As Associações de proteção das tartarugas marinhas já têm acampamentos montados, em diversas praias do país, para a época alta de desova. Dezenas de profissionais, nomeadamente voluntários, estão no terreno desde meados de junho para assegurar a limpeza das praias, a desova e a segurança dos ninhos. Para já, no global, as perspectivas são animadoras.
Na Boa Vista, das três Organizações Não Governamentias (ONGs) que atuam na ilha, A Nação conversou com a BiosCV que, desde junho, tem acampamento montado na praia distante de João Barrosa. Desde o arranque da época, a organização já contabilizou, só nesta praia, 237 ninhos, um número alto para o mês de junho, segundo a BiosCV.
Mesmo assim, Cátia Lopes, diretora executiva dessa ONG, e coordenadora do projeto, diz não se conseguir prever, para já, se a época de desova poderá ser boa ou não. No ano passado, a ilha registou cerca de 76 mil nascimentos e a expectativa de todas as ONGs é de superar este número.
A BiosCV diz-se preparada para, em caso de uma época superior à do ano passado, conseguir monitorar todas as tartarugas e os ninhos. No caso da praia de João Barrosa, a apanha não tem sido um problema, mas a associação promete continuar vigilante e atenta na proteção das praias e no monitoramento, especialmente de tartarugas desorientadas.
Promover investigações sobre o nível de produção de machos, o rácio entre macho e fêmea e estudo sobre plástico, também têm sido as tarefas desta associação, que conta com voluntários no apoio ao monitoramento.
Engajamento social na ilha do Maio
Da Boa Vista para a ilha do Maio, uma das ilhas com muita frequência de tartarugas, a época também começou em alta. O projeto “Maio Biodiversidade”, tem acampamentos montados em várias praias da ilha, e já notificou, desde junho, mais de 500 ninhos e cerca de 29 tartarugas e um ninho apanhados.
Nesta associação, o trabalho de preservação, pela primeira vez, tem sido feito essencialmente por jovens locais, o que para o projeto reflete o engajamento e a “capacitação notável” da comunidade na preservação da tartaruga Caretta Caretta.
Biosfera em ação em São Vicente e Santa Luzia
Já em São Vicente e Santa Luzia, a campanha de nidificação tem sido levada a cabo, essencialmente, pela associação Biosfera. Em Santa Luzia, já foi feita a tradicional campanha de limpeza na Praia dos Achados, que reúne toneladas de lixo intercontinental e, neste momento, já regista os primeiros ninhos, nomeadamente na Praia de Francisca. Aqui já são 236 ninhos desde Junho.
Inclusive, a Biosfera mantém um acampamento na ilha, atualmente com cinco voluntários, para monitorar o processo e identificar perigos.
Já em São Vicente, há 20 voluntários para monitoramento na Praia Grande, Calhau, Norte de Baía e Salamansa, onde, recentemente, criou-se um viveiro para ninhos de tartarugas.
Nesta ilha a Biosfera já registou 64 ninhos e a expetativa, segundo a coordenadora do programa de tartaruga, Jandira Durão, é boa, assim como em Santa Luzia. O trabalho executado passa desde a vigia das praias, identificação de sinais de perturbação, campanhas de limpeza e sensibilização.
24 quilómetros de praia sob vigilância
Na vizinha ilha de Santo Antão cerca de 24 quilómetros de praia têm sido monitorados pela associação Terrimar, designadamente nas praias de Curraletes, Praia de Topo, Tarrafal de Monte, no Porto Novo, e Cruzinha e Costa Norte, ambos na Ribeira Grande.
A época nesta ilha arrancou com pouca frequência de tartarugas, mas mesmo assim melhor do que no ano passado. A associação conta com 20 guardas no monitoramento das praias, sendo cinco em um acampamento fixo no Tarrafal de Monte Trigo. Silvana Roque, diretora da Terrimar, acredita que o número de ninhos vai aumentar nos próximos dias.
Das praias monitoradas, cerca de 14 são inacessíveis a pé. Por isso, a associação tem usado um bote para fazer a prospecção semanal, contagem de ninhos e rastros e organizar a base de dados.
Para esta, e outras ONGs, a poluição do mar com lixo é ainda um problema para a desova das tartarugas no país, pelo que todas as associações têm feito campanhas de limpeza e atuado na sensibilização de pessoas. Neste verão, em que há mais frequência de banhistas nas praias, o apelo é para a preservação.
Melhorias quanto à caça
No que diz respeito à caça de tartarugas, as associações acreditam que se t|em verificado avanços, uma vez que as pessoas estão mais sensibilizadas e as autoridades mais atentas.
“Temos tido uma diminuição da apanha, se comparado com a realidade de há 20 anos, mas ainda há muito que melhorar porque há ilhas com números altos de apanha”, acredita Silvana Roque, da Terrimar.
As praias de areia de Cabo Verde são o segundo local mais importante no Atlântico Norte para as posturas da tartaruga comum, e um dos mais importantes a nível mundial. A população de tartarugas marinhas “Caretta Caretta” de Cabo Verde é a terceira maior do mundo, sendo apenas ultrapassada pelas populações na Florida (Estados Unidos) e em Omã (Golfo Pérsico).
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 829, de 20 de Julho de 2022