O ex-presidente do conselho de administração da Radiotelevisão Cabo-verdiana (RTC), Policarpo de Carvalho, indiciado da prática de agressão à esposa, denunciou, esta Segunda-feira, 16, a existência de “casos muito mais terríveis” de Violência Baseada no Género (VBG) no Governo liderado pelo primeiro ministro, Ulisses Correia e Silva (UCS).
Policarpo de Carvalho fez estas denúncias na sequência das declarações à imprensa esta Segunda-feira, ocasião em que pediu a demissão do cargo presidente do conselho de administração da RTC, para aguardar a decisão final da justiça sobre o caso de alegada agressão à sua esposa tornado público pelo online Santiago Magazine.
“Se enveredarmos por esta via, há casos muito mais graves, há elementos do Governo que estariam demitidos e indiciados por casos muito mais terríveis”, denunciou Policarpo de Carvalho, acrescentando que o que lhe está a acontecer “foi uma armação” dos seus “inimigos no Governo”.
Numa clara alusão às declarações do primeiro-ministro, de que situações que indicam crimes da VBG “não casam com a presença à frente de uma instituição como a RTC”, Policarpo de Carvalho, discordou de Ulisses Correia e Silva, considerando que não deveria haver nenhuma “proposta” do Governo quando está ainda “a braços” com a justiça para se esclarecer um caso, em que nada foi confirmado.
Recorde-se ainda que, quando instado, hoje, a pronunciar-se sobre o caso, o primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva acrescentou que cabia à Comissão Independente da RTC tomar uma posição a continuidade de Policarpo de Carvalho à frente da rádio e televisão públicas.
Notícia sobre agressão não faz menor sentido, diz Policarpo de Carvalho
Nas declarações à imprensa em que pediu a demissão do cargo de presidente do conselho de administração da RTC, Policarpo de Carvalho negou que tenha agredido a esposa durante uma recente viagem à Europa, facto que, conforme A Nação constatou, foi confirmado, hoje, Segunda-feira, pela sua esposa, Ester Carvalho, durante uma conferência de imprensa na Cidade da Praia.
“É triste que neste país, quando há famílias com capacidade real, as pessoas tentam aniquilar. Fui para Europa com a minha família, passamos as férias entre Portugal, Bélgica, Holanda e Alemanha e voltamos na tranquilidade”, explicou Policarpo Carvalho.
“Em nenhum momento fui agredida pelo meu marido, mormente durante as nossas férias na Holanda, de 23 de Dezembro a 04 de Janeiro, que correram muito bem “, disse Ester Carvalho, ao esclarecer o caso de crime de VBG, a que o marido é indiciado.
Ester Carvalho confirma caso na justiça para averiguação
Entretanto, Ester Carvalho admitiu que há um caso de “desentendimento familiar”, que aconteceu no passado, na alçada da justiça para averiguação e que estão à espera do pronunciamento dos tribunais.
“O caso está na justiça para averiguação e, portanto, estamos a aguardar serenamente para uma decisão das situações que ocorreram no passado, não na Holanda”, acrescentou Ester Carvalho, reiterando que em “nenhum momento” foi agredida naquele país.
Instada a esclarecer sobre essas “situações que ocorreram no passado”, precisou que se trata de “divergências em termos de pensamento e acção” e que a levou a “socorrer em outras entidades”.
“Houve uma situação de desentendimento familiar, em que, efectivamente, o processo está nos tribunais para o seu devido pronunciamento, mas nego veementemente que fui agredida durante as férias”, frisou Ester Carvalho, garantindo que nunca foi agredida fisicamente pelo marido.
Alegada prática de três crimes de VBG
Segundo uma fonte judicial citada pela agência cabo-verdiana de notícias, Inforpress, Policarpo de Carvalho, que foi presente no Sábado, 14, ao tribunal, está a ser indiciado da prática de três crimes de Violência Baseada no Género (VBG) agravado.
O Ministério Público terá ordenado a detenção de Policarpo de Carvalho na sequência de uma denúncia feita por familiares e pessoas próximas da esposa.
De acordo com o ‘online’ Santiago Magazine, o presidente da RTC chegou recentemente de uma viagem com a esposa, durante a qual terá agredido a companheira, situação que levou os familiares da esposa a procurarem as autoridades para denunciar Policarpo de Carvalho, que acabaria detido pela Polícia Nacional.
O Ministério Público determinou a proibição de permanência de Policarpo de Carvalho na casa de morada de família, proibição de contacto e aproximação da vítima e apresentação periódicas às autoridades.