O sector agrícola em Cabo Verde consumiu cerca de 4,6 milhões de metros cúbicos (m3) de água em 2022. Os dados constam do boletim hídrico, lançado recentemente, por ocasião do Dia Mundial da Água. Os números mostram ainda que o abastecimento de água domiciliária no país rondou os 4,1 milhões de metros cúbicos, em 2022 e que as nove barragens do país retiveram um volume útil de 917.500 m3.
Aescassez de água e a consequente sustentabilidade dos recursos hídricos, no acesso às populações, está plasmada no Objetivo 6 do Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, tendo como meta assegurar o acesso universal a água potável segura, saneamento e higiene, até 2030.
Aliás, alcançar ODS-6 em África é visto como um grande desafio pelos experts, quando os dados apontam que o continente tem feito menos progressos do que aquilo que era expectável, no que diz respeito ao cumprimento das metas para a água e saneamento. Inclusive, dados do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) revelam que os países africanos investem uma média de 0,5% do Produto Interno Bruto no sector da água.
Este é um dos temas a serem abordados na Conferência da Água da Nações Unidas (ONU) de 2023, que este ano coloca o foco no “Acelerar a mudança para resolver a crise de água e saneamento”, e que arrancou ontem em Nova Iorque e que se estende até esta sexta-feira,24.
70% dos alojamentos familiares com acesso à rede pública
Em Cabo Verde, os dados do boletim hídrico lançado esta quarta-feira, 22, Dia Mundial da Água, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que em 2021 havia 70% dos alojamentos familiares que tinham acesso à rede pública de abastecimento de água, contra 54% em 2010.
Contudo, quando analisado a população segundo a principal forma de abastecimento de água, que utiliza no agregado familiar, 66% diz que o faz através da rede pública, 12% com recurso ao auto-tanque, 8% recorre aos vizinhos e 6% garante ser através de outras formas.
No que diz respeito à utilização de água engarrafada para beber, a taxa rondava apenas 19% da população, em 2021, sendo que a maioria que o faz vive no meio urbano.
Agricultura consome mais água que os alojamentos
O boletim hídrico mostra ainda que o sector agrícola em Cabo Verde consumiu cerca de 4,6 milhões de metros cúbicos (m3) de água em 2022 e que o abastecimento de água domiciliária no país rondou os 4,1 milhões de m3, no mesmo ano. Estes dois acabam por absorver o maior volume de água explorada no país. Já no caso da indústria, este sector absorveu cerca de 505.534 m3 em 2022.
De notar que, no que toca às nove barragens que existem no do país, os dados do INE evidenciam que essas infraestruturas conseguiram reter um volume útil de 917.500 m3 de água em 2022. Relativamente à dessalinização da água, um dos principais métodos para abastecer a maioria da população nos centros
urbanos, as estatísticas revelam que em 2022 produziram cerca de 6,5 milhões de m3 de água (mais precisamente 6.512.722m3).
Saneamento – 17% dos alojamentos sem latrina, nem sanita
Quanto ao saneamento, os desafios persistem e será necessário ainda muito trabalho para o cumprimento dos ODS de 2030. Pelo menos, é o que os dados deixam transparecer, se tivermos em conta que em 2021 apenas 31% dos alojamentos tinham rede de esgoto, contra 19% em 2010. No que toca a fossa séptica, a percentagem era de 51% em 2021, mais 4% do que em 2010.
Se atentarmos a análise relativamente à população que vive em alojamentos com rede de esgoto, a percentagem rondava os 29% em 2021, a maioria no meio urbano.
No que toca à população que vive em alojamento que tem sanita ou latrina em Cabo Verde, os dados do boletim do Dia Mundial da Água revelam que 47% da população tinha sanita com autoclismo, em 2021, mas 36%, ou
seja, uma percentagem ainda elevada, tem sanita sem autoclismo.
De notar há ainda 17% da populaçãoo que vive em alojamentos sem latrina ou sanita, o que se pode depreender ser um indicador de pobreza e de pouca higiene e saúde pública.
Por fim, os dados mostram ainda que o número de estações de águas residuais em Cabo Verde tem aumentado, existindo 13 infraestruturas dessa natureza em 2022, mais três do que as que existiam em 2020.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 812, de 23 de Março de 2023