Nesta época do ano é tempo de recordar Fulgêncio da Circuncisão Lopes Tavares, mais conhecido por “Ano Nobo”, nome maior na história das artes em Cabo Verde e, mais particularmente, da música cabo-verdiana.
Fulgêncio viu a luz do dia em Lém-Pereira, S.Domingos, no primeiro dia de 1933. Havia festa nessa noite em casa da sua avó Fidjinha Mendonça, para celebrar a passagem de ano e a orquestra tocava a todas as cordas e sopros para animar o baile.
Vicência, sua mãe, tinha vindo ajudar a mãe nos preparativos da festa, apesar do seu avançado estado de gravidez. Passava já da meia noite quando Nha Fidjinha foi anunciar o nascimento: “Dja nu ten un Ano Nobo!”
Foi assim que nasceu o nome que Fulgêncio da Circuncisão Lopes Tavares carregou até à morte, em 14 de Janeiro de 2004, além da profecia da parteira Machinha Ferreira que profetizou: “Será um músico, como os seus antepassados!”
E por ser na realidade descendente de uma geração de músicos insignes (neto de Pipí – maestro da Banda Municipal da Praia entre 1914 e 1930), Ano Nobo cumpriu a profecia.
A sua própria mãe Vicência era também apaixonada pela suprema arte, pois foi ela a ensinar ao Ano Nobo os primeiros acordes no violão.
A queda natural de Ano Nobo para os instrumentos de corda fez com que dominasse a guitarra clássica e o cavaquinho, mas a dar também um “djeto” no bandolim, na guitarra portuguesa e mesmo no violino.
A vida de compositor de Anu Nobu começou por volta dos anos 50, na Achada de Santo António, com a morna “July“ que viria a ser gravada pelo falecido Frank Mimita.
Pela mesma altura, compôs a sua primeira coladeira, “Ta Pinga Tchapo-Tchapo”, que viria a ter grande êxito, pois foi cantada e gravada por Bana, Ildo Lobo e o conjunto “Os Tubarões” e ainda Gardénia Benrós.
Ano Nobo também escreveu peças de teatro, interpretada normalmente por jovens de São Domingos.
Desde então, a sua veia de poeta e compositor não mais deixou de produzir, contando-se por mais de quatro centenas as suas composições, entre mornas e coladeiras, mas também merengues, sambas, mazurcas, funanás, marchas, valsas, hinos religiosos e ainda músicas de “batuku” e de “tabanka”.
Muitas das suas músicas ganharam projecção nacional e mesmo internacional, pois foram interpretadas e gravadas em disco por artistas como Dany Silva, Zeca di Nha Reinalda, Maria de Barros, Mariana Ramos, Maria Alice, Manel di Candinho, além de outros antes citado.
Entre as composições de maior sucesso do Ano Nobo estão os temas “Adelaide”, “Linda”, “Lolinha”, “Falsia di Tanha”, “Ta PingaTchapo-Tchapo”, “Baíno”, “Ressana Godim” ou “Camarada Pépé Lope“.
Ano Nobo faleceu aos 71 anos a 14 de Janeiro de 2004, deixando além de um legado artístico, 18 filhos, entre eles, outros que seguram também a carreira de músico.