntrico ao máximo, recebo tanto amor que sinto que é aquilo que me dá forças para aguentar o dia seguinte, como se me estivessem a energizar e eu saio dali com uma felicidade extrema”, detalha a experiência.

“Preto em construção”

Em meio a músicas de intervenção, Dino d’ Santiago considera-se um “preto em construção” e, através da música, quer contribuir para a diversidade racial e um mundo onde o filho não vai crescer a ouvir “preto vai para a tua terra”. “Quero chegar a um momento em que só sou o Dino, sem prefixos nem sufixos. Só quero ser o Dino, não tenho de carregar menires atrás da minha cultura. Senão quando vou poder desfrutar disto? Há pessoas que só são artistas e não têm de estar a levar bandeiras, vivem o privilégio de só serem artistas”.

O artista sente-se “cada vez mais livre” em expressar-se, principalmente em crioulo, sem bloqueios e receios de ferir suscetibilidades, mas também sem sentir que o seu voo “assombra alguém”. “Sou muito imperfeito em muitas cenas e sei que preciso crescer muito. Sinto que tenho de melhorar”, acredita.

Dino d’Santiago é o nome artístico de Claudino Pereira, nascido em Quarteira, Portugal, no início da década de 80. Filho de pais cabo-verdianos, naturais da ilha de Santiago, cresceu no Bairro dos Pescadores, um antigo bairro de lata, para o qual os pais tinham ido morar ao chegarem a Portugal.

Em homenagem a Bana, cantor emblemático de Cabo Verde, a

39ª edição do Festival da Baía das Gatas terminou no último domingo. Durante três dias vários artistas nacionais e internacionais pisaram o palco do certame como os brasileiros Paula Fernandes e Xamã, nacionais como Ceuzany, Josslyn, MC Acondize, Nelson Freitas, entre vários outros artistas.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 833, de 17 de Agosto de 2023

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