Já se contam os dias para o “grande desfile” de Carnaval em São Vicente. Depois de dois anos sem desfiles oficiais, devido à pandemia, os grupos do Mindelo prometem “o melhor desfile”, não obstante a conjuntura económica actual. Os enredos já foram apresentados e os trabalhos de preparação do “Dia D” já arrancaram com a confecção de trajes, carros alegóricos e muito samba no pé. Este ano os desfiles estão previstos para à noite, o que não satisfez muitos dos mindelenses.
Batucada, mandingas e muito samba no pé. É este o clima que tem invadido São Vicente no último mês e que se intensifica agora, em Fevereiro. Depois da suspensão imposta pela covid-19, os foliões mostram-se ansiosos para voltar a pisar o “sambódromo”, exibir o brilho, espontaneidade e o carisma característico do carnaval mindelense. Os grupos oficiais já estão organizados.
O “Flores do Mindelo” será o primeiro grupo a pisar a Rua de Lisboa no dia 21. O grupo vai apresentar ao grande público o renascer num voo, retratando o “voo turbulento” da Fénix com o enredo “quem tem duas caras, uma máscara não coloca”, uma criação de Edson Paulo.
Aliás, como diz o autor, o enredo retrata a própria história do grupo que diz ter brilho e cor e todos os anos renasce no Carnaval, apesar dos problemas que tem afetado o grupo.
Já o “Estrela do Mar” vai levar cerca de 800 figurantes para a avenida e diz estar a trabalhar para conquistar o título. Focado nas questões ambientais, o enredo aborda a urgência da conscientização para salvar o planeta “das ações egoístas” do homem. O grupo vai apostar em três carros alegóricos, assim como o grémio “Cruzeiros do Norte”, que ainda acrescenta mais três tripés ao desfile.
Preparados para o show
Com o tema “Três Koza Sab na Vida – dinheiro, saúde e amor”, os Cruzeiros do Norte querem mostrar ao país, através de 17 alas e 1400 foliões, que é preciso de tudo um pouco para ser feliz. “Depois de todo este período difícil estamos preparados para dar um bom show”, diz o presidente do grupo, Jailson Juff.
O Monte Sossego, ou Montsú, será o último grupo a pisar no sambódromo do Mindelo para fazer a releitura do poema de Onésimo Silveira “Um poema diferente”. Assim, o grupo ousou escolher como enredo “o povo das ilhas ainda quer um poema diferente para o povo das ilhas”.
“Entendemos que neste momento Cabo Verde está numa situação difícil com várias circunstancias e o povo ainda quer um poema diferente”, faz referência o presidente do grupo, António Duarte, aos problemas sociais e as vulnerabilidades enfrentadas pelos cabo-verdianos.
Campeã da última edição do Carnaval, em 2020, Monte Sossego, vai levar à Rua de Lisboa até 1800 figurantes para darem vida ao enredo.
Para todos os grupos os ensaios já arrancaram, assim como a confecção de trajes e dos carros alegóricos que está a todo o vapor para que tudo esteja pronto a 21 de Fevereiro para abrilhantar as ruas do centro da cidade do Mindelo.
Desfiles à noite sem consenso
Para a edição deste ano do Carnaval do Mindelo, a LIGOC optou, juntamente com os grupos, por desfiles noturnos, a partir das 18:30. O presidente Marco Bento diz que o Carnaval do Mindelo precisa dar um salto qualitativo. “Quando os grupos saem à noite com os andores iluminados, há mais esplendor”, explica.
Segundo diz, o desfile vai decorrer num horário aceitável, visto que o último grupo deverá entrar no sambódromo pelas 20 horas. Assim, Flores do Mindelo inicia o desfile pelas 18h30, seguido de Estrela do Mar, Cruzeiros do Norte e Monte Sossego, com um intervalo de meia hora entre os grupos. O Carnaval 2023 será aberto pelas 18 horas com uma homenagem a falecida empresária Lily Freitas, ex-presidente do Vindos do Oriente.
Observatório da Cidadania Ativa pede “bom senso”
Muitos mindelenses ficaram insatisfeitos com a decisão de desfiles noturnos e tem pedido a LIGOC para reconsiderar a decisão. O Observatório da Cidadania Ativa, por sua vez, diz que o novo horário dos desfiles condiciona o acesso do povo à cultura.
O observatório frisa que os grupos deveriam pensar no público infanto-juvenil, nas pessoas idosas e nos cidadãos que moram em zonas afastadas da cidade, antes de terem tomado a decisão, tendo em conta questões relacionadas com a segurança.
Neste sentido, reforça que os poderes públicos, nomeadamente a Câmara Municipal, tem o dever de assegurar que todos os cidadãos tenham o direito de acesso à cultura.
Samba Tropical homenageia fundadora
A Escola de Samba Tropical vai homenagear a fundadora e presidente de Honra, Luísa Morazzo, no desfile de segunda-feira de Carnaval. A renomada escola de samba tem como enredo “reviver o passado é celebrar duas vezes uma história de gratidão na voz de quem a construiu”.
É exactamente a trajetória do Samba Tropical que Luísa Morazzo, Imperatriz do Carnaval, ajudou a construir e o amor incondicional por esta arte que o grupo carnavalesco quer contar, retribuindo assim a dedicação, amor e lágrimas.
A homenageada desta edição, por sinal, lembra das dificuldades que fizeram parte do crescimento do grupo e do “bom caminho” trilhado pelo grémio para que se tonasse naquilo que é hoje, uma referência do Carnaval do Mindelo e do País.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 805, de 02 de Fevereiro de 2023