A perda do controlo da viatura por parte do condutor e a quebra da alavanca de mudança de velocidade, terão levado o condutor a embater com o camião na rocha, para tentar pará-lo, resultando no acidente que ceifou a vida aos oito militares que participavam no combate ao incêndio na Serra Malagueta.
A conclusão consta do relatório do processo de inquérito, dado a conhecer esta quinta-feira, em conferência de imprensa, pelo chefe do Estado-maior das Forças Armadas, contra-almirante António Duarte Monteiro.
Conforme explicou, a investigação realizada por uma entidade externa avançou sobre três aspectos fundamentais, nomeadamente o factor humano (pessoa), material (viatura) e ambiental (estrada), para além dos depoimentos recolhidos dos militares que sobreviveram ao acidente.
Perda do controlo da viatura
O relatório aponta que a causa directa do acidente é a perda do controlo da viatura por parte do condutor, na sequência da alavanca se ter partido, associado a incorrecta avaliação situacional, que resultou na decisão de embater com o camião na rocha.
Como factor contributivo foi apontada a falha no procedimento de mudança da marcha do veículo e consequente perda do controlo do mesmo, após várias tentativas e que resultaram na quebra da parte superior da alavanca.
“Os dados apontam que ao perder o controlo da viatura e ter uma avaliação errónea na sequência de várias tentativas de alterar a marcha da viatura em que seguia, a alavanca partiu-se. Certamente terá entrado em pânico porque não conseguiu alterar a velocidade ou a marcha do veículo e decidiu de forma deliberada embater o camião na rocha para tentar pará-lo”, declarou o chefe do Estado-maior das Forças Armadas.
Camião não tinha anomalias
Segundo António Duarte Monteiro, os dados do relatório indicam que o camião que transportava os militares, oferecido pela China e cujo ano de fabrico é 2021, encontrava-se em condições operacionais de utilização aquando do seu empenhamento nessa missão, não tendo sido detectado, até ao momento do acidente, “nenhuma avaria” ou anomalia.
“Esta constatação ficou confirmada com os trabalhos de peritagem realizados no sistema de travão, direção e outros órgãos do veículo que não acusaram qualquer anomalia”, disse, adiantando que, inclusive, a caixa de velocidade do veículo acidentado foi colocada numa outra viatura, tendo funcionado normalmente.
Condutor habilitado
Por outro lado, adiantou que o condutor estava devidamente habilitado para a condução do veículo acidentado, pois possuía carta de condução nas categorias B, C e F, desde o ano de 2017.
Conforme acrescentou, a peritagem multissectorial é de entendimento de que a origem do acidente teve início na recolha de informações por parte do condutor sobre a via e na tardia decisão de efectivar execução em relação à curva e o necessário abrandamento da mesma.
“Esta falha na adequação da velocidade às condições da via, portanto, curva muito fechada e do veículo, comprimento de 8,5 metros e em relação ao peso que possuía, embora encontrava-se com menos peso do que daquilo que é permitido transportar, levou à perda de controlo do veículo, tendo o condutor decidido embater o veículo na rocha, contornando o declive da mesma, atingindo uma altura de 4,6 metros a partir da estrada e de seguida, capotar”, referiu, citando o relatório que vai ser publicado no site da Forças Armadas.
Recomendações às FA
O relatório apontou, igualmente, uma série das recomendações a serem adotadas pelas Forças Armadas, com vista a incrementar a segurança operacional nos meios de transporte terrestres.
De entre elas está a formação contínua dos condutores, incluindo a realização de exercícios teóricos e práticos baseados em cenários diversos, com vista a preparar os condutores a enfrentarem e reagirem com discernimento e sangue-frio a qualquer tipo de avarias com viaturas em movimento.
A implementação da formação de condução defensiva e evasiva, dotar as viaturas de transporte geral de melhores condições de segurança para o transporte de pessoal nas carroçarias, equipar as viaturas das forças armadas quando operacionalmente adequadas, com equipamentos de segurança e controlo são outras recomendações do relatório.
FA volta a refutar fome e cansaço
Durante a conferência de imprensa, o contra-almirante António Duarte Monteiro reiterou que não correspondem à verdade as informações veiculadas nos dias após acidente e que apontavam a fome e o cansaço como possíveis causas do sinistro.
A mesma fonte explicou que a equipa que teve o acidente tinha sido deslocada da cidade da Praia para substituir a outra equipa que já se encontrava no terreno, adiantando que os acidentados nem chegaram a trabalhar efectivamente no combate ao incêndio e estavam devidamente alimentados.
O acidente aconteceu no dia 02 de Abril deste ano e no total seguiam na viatura 31 militares dos quais oito perderam a vida e 23 ficaram feridos.
C/ Inforpress