O antigo edifício Bulimundo, que outrora acolheu um hospital psiquiátrico, na zona de Cutelinho, em Santa Cruz, vai ser reabilitado pelo empresário Albino Nunes, para dar lugar a um hotel de quatro estrelas, com 43 quartos. O projecto, orçado em 2.700.000 euros, contempla ainda a aquisição de um barco para fazer a ligação marítima Pedra Badejo/Maio, com capacidade para 90 lugares e sete toneladas de carga.
O investimento, apresentado este domingo, 07, vai contribuir, em primeiro lugar, para a geração de emprego em Santa Cruz, e, em segundo, para o aumento do número de quartos disponíveis no município.
Esta é a perspectiva do investidor cabo-verdiano Albino Nunes, que também explora o Hotel Falucho e o restaurante com o mesmo nome.
“Santa Cruz é uma cidade que tem tudo para o futuro. Hoje, cada vez mais, as pessoas estão a fugir da capital para virem viver nas cidades rurais e Santa Cruz tem tudo. Tem o mar, tem montanhas e tem pessoas boas. E é nessa expectativa que eu continuo a investir aqui neste concelho”, explica o empresário, radicado em França.
Quatro estrelas, 43 quartos
Orçado no valor global de dois milhões e setecentos mil euros, o projecto propõe um hotel de quatro estrelas, com 43 quartos, incluindo uma suite presidencial, áreas de lazer e social, acoplado ainda a um projecto de ligação marítima voltada para o turismo, entre a cidade de Pedra Badejo e a ilha do Maio.
“Pela experiência que eu tive, com a abertura do Hotel Falucho, as pessoas chegam aqui e em dois/três dias começam a ficar estafadas, porque não há alternativas. Então, tendo em conta que estamos a poucos minutos da ilha do Maio, tendo um barco, as pessoas podem ir de manhã e regressar no final do dia. Isto, tanto para os turistas externos quanto para os cidadãos nacionais”, sugere o empresário.
Junção entre o construído e o moderno
Para a materialização do projecto, explica o arquitecto Kévin Moreira, foi feito um casamento entre o construído e o moderno, preservando grande parte dos traços originais do edifício.
“Aproveitamos um edifício que já estava em elevado estado de degradação e que actualmente está sendo utilizado pelos bombeiros, órgãos de comunicação e algumas habitações. É um edifício de três pisos, sendo que a parte técnica, de cozinha e serviços ficam na cave e os outros pisos estão destinados aos quartos, dos quais uma suite presidencial”, explica.
As obras para a construção do hotel, que abarca ainda uma área social, de lazer e de estar, piscina para adultos e crianças e um bar molhado, devem arrancar em Setembro, com prazo de conclusão de 18 meses.
“Quem faz o desenvolvimento são os privados” – vice-primeiro-ministro
O vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças e do Fomento Empresarial, Olavo Correia, presente no acto de lançamento do projecto, sublinhou a importância de iniciativas do género, resultantes de parcerias de sucesso entre o Estado, através dos poderes local e central, e o sector privado.
“O Estado, central e municipal, tem a obrigação de criar as condições, criar o ambiente de negócios, criar um clima de investimentos bom para atrair privados e os privados devem investir. Investem, criam empregos, geram riqueza”, considerou o governante.
É através dessa parceria público-privada, sublinhou, que se consegue fazer avançar o país.
“Se conseguirmos multiplicar essa experiência em Santa Cruz, em Santiago e por todo o Cabo Verde, o país avançará. Cabo Verde precisa de investimentos privados, nacionais, nacionais na diáspora e investimento estrangeiros”, completou o ministro.
Olavo Correia destacou, inclusive, o facto de o empresário Albino Nunes ser um “exemplo de pragmatismo, confiança e comprometimento naquilo que diz”, tendo em vista outros investimentos já materializados no concelho.
Diversificação da oferta – Ministro do turismo
Por seu turno, o ministro do Turismo e Transportes, que também marcou presença no evento, saudou a iniciativa, que considerou ser importante, numa fase de diversificação da oferta turística, para incrementar, também, a procura.
“Este é um exemplo de investimento de um jovem emigrante que é tudo aquilo que nós queremos, que é continuar a apostar em trazer e atrair os nossos emigrantes, aqueles que estão lá fora, para investir nessas áreas. Por isso, nós vemos com muita satisfação, quando vemos um investidor, descendente de cabo-verdianos, a investir em Cabo Verde, mormente numa cidade como Pedra badejo, num município que não tinha a tradição do turismo mas começa a dar os seus primeiros passos”, frisou Carlos Santos.
“Vale a pena sonhar” – edil Carlos Silva
Para o presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz, Carlos Silva, este projecto, especialmente no que diz respeito à ligação marítima com a ilha do Maio, aparece como uma luz no fim do túnel e um sinal claro de que vale a pena sonhar com a retoma desta rota.
“A ligação Santa Cruz/Maio é o nosso grande sonho. E se calhar justifica sonhar porque nós já estamos a ver uma luz no fim do túnel. Se tudo correr bem, segundo o nosso empresário, a partir de Setembro estaremos a ter condições para a retoma da ligação”, frisou.
Tendo em vista a importância do investimento privado no desenvolvimento, o edil garante que Santa Cruz já tem essa consciência, tem estado a trabalhar neste sentido e, de algum tempo para cá, tem estado a colher alguns frutos.
“Temos o caso do restaurante Falucho, que é um património da Câmara, cujo contrato de concessão já completou os primeiros dois anos, com sucesso. A partir daí conseguimos negociar a reabertura do único hotel que o município tinha, que estava fechado há muitos anos”, exemplificou, acrescentando que a autarquia está a projectar mais investimentos neste sentido.
No mesmo dia em que se lançou o projecto, a câmara assinou um protocolo de 60 hectares de terreno para trabalhar a expansão urbana e para criar uma nova centralidade na zona Sul do município.
“O caminho certo” – Associação Turismo de Santiago
Para o presidente da Associação de Turismo de Santiago, Eugénio Inocêncio, este tipo de investimento, que envolve o interesse dos poderes públicos, central e local, bem como do sector privado e da diáspora, é o caminho para se alcançar o desenvolvimento.
“Há aqui um cruzamento de várias situações que são fundamentais para o desenvolvimento de Cabo Verde. Por um lado, a iniciativa privada, por outro lado, o Estado aqui representado pelo Governo e pela Câmara Municipal de Santa Cruz e, por outro lado, a diáspora. É a convergência de algumas das condições fundamentais para fazermos o desenvolvimento de Cabo Verde”, sublinhou.