Por: Filinto Elisio
A rutilância do novo-riquismo político (mórbido perante o património) revela como isto falhou. Falhou o Plano de Salvaguarda do Plateau. Venceu o mau gosto, o verskitchen e o pastiche. Venceu a triste putrefação da bicharia, a sua tradução pelos escombros de um dos sobrados mais emblemáticos do Planalto da Praia de Santa Maria. Aqui da minha margem, apelo à ação cautelar, à denúncia e à insurgência. A bicharia que nos ocupa, impunemente sem arte, uma pornografia…quiçá ad infinitum!Menos, pessoal
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Devagar com esse andor que o santo é de barro. Poupem-nos a vergonha alheia dos lives, likes & outras alcagoitas. Grande era Amílcar Cabral que se definia “sou um simples africano”.
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T. S. Eliot, poeta muito para além dos punhos de renda, dizia que a sabedoria era a humildade. Leonardo Da Vinci, que aqui dispensa qualquer encómio, decretou que a simplicidade era o último grau da sofisticação.
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Não sei o que me leva a trazer a questão da arrogância para esta despretensiosa nota. Se calhar, depois de ler o arrazoado de um dos deuses da esquina que, ao espelho mágico da rede social, se acha o eleito no Olimpo e põe-se a pregar, do púlpito do ridículo, como devemos ser, estar e fazer Arte.
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O novo-riquismo destes deuses cansa. Incharam-se no ar de ego leva ao risco de explosão aparatosa ou de tudo se acabar para o galheiro. Que me seja permitido este finzinho de poema de Fernando Pessoa:
(…)
Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca…
Ou este arranque singelo do nosso Jorge Barbosa (ah, poesia…):
(…)
Eu queria ser simples naturalmente
sem o propósito de ser simples.
Saberia assim sofrer com mais calma
e rir com mais graça.
Saberia amar sem precipitações.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 777, de 21 de Julho de 2022