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Qualidade de vida relacionada com a saúde (parte I)

Por: Débora Ferreira Pinto*

A Qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) é uma medida de auto-percepção da saúde e do bem-estar que abrange múltiplas dimensões: o funcionamento físico e social, as limitações de papéis devido a problemas físicos, emocionais, de saúde mental, da energia ou vitalidade, da dor e da auto-perceção geral de saúde. Isto faz com que a QVRS inclua relatos subjetivos de sintomas, de efeitos colaterais, do funcionamento em várias áreas da vida e das percepções gerais da satisfação e da qualidade de vida (QV).

Sendo a QV também  uma noção tão complexa e abrangente, não existe uma definição universalmente aceite, sendo influenciada por aspetos biológicos, comportamentais, sociodemográficos e culturais levando a uma falta de consenso na literatura sobre sua definição.

Os conceitos de QVRS e QV são frequentemente usados ​​de forma análoga, o que causa incongruências e dificulta a que alguns problemas permaneçam sem solução. Talvez se deva reconsiderar a distinção entre a QV e as medidas de estado de saúde, como o estado geral de saúde, os determinantes de saúde, as medidas de disparidades e de desigualdade e a qualidade de vida relacionada com a saúde, propriamente dita. Teoricamente, os aspetos da vida que vão além da condição de saúde, como disponibilidade de alimentos e água seguros, ou segurança, são chamados de QV. Por isso, designa-se a QVRS que também é um indicador subjetivo de saúde descrito como “a saúde física e mental percebida de um indivíduo ou grupo ao longo do tempo”.

É, também, uma medida crucial da saúde geral influenciada por fatores como o sexo, a educação, a ocupação e o rendimento do agregado familiar. O seu comprometimento tem sido associado à manifestação e aumento de intensidade de problemas emocionais, como a depressão, a ansiedade, a dor  crónica, a fadiga e o stress em alguns estudos.

Antes de ganhar relevância na classe dos profissionais de saúde, o conceito captou o interesse dos cientistas sociais, filósofos, gestores e políticos. Pois, para além do controlo dos sintomas, o aumento da esperança de vida e a diminuição da mortalidade têm gerado preocupações sobre a qualidade do atendimento público. O debate sobre qualidade de vida e a atenção que esta desperta são relativamente recentes. “Ter uma vida satisfatória” costumava ser a definição de qualidade de vida.

Atualmente, esta é definida como um indicador estatístico baseado numa multiplicidade de variáveis ​​relativas às circunstâncias de vida de um indivíduo ou população, como aspetos económicos, de saúde e ambientais. Esta mudança focou a atenção na carga de doença que essas patologias colocam nos pacientes, e nos sistemas de saúde nacionais. Este tópico faz emergir um amplo arsenal de opiniões de especialistas.

Na década de 1990, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu a qualidade de vida como “a perspetiva de um indivíduo da sua situação de vida em relação aos seus objetivos, aspirações, padrões e preocupações no contexto da cultura e sistemas de valores em que vive”.

As medidas de QVRS podem ser aplicadas em diferentes circunstâncias, desde a política nacional a um estabelecimento de saúde ou no núcleo familiar. Estimar o custo de procedimentos médicos e de assistência à saúde é uma das aplicações mais significativas. Também é necessário referir que ter os melhores institutos que prestem cuidados de saúde especializados não significa que a população de dado local tenha bons índices de qualidade de saúde.

*Jovem praiense, Licenciada em Medicina, Pós-graduada em Psicoterapia Cognitivo-comportamental e Especializanda em Psiquiatria clínica.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 811, de 16 de Março de 2023

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