A estilista cabo-verdiana, Angela Brito, radicada no Brasil há mais de duas décadas, abriu ontem o penúltimo dia do São Paulo Fashion Week. A cabo-verdiana teve a atriz Camila Pitanga a desfilar para si, num vestido branco, feito à mão, como vem sendo característico da sua marca. Os seus modelos e tendências, entre o minimalismo e a tradição, foram muito elogiados pela imprensa brasileira. Desde 2019 que Angela Brito leva as suas criações ao evento mais importante de moda da América Latina. Tendo um vestido branco usado pela conhecida atriz Camila Pitanga como destaque, a cabo-verdiana Angela Brito, natural de Santa Catarina de Santiago, voltou mais uma vez a brilhar com a sua coleção nas passarelas do São Paulo Fashion Week. Como cita a Folha de São Paulo, Angela Brito tem se valido do “imaginário do seu país de origem” para “unir a tradição e a vanguarda” nas suas peças feitas à mãos. Um pormenor que voltou a saltar à vista, no vestido branco que a atriz desenhou e que ganhou ainda mais vida no corpo de Camila Pitanga, uma das actrizes vestidas, actualmente, por Angela Brito.
Nas suas redes sociais, Camila Pitanga enalteceu a importância do desfile de Angela Brito para a causa das mulheres negras. “Nós mulheres negras temos muito o que dizer, mostrar e reluzir. Adoro essa ideia, muito inspirada no desfile de @angelabritobrand. Ela nos colocou aqui como joias, força e potência. A estrangeira [tema da coleção] é sobre não se adaptar a um lugar destinado, é sobre querer inaugurar algo novo. E é este o meu desejo”, escreveu.
“Que honra fazer parte desse momento e movimento”, finalizou a actriz e modelo, enaltecendo que o desfile de Angela Brito foi “pura magia e ancestralidade”.
Dar azo às memórias de Cabo Verde Conforme o site da marca Angela Brito, a ligação que a estilista, que desde 1994 está radicada no Brasil, mantém com o seu país de origem tem sido sempre valorizada e de “grande importância”, já que suas “construções identitárias e imagéticas partem das memórias que cultivou em seu lugar de origem”.
Em 2020, inclusive, Angela Brito apresentou a colecção “Panu di Terra” na no São Paulo Fashion Week, tendo a questão da identidade como foco.
Contudo a tradição nunca foi uma barreira para a estilista cabo-verdiana que se considera uma “cidadã do mundo”. Lançou-se a “viver experiências” em outros lugares como Lisboa e Rio de Janeiro, onde atualmente reside, bebendo naturalmente dessas influências, sem perder a base. “Em sua trajetória, seu desejo pela moda caminhou desde cedo atrelado à busca de se compreender como indivíduo”, destacam. Apesar de ter estudado e trabalhado na área tecnológica, durante um tempo, a sua auto-realização falou mais alto e em 2014 criou a marca Angela Brito.
Sobre a marca
Ainda segundo o site da estilista, o design é inspirado na reinvenção das imagens vivas em suas memórias cabo-verdianas, e é pensado como lugar de diálogo entre tradição e vanguarda, onde continuidade e inovação se movem paralelamente.
A marca tem como interesse gerar novas percepções e possibilidades a partir de um relacionamento sustentável com as experiências e modos de vida daqueles que, com a marca, se identificam e desejam consumir um produto local feito a mão no atelier.
A marca cria peças minimalistas, mas fortes, para mulheres contemporâneas que querem se expressar através de um vestuário que conte uma história honesta e real.
Recentemente em Cabo Verde No final do ano passado, Angela Brito esteve inclusive uns meses em Cabo Verde. Numa entrevista ao site Balai, recordou com orgulho a sua estreia na São Paulo Fashion Week (SPFW), em 2019. “Fui a primeira estilista negra a fazer parte do line up oficial do SPFW, estava entre os melhores do país e da América Latina e a marca ganhou visibilidade”, recordou, a cabo-verdiana que teve na mãe uma das maiores inspirações, pois ela tinha uma máquina de costura.
“Apesar de não ser costureira, a minha mãe gostava de costurar e tinha uma máquina de costura e revistas de moda em casa. Os meus pais sempre me deram todo o material que puderam”, lembrou.
Hoje, volvidos todos estes anos, a sua luta, persistência e talento valeram-lhe uma distinção entre as 100 Personalidades Negras Mais Influentes da Lusofonia em 2021.