Aos 84 anos, Oswaldo Osório tem mais um livro de poemas, “Teresias II”, a ser lançado este ano, espera. Isto para mostrar que continua a escrever para manter ocupado o seu espírito, sempre atento às coisas que passam no nosso tempo e no nosso mundo.
Oswaldo Osório, de seu nome próprio Osvaldo Alcântara Medina Custódio, é um dos poetas mais conceituados da literatura cabo-verdiana, colega de geração de Arménio Vieira e Mário Fonseca, este já falecido. Aos 84 anos, apesar de cego desde 2004, continua activo e a escrever poemas por meio dessa sua nova condição humana.
Com a ajuda da esposa, Armandina, cada novo poema é ditado, lapidado, até dado por concluído e, por isso, como diz nesta conversa com A NAÇÃO, este “tem sido um trabalho a dois que continua a dar frutos”, além dos filhos e netos do casal.
“Teresias II” a caminho
O seu último livro, “Teresias”, data de 2019, portanto, antes da covid-19. Passaram-se quatro anos e Oswaldo Osório anuncia “Teresias II”, para dar continuidade à série de poemas sob o signo desse personagem da mitologia grega – Tirésias, profeta cego, que era considerado o maior e um dos mais notáveis adivinhos da mitologia grega.
O poeta, contista, romancista, dramaturgo e ensaísta, conta que este novo livro não foge à regra do seu processo criativo, nem à essência daquilo que costuma escrever, a sua preocupação com a relação “homem e o universo”.
“Esta nova série de 50 poemas falam das coisas que acontecem com tsunamis, catástrofes, guerras, coisas que passam no nosso tempo e no mundo. Mostra o homem vaidoso de si que se quer sobrepor aos outros com os pensamentos e acções sobre ‘eu sou melhor do que tu, sou mais valente’, um jogo patético que não deixa lhe ver que com isto tudo só está a prejudicar a si próprio. Não há humildade no homem nem nas nações. Tanto é que este livro é mais uma chamada de atenção sobre o que tenho escutado”.
Entretanto, confessa também, “se tudo correr bem, desde que haja financiamento, o “Teresias II” sairá neste ano, estando já pronto na fase de editoração. “Até compreendo as dificuldades financeiras para subsidiar uma publicação a esta altura, tendo em conta esta situação de crise que o mundo enfrenta por causa da Guerra na Ucrânia”.
Além da poesia, Oswaldo Osório diz que está a escrever o segundo volume da minha trilogia “As ilhas do meio do mundo”, romance publicado em 2016. “Vou escrevendo e, às vezes, o tempo sai-me curto”, finaliza o escritor homenageado no último Festival de Literatura realizado em Outubro de 2022, na Biblioteca Nacional, na cidade da Praia.
Oswaldo Osório, um dos fundadores de Seló
Osvaldo Alcântara Medina Custódio nasceu no Mindelo, ilha de São Vicente, a 25 de Novembro de 1937. Fez os estudos secundários no Liceu Gil Eanes e frequentou o seminário Nazareno de São Vicente. Antes de se interessar pela escrita, ou pela política, era um “simples empregado” de comércio e funcionário público.
Juntamente com Arménio Vieira, Mário Fonseca e Jorge Miranda Alfama deram-se a conhecer através de Seló, um suplemento literário, de vida curta, surgido no jornal Notícias de Cabo Verde, em 1962. Seguiram-se o serviço militar obrigatório, a política e a prisão, por causa da militância pela independência nacional.
“Caboverdeanamente Construção Meu Amor” foi o seu livro de estreia em 1975. Dois anos mais tarde, editou “Cântico do habitante, Precedido de Duas Gestas”. Depois disso, seguiram-se vários outros títulos, nos mais variados géneros, que ajudaram a sedimentar o seu nome como um dos poetas mais expressivos do seu tempo.
Aos setenta anos, escreveu e publicou “A Sexagésima Sétima Curvatura”, altura em que estava a adaptar-se à nova condição de vida. Uma doença hereditária que fez com que perdesse a visão desde 2004.
Depois da “Sexagésima Sétima Curvatura”, seguiram-se “As Ilhas do Meio do Mundo” e ainda “Teresias”. “Terasias II” está a caminho e poderá ser lançado ainda este ano.
Escritor reconhecido, Oswaldo Osório publicou, ao todo, onze livros, entre os quais um romance, um de contos e dois de ensaios, além dos poemas que lhe são característicos. Mas pela poesia, principalmente, que é mais conhecido, tendo a sua obra merecido a atenção de vários críticos e estudiosos no país e no exterior. Pela qualidade do seu trabalho é considerado um dos mais importantes nomes da literatura cabo-verdiana.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 807, de 16 de Fevereiro de 2023