Na hora de uma nova largada para outros voos, a TACV vai precisar de gente mais capacitada para mais uma aventura no sentido de fazer uma capitalização dos recursos dos contribuintes que vêm sendo drenados nessa companhia. Novos aviões e a recuperação de alguns certificados serão apostas de um novo Conselho de Administração misto, com estrangeiros e prata da casa. Os próximos meses prometem novidades.
O actual Conselho de Administração da TACV, presidido por Sara Pires, está com dias contados. A NAÇÃO sabe que, perante os novos desafios, o Governo está a trabalhar para dotar a transportadora nacional de uma equipa de gestão, com pergaminhos firmados.Ela será constituída por gestores estrangeiros e quadros nacionais.
A mudança na administração da TACV, conforme uma fonte bem posicionada, deverá ocorrer dentro de três meses, o mais tardar, coincidindo com uma eventual mexida no Governo, pós convenção do MpD, prevista para 26 de Maio.
A acontecer, tal mexida poderia contemplar a saída de Carlos Santos do executivo de Ulisses Correia e Silva. Este jornal sabe que o ministro do Turismo e Transportes, que perdeu a tutela dos transportes marítimos que passou para o ministro do Mar, Abraão Vicente, está a ser pressionado pela família para deixar o Governo.
Mais dois boeings
A nova administração vai entrar na TACV num momento viragem, com a companhia aérea a ser dotada de dois Boeings 737 Max 8, dois aparelhos com tecnologia moderna, capazes de garantir a ligação com os Estados Unidos da América (EUA).
Mas, para voar para esse país, a nova equipa directiva terá que fazer um trabalho árduo no sentido de renovar o certificado ETOPS e o certificado FAR 129. Este último foi suspenso por causa de incumprimentos vários com empresas fornecedoras de serviços, aeroportos e autoridades norte-americanas (TSA, aeroportos de Boston e Providence).
E também para recuperar o certificado IOSA, razão pela qual a TACV terá que ser submetida a um processo inicial de certificação. De referir que a TACV continua banida da IATA, por causa de dívidas em Itália, França, Brasil, entre outros.
Diante de tantos e importantes desafios, a ideia é que a próxima administração da TACV terá que ser formada por gente com conhecimento do mercado aeronáutico e capacidade de negociação para os problemas referidos, além de outros, que a actual gestão vem empurrando com a barriga.
Mesmo internamente, a TACV não tem conseguido cumprir. Neste momento está em risco de não ver renovada o seu AOC (certificado de operador aéreo) por um período de superior a seis meses. Anteriormente conseguia um AOC por 24 meses.
Em 2018 a companhia renovou o AOC por um período de 18 meses, em 2019 por 24 meses, voltando aos 12 meses em 2022 por incumprimentos e não-conformidades várias, correndo o risco da aeronave ser “grounded” pela Agência de Aviação Civil (AAC).
De acordo com um especialista o Governo, com a nomeação de um novo Conselho de Administração da TACV, com uma equipa mista de estrangeiros e nacionais, pretender-se-á fazer uma nova reestruturação, à semelhança daquilo que pretendiam com os islandeses.
Regresso (discreto) ao doméstico
Timidamente, a TACV vai regressando ao mercado doméstico, perante a incapacidade da Best Fly em fazer escoar passageiros de várias ilhas do país. A transportadora nacional fez um primeiro ensaio no carnaval, transportando passageiros da Praia para São Vicente e vice-versa, e, nesta semana fez, a pedido do Governo, fez dois voos. Um para São Vicente e outro para o Sal, neste caso, para o transporte de alunos que estão a participar nos Jogos Escolares que decorrem na cidade da Praia.
Esta “reentrada” na TACV no doméstico com o Boeing 737 acarreta, contudo, custos operacionais elevadíssimos. Ela foi ditada pelo facto de a Best Fly estar a operar há quase dois meses com apenas um ATR, porquanto, um avião dessa companhia de capitais angolanos está em terra com o motor avariado e um outro está em Toulouse, na França, em manutenção.
Contudo, segundo uma fonte próxima da Best Fly, a situação dos transportes aéreos inter-ilhas será normalizada a partir de 7 de Abril com a chegada do ATR que está em Toulouse. Perspetiva-se, igualmente, a entrada na frota do avião Embraer, que está, há mais de um ano, à espera da certificação por parte da AAC, o que para muitos não se justifica.
Porém, com o receio de a Best-Fly abandonar o país como fez a Binter, há quem defenda que a TACV deve regressar ao mercado doméstico, não só para garantir uma certa previsibilidade, mas também para quebrar o monopólio privado.
O nosso interlocutor lembra que a Best Fly está a fazer negócios com o Senegal, “com interesses absolutamente em conflito com os nossos, quando era suposto transformar a Best Fly numa parceira estratégica, com um hub com base em Cabo Verde, com vista o mercado da sub-região”.
Ou seja, a Best Fly “está a colaborar com um principal concorrente”, porquanto, “não tem nenhuma obrigação, tendo em conta que não existe nenhum acordo ou qualquer contrato de garantir a ligação das linhas nacionais”.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 813, de 30 de Março de 2023