Morreu hoje, aos 90 anos, Léa Garcia, uma das primeiras atrizes negras da televisão brasileira, que ficou conhecida após interpretar Rosa, na novela “Escrava Isaura”. A atriz faleceu justamente no dia em que ia ser homenageada no prestigiado Festival de Cinema de Granado no Rio Grande do Sul, Brasil.
Ao lado de nomes como Ruth de Souza e Zezé Motta, Léa Garcia foi uma das primeiras atrizes negras da televisão brasileira, e uma das maiores expoentes da cultura afro-brasileira. Léa ficou famosa no Brasil após interpretar Rosa em “Escrava Isaura” (1976), uma novela que também foi exibida em Cabo Verde e que fez grande sucesso.
A atriz estava no Município de Gramado, Rio Grande do Sul, Brasil, desde este fim-de-semana, acompanhada do filho, Marcelo Garcia, e assistiu a sessões dos filmes “Retratos Fantasmas” e “Tia Virgínia”.
Sucesso no teatro e na televisão, Léa Garcia foi capaz de promover sentimentos intensos nos telespectadores pelo intenso talento que demonstrava ao interpretar personagens. A artista, chegou a sofrer agressões físicas e verbais na época de Escrava Isaura, em 1976. Antes, no entanto, ela já havia representado o país no cinema internacional: interpretou Serafina em “Orfeu Negro” (1959), filme de Marcel Camus.
Além de pioneira, Léa se dedicou a fomentar o cinema negro brasileiro ao longo da vida. Como roteirista, adaptou para as telas textos de autores negros como Cidinha da Silva, Luiz Silva Cuti e Muniz Sodré. Ela também participou de produções feitas por pessoas negras que colocavam temas raciais no centro do enredo, como “As Filhas do Vento” (2005).
Filha de uma modista e de um bombeiro
Filha de uma modista e de um bombeiro, Léa Garcia nasceu no Rio de Janeiro em 1933. Se interessou pelas artes cênicas por influência do dramaturgo e ativista social Abdias do Nascimento, que a convenceu a subir ao palco do Teatro Experimental do Negro na peça “Rapsódia Negra” (1952). Léa e Abdias tiveram dois filhos: Henrique Garcia do Nascimento e Abdias do Nascimento Filho.
Estreia na televisão
A atriz fez sua estreia na televisão no Grande Teatro da TV Tupi ainda na década de 1950. Na década de 1960, a atriz participou de “Ganga Zumba”, primeiro filme dirigido por Cacá Diegues, que teve participação de Cartola e trilha sonora de Moacir Santos.
Léa Garcia foi para a Globo em 1970 na novela “Assim na Terra Como no Céu”, novela de Dias Gomes, na qual a atriz interpretou Dalva, a empregada do personagem de Jardel Filho. Em 1972, ela participou do primeiro programa gravado inteiramente em cores no Brasil: um episódio de Caso Especial chamado “Meu Primeiro Baile”.
“Escrava Isaura é o meu cartão de visitas”
Em 1976, Léa interpretou sua primeira vilã em “Escrava Isaura”, novela adaptada por Gilberto Braga do livro de Bernardo Guimarães. O papel de Rosa fez Léa ser reconhecida pelo público, mas também lhe rendeu problemas: a atriz chegou a sofrer violência física de telespectadores que odiavam a personagem.
“Escrava Isaura é o meu cartão de visitas. Tive muitas dificuldades em fazer cenas de maldade com a Lucélia Santos. Eu me lembro de uma cena em que, quando a Rosa acabou de fazer todas as perversidades com a Isaura, eu tive uma crise se choro, me pegou muito forte. Chorei muito, não com pena, mas porque me tocou”, reconheceu Léa.
70 filmes e novelas, além de 20 peças
A atriz também atuou em tramas na TV Manchete, como no folhetim de Duca Rachid, “Tocaia grande” (1995) —baseado na obra de Jorge Amado—, e em “Xica da Silva” (1996), de Walcyr Carrasco, que tinha Tais Araújo como protagonista. Léa contracenaria novamente com Tais em “Anjo Mau” (1997) na Globo, emissora na qual atuou ainda em “O Clone” (2001), de Gloria Perez, e “Êta Mundo Bom!” (2016), de Walcyr Carrasco.
Desde então, a atriz fez quase 70 filmes e novelas em sua carreira, além de 20 peças. Seu último papel na TV foi Dona Antônia na terceira temporada de “Mister Brau”, em 2017.
Recentemente, foi convidada para participar da refilmagem da novela “Renascer”, e também deixou um trabalho inédito. No folhetim, ela interpretaria a personagem vivida por Chica Xavier na versão de 1993, a empregada da casa de José Inocêncio (personagem que foi de António Fagundes e agora é de Marcos Palmeira). Além disso, ela finalizou as filmagens da 3ª temporada de “Arcanjo Renegado”, do Globoplay.
C/ Correio Braziliense e Agências