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Sociedade

Kamal Hojeige: O libanês que descobriu Cabo Verde

É um dos homens de negócios mais influentes em Cabo Verde. Apesar das origens libanesas e de ter nascido no Senegal, Kamal Hojeige tem a nacionalidade cabo-verdiana, há mais de 20 anos. Conhecido pelas lojas Kyhm Negoce, espalhadas pelas ilhas, os seus negócios não se ficam pelo comércio. Exemplo disso é o Praça Center, no Palmarejo, do futuro edifício para o mercado do Sucupira, ou o prédio de cinco andares, no Platô, recentemente alvo de polémica, com ministro Abraão Vicente.

No caso do edifício do Platô, em conversa com o A NAÇÃO, Kamal Hojeige diz não levar muito a sério a indignação de Abraão Vicente sobre a demolição de um edifício dos anos 1950 (junto à Praça Alexandre Albuquerque), ele próprio «alvo de várias intervenções anteriores.» Considera que, na altura, o ministro «exagerou e quis mostrar serviço», nas suas intervenções, a propósito da sua classificação enquanto património protegido.

«Antes das obras, informámo-nos, naturalmente. Todo o Platô é protegido, como património arquitectónico, mas também é sabido que dentro do perímetro do Platô, nem todos edifícios são históricos. Há edifícios que não têm essa classificação, que estão fora deste âmbito, e que podem ser demolidos e reconstruídos. Foi o caso daquele que demolimos, para construir outro que, embora tenha mais andares, respeita a harmonia arquitectónica, como se pode ver no projecto.»

Para Kamal, todo o barulho foi por motivos políticos. «O grupo Kyhm Negoce é conhecido, se se fizer barulho à volta disso as pessoas vão falar. Mas foi tudo só conversa e vamos continuar o nosso trabalho.»

Parceria públicoprivada, CMP

A entrada de Kamal pelas obras públicas e alguma construção civil é relativamente recente, para além dos armazéns que foi construindo, ao longo do tempo, para os produtos importados, quando descobriu Cabo Verde, em 1993, na sequência da abertura política. Apesar de este ser um dos sectores da actividade económica mais pujantes, especialmente na capital, o empresário tem algumas reservas.

«Não podemos entrar em força em todas as áreas de negócio. Tenho muitos amigos empresários na construção civil e este é um país pequeno, não os quero melindrar. Mas é verdade que eu tenho um gosto especial pela construção, pela edificação, desde muito jovem», confessa.

Talvez por isso, o empresário tenha apresentado uma proposta para a renovação da praça principal do Palmarejo, a Óscar Santos, quando este ainda estava à frente da Câmara Municipal da Praia (CMP). O projecto tornou-se, entretanto, num modelo que outros municípios querem seguir.

«Mas aquilo que lá vê agora não foi fácil conseguir. Havia projectos, com os quais concorremos, que queriam construir edifícios de dez andares dentro do perímetro da praça. Depois, toda a oposição camarária ficou contra nós e bloquearam-nos, dizendo que não queriam um centro comercial na praça. Percebi que queriam apenas uma praça, como a do Platô. Mas, no final, vieram todos felicitar-me, incluindo a Janira [líder então do PAICV].»

O projecto acabou por mudar por completo a imagem desta zona do bairro e da cidade. E o que ganha a CMP e os munícipes da Praia com esta parceria? «Para começar, os custos de manutenção mensais do Praça Center», diz.

«Claro que há as lojas e as rendas que são pagas. Mas para ter uma ideia, as despesas com a limpeza, iluminação, segurança, etc., para manter uma praça destas limpa e com toda a vida que tem, vai parar aos 1600 contos mensais. E a Câmara não teria condições para suportar este encargo.»

A parceria estabelecida entre o Kyhm Negoce e a CMP vem de trás. Começou com outras obras de recuperação, como na Achada São Filipe, junto às falésias, que não tinha serventia nenhuma, e no bairro da Vila Nova. A proposta camarária, e o acordo estabelecido entre as duas partes, diz o empresário que começou há 30 anos por vender sandálias e artigo de plástico, era refazer toda a estrada. Faltava também calcetar e arranjar ruas do interior do bairro, num encargo avaliado em cerca de 40 mil contos. «Fiz a estrada, recuperei todo aquele espaço, como ele me pediu, pavimentámos a estrada, em centenas de metros, construímos casas de banho nalgumas casas e construí o centro Kyhm Negoce local, na rotunda de Vila Nova.»

Joaquim Arena

Confira a entrevista na integra na edição 820 do Jornal A NAÇÃO

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