O ministro da Administração Interna, Paulo Rocha, garantiu que os migrantes resgatados esta Terça-feira, 15, vão ser deportados, afastando a hipótese de criação de centros de acolhimento em Cabo Verde. Por sua vez, o presidente da Plataforma das Comunidades Africanas, José Viana, defende que chegou o momento de o Governo cabo-verdiano começar a encontrar alternativas para acolher esses migrantes.
“Nós continuaremos a prestar a assistência humanitária e todos os cuidados que do ponto de vista de saúde se impuserem até a sua completa recuperação, mas temos as nossas preocupações fronteiriças e as autoridades nacionais irão tomar as medidas no sentido de garantir segurança dos que vêm e também dos nossos cidadãos”, afirma Paulo Rocha, assegurando que vão ser tomadas “diligências para o repatriamento dos referidos cidadãos para os países de origem”.
Criação de centros de acolhimento permanente fora hipótese
“Há outras questões que estão no plano diplomático e que vão ser tratadas, mas nós não pomos a hipótese de manter aqui centros de acolhimento permanente porque não faz sentido, atendendo à nossa condição de país arquipelágico e com todos os nossos problemas”, afirmou Paulo Rocha.
José Viana defende criação de mecanismos para lidar com migrantes
Por sua vez, o presidente da Plataforma das Comunidades Africanas, José Viana, diz reconhecer as dificuldades, mas entende que chegou o momento de o Governo cabo-verdiano começar a criar mecanismos e estruturas para lidar com os migrantes.
“Nós, como um país de solidariedade e promoção dos direitos humanos, deveríamos realmente começar a ter mecanismos que são apropriados para amenizar a dor e sofrimento dessas pessoas”, defende José Viana, considerando esses mecanismos passam encontrar alternativas para acolher esses migrantes.
Não é a primeira vez que pirogas com migrantes chegam a Cabo Verde
Em menos de um ano, já foram resgatados em Cabo Verde migrantes de pelo menos três pirogas, incluindo a de ontem, 15 de Agosto, cujos migrantes foram encontrados a cerca de 150 milhas a nordeste da ilha do Sal e transportados para o cais da Palmeira pelo navio pesqueiro de nome ZILLARRI, de bandeira espanhola.
Assim, em Janeiro deste ano, as autoridades cabo-verdianas tinham resgatado, com vida, 90 migrantes clandestinos que deram à costa numa piroga, no farol de Morro Negro, na zona Norte da Boa Vista, provenientes da Gambia, Serra Leoa, Senegal e Guiné-Bissau. Nessa piroga estavam dois cadáveres e, entre esses imigrantes, constavam 15 menores, com idades compreendidas entre os 14 e 17 anos, e três mulheres.
A piroga tinha partido da Gâmbia com destino a Espanha e esteve à deriva durante 25 dias, transportava 56 cidadãos do Senegal, 25 da Gâmbia, cinco da Guiné-Bissau, um da Serra Leoa, um da Guiné Conacri e um do Mali.
Oitenta e oito desses migrantes dos 90 que deram à costa na Ilha das Dunas, foram repatriados para o Senegal em dois aviões militares que efectuaram voos especiais para o efeito, sendo que dois desses migrantes tinham sido detidos pela Polícia Nacional na Boa Vista e foram presentes a tribunal, por serem, supostamente, os “comandantes” da piroga.
Recorde-se, ainda, que, em Setembro de 2022, também na ilha da Boa Vista, uma piroga deu à costa com oito migrantes africanos, havendo na ocasião indícios de que mais 13 integrantes do grupo não sobreviveram durante a viagem.
C/ Voa Português