O cemitério de Nhagar, na cidade de Assomada, Santa Catarina de Santiago, que há anos enfrenta a falta de espaço para novas sepulturas, vê-se de novo associado a um suposto esquema de venda ilegal de covas, apesar de a venda estar suspensa, pela autarquia, desde 2017. O vereador Vladmir Brito diz desconhecer tal “esquema” e desafia por isso os denunciantes a apresentarem queixa, seja na Câmara Municipal, seja nas restantes autoridades judiciais.
O cemitério de Nhagar, em Santa Catarina de Santiago, volta a ser alvo de denúncias de venda ilegal de sepulturas. uma vez mais, as fontes deste jornal denunciam um suposto “esquema” de venda ilegal de sepulturas, levada a cabo por profissionais que trabalham no cemitério e com uma alegada anuência ou cumplicidade de “técnicos” da autarquia.
“O cemitério é um dos mais desorganizados de Santiago Norte”, diz um dos denunciantes. “Tirando o corredor principal, só se consegue circular por cima das campas, literalmente.
Agora, um fenómeno novo são campas privadas que surgem da noite para o dia, diariamente”.
Segundo esta fonte, algumas pessoas já se mostram receosas de que, dentro de pouco tempo, famílias mais humildes não conseguirão espaço para enterrar os seus familiares em Nhagar.
Por outro lado, diz também, sepulturas mais antigas (de 1800 e tal) e de privados, que ficam perto de uma capela no centro do cemitério, já dão sinais claros de violação. “Deduzo que brevemente deixarão de existir”, alerta a nossa fonte.
Para este munícipe, o estado em que se encontra o cemitério demonstra uma ausência total de fiscalização, com o “negócio” inteiramente nas mãos dos coveiros, com cumplicidade de “gente” da Câmara.
De referir, entretanto, que em Setembro de 2021 A NAÇÃO reportava que o cemitério de Nhagar estava a “rebentar pelas costuras”, dada a falta de espaço para novas sepulturas.
Na altura, a Câmara Municipal reconheceu o problema, e avançou que, ainda naquele ano, o cemitério iria receber obras de ampliação para sanar as limitações. O texto ressalvava, entretanto, que a edilidade estava ainda a negociar com a Igreja Católica, proprietária do terreno circundante.
Quase dois anos depois, uma fonte deste jornal diz que a referida negociação não andou, continuando o cemitério com o velho problema de espaço para novos sepultamentos. “A igreja pede muito dinheiro”, indicou.
Compradores seriam, na maioria, emigrantes
Apesar da informação oficial indicar que a venda de covatos está suspensa, por decisão da plenária da Câmara Municipal, desde finais de 2017/ início de 2018, a mesma fonte garante que a mesma está “mais acelerada do que nunca”. “Mármores para as campas são descarregados em camiões, à porta do cemitério, durante os finais de semana”.
Segundo diz, os compradores são, na maioria, emigrantes e “pessoal com dinheiro disponível”. “O certo é que o cemité- rio está cheio de campas novas e todas idênticas, o que pressupõe que sejam trabalhadas pela mesma pessoa”, complementa.
Investigação da Câmara não detectou irregularidades
Contactada, a Câmara Municipal de Santa Catarina, através do vereador Vladmir Brito (Ambiente e Saneamento), garantiu que a edilidade não pode precisar informação sobre a suposta venda ilegal de covatos. “Até porque”, como sublinha, “a concessão e a venda, em qualquer dos quatro cemitérios municipais, é devidamente estatuída por um regulamento próprio, o que é de conhecimento público”.
Entretanto, confirmou e reforçou que, realmente, em finais de 2017, início de 2018, a Câ- mara Municipal deliberou em plenária a suspensão da concessão e venda de covatos, tendo em conta a situação da falta de espaço no Cemitério de Nhagar.
Diante disso, desafia a quem souber da dita venda de covatos, que apresente queixa, devidamente fundamentada, ou seja, com facturas, sendo a sua condenação de interesse da Câmara Municipal.
“Portanto, da parte da Câmara Municipal, dizemos e repetimos: quem souber desta dita venda ou esquema ilegal de venda, como diz, que apresente a factura a quem pagou ou que denuncie quem são as pessoas envolvidas, quer à autarquia, quer às autoridades judiciais ou policiais, dado que qualquer situação criminosa que, eventualmente, envolva um servidor público, é, desde logo, relevante para o principal interessado, a Câmara Municipal de Santa Catarina”, garantiu.
Antes de responder às questões colocadas pelo A NAÇÃO, Vladmir Brito garantiu ainda que a Câmara procedeu a uma investigação, com meios próprios, da qual não teria resultado qualquer indício, mesmo fraco, de venda ilegal de covatos, que fundamente a denúncia.
Suspeições antigas
Esta não é, como antes referido, a primeira vez que o A NAÇÃO recebe denúncias de suposta venda ilegal de covas no cemitério de Nhagar.
Em 2021, Vladmir Brito, que falava a este jornal no âmbito de uma reportagem sobre o referido cemitério, apelou às famílias que pretendem comprar covas, para se dirigirem aos serviços da CMSC, nomeadamente à Direção de Ambiente e Saneamento, ou ao Gabinete Técnico, para se informarem sobre o que devem fazer antes de fazer qualquer tipo de negócio ou trabalho.
“Estamos cientes de que qualquer actividade humana está sujeita a riscos. Por isso lanço o alerta para fazermos as coisas como devem ser. Isto porque, quando as coisas não correm bem, procura-se culpar a Câmara Municipal”, disse, na altura, o vereador, admitindo que, “no passado”, houveram “casos de pessoas que alegaram terem comprado covas”, sem que, no entanto, conseguissem provar a compra, por não terem documentos emitidos pela Câmara.
“No meu mandato ainda não tenho conhecimento de nenhum caso do género, mas, se vier a acontecer, as responsabilidades serão assacadas. Não pactuaremos com ilegalidades”, garante.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 811, de 16 de Março de 2023