Foi a enterrar ontem, na Praia, no cemitério da Várzea, Lídia da Conceição Caldas Pimentel Anahory Silva, carinhosamente conhecida por “Professora Lídia”. Professora de História, Lídia faleceu aos 81 anos, na Praia, na passada segunda-feira,13. Nas redes sociais multiplicaram-se as mensagens de pesar em homenagem a esta que foi uma figura incontornável do ensino e da educação em Cabo Verde, tendo contribuído para a formação de vários quadros cabo-verdianos, que tiveram a “honra” de serem seus alunos.
A “Professora Lídia”, como será eternamente relembrada, por todos, foi uma figura incontornável do ensino e da educação em Cabo Verde, uma referência, como distinguiram e homenagearam vários alunos seus, com mensagens de pesar nas redes sociais.
Tinha 81 anos e faleceu na cidade da Praia, a mesma cidade onde deu aulas de História, tendo passado pelas suas mãos vários alunos nos Liceus Domingos Ramos, Plateau, da Várzea, e Pedro Gomes, na Achada de Santo António.
O gosto pela História
Entre as várias mensagens de “adeus” à “querida professora Lídia”, destaca-se a do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, da Defesa Nacional e da Cultura, Jorge Tolentino, aluno dela, como escreveu, há mais de 40 anos, no Curso Complementar do então único Liceu da ilha de Santiago, o “Domingos Ramos”.
“Nesses tempos de desafios vários, sobretudo nos domínios da Educação, a Professora Lídia soube transmitir o gosto pela História, a universal com certeza, tal como impunham os currícula, mas sobretudo pela História de Cabo Verde em cujos rudimentos nos iniciou. A escassez de material didático era real, mas ela teve a entrega e o empenho necessários para nos guiar por uns textos policopiados, essencialmente coligidos da obra-referência de António Carreira. E o mote era, com toda a simplicidade e envolvência pedagógica, ‘vamos lá descobrir a História deste nosso Cabo Verde’”, escreveu.
Esta figura, que “sempre abraçou estas ilhas”, recorda Tolentino, “deu o melhor que tinha a dar, na frente de combate que era a sua, a do Ensino”.
Naquele tempo, prossegue, “sentia-se que a sala de aulas era o mundo para o qual ela se renovava a cada aula, sempre bem disposta”.
No pelotão dos professores que ajudaram a escrever as primeiras páginas da Educação
“A Professora Lídia faz parte, sem favores, do pelotão de Professores que ajudou a escrever as primeiras páginas, notabilíssimas de resto, da Educação no Cabo Verde independente. Para cá desses tempos do Liceu, a amizade manteve-se e, sempre que nos fomos encontrando, ora no Plateau, ora na Achada de Santo António, ora numa peça de teatro no Centro Cultural Português, a conversa corria solta e com tiradas bem humoradas. Sabia rir e ria com gosto”, enalteceu.
Também a ex-ministra da Educação, Fernanda Marques, em reacção a este post de Jorge Tolentino, que é actualmente Chefe da Casa Civil do Presidente da República, escreveu: “Que bonita homenagem! A uma Mulher guerreira que tive o privilégio de conhecer nos anos 80 num curso COFORPALOP no Tarrafal.
Igualmente a ex-Inspectora Geral da Educação, Clara Marques, lembrou as “conversas” que “eram longas” sempre que se encontravam, em que “o tema era sempre o mesmo, a Educação de ontem e de hoje … das aprendizagens dos alunos”.
No seu rol de alunos, houve também jornalistas. Luís Carvalho, da Inforpress, foi outro que deixou uma homenagem à professora Lídia, quando frequentou o Liceu Domingos Ramos, o único na altura para toda a Região de Sotavento.
“Sempre que nos encontrávamos, ela arranjava um tempinho para trocarmos dois terços de conversa para lembrar que os alunos da minha geração nada têm a ver com os de agora, recorda, para citar a antiga docente de História. “Vocês eram mais estudiosos e mais bem comportados”, dizia a professora Lígia, recordando, como escreveu Luís Carvalho, que, nessa altura, “não havia internet e os alunos esforçavam-se mais”.
O último adeus à professora Lídia aconteceu ontem, na Praia, no cemitério da Várzea, rodeada de familiares e amigos, na certeza que o seu legado e contributo para o ensino e educação em Cabo Verde permanecerá vivo.