Rivaldo Alexandre Almeida Pires, “Riv” no mundo artístico, é um jovem salense que divide o seu tempo entre a música e o design. Em entrevista ao A NAÇÃO online, abre-nos as portas do seu mundo e fala-nos dos seus projectos e mensagens da sua música, assim como os desafios de ser um jovem à procura do seu caminho.
Nascido a 15 de junho de 1999, Riv mostrou desde cedo talento para a arte. Filho de pais salenses, Riv descreve-se como “mais um menino sonhador” e revela que, quando criança, “não se encaixava muito bem” com as outras crianças da sua idade, o que gerou alguma revolta.
Revolta essa que Riv, sublinhou, ter sido algo “crucial” para termos o Riv de hoje. Aos 23 anos, o rapper afirma ter sido uma criança que cresceu um bocado “sozinha”, mais ligado aos videojogos e a documentários, pois nunca sentiu vontade de estar em ambientes onde não se encaixava.
Mas, segundo conta, sempre foi um amante da escrita e, desde tenra idade, gostava de escrever sobre as suas revoltas, dúvidas e situações com as quais não se identificava.
“Sempre gostei de escrever, no início não eram composições musicais, eram somente desabafos, mas aos 16 anos houve uma mudança, decidi passar a compor músicas que retratavam, basicamente, situações que eu via e sabia que não estavam certas, como, por exemplo, a forma como as pessoas eram insensíveis e más umas com as outras e o que eu sentia” explica o artista.
Riv, que está a dar os primeiros passos na sua carreira artística, revela que “demorou” em gravar e lançar algumas das suas composições porque “não pensava em ser um rapper ou cantor”.
A escrita, segundo revela, “era o meu refúgio e a minha maneira de falar. Não sabia falar aos outros o que sentia, mas sabia falar comigo mesmo e colocava tudo isto no papel”.
A chegada a Portugal
Rivaldo emigra para Portugal com 18 anos para continuar os estudos superiores e ingressa no curso de arte e design no Instituto Politécnico de Bragança. A adaptação a este novo ambiente, segundo revela, foi tranquila pois “já conhecia alguns colegas que lá estavam, as minhas irmãs viviam lá e tinha muitos colegas que vieram no mesmo ano que eu”.
Em Portugal, a escrita continuou a ser fundamental para o rapper e diz-nos que, passado algum tempo, acabou por sentir a mudança “na pele”, pois começou a sentir-se, novamente, um “outsider”, não se encaixava e não tinha os mesmos objectivos e metas que os outros.
“Decidi afastar-me um pouco, refugiei-me na escrita/música e com o tempo passei a explorar outros temas, a diversificar mais, tinha outros conteúdos”, recorda Rivaldo.
O encontro de Riv com a produtora Four4 Music
Eis então que se dá o encontro com a Four4, uma produtora que viria a mudar o seu percurso.
“Sou designer gráfico e na altura estava a atuar como freelancer, a produtora precisava de um designer e os nossos caminhos cruzaram. O manager, Admar, foi quem entrou em contato comigo para prestar serviços de design”.
Na altura, recorda, a produtora estava ainda em processo de crescimento. “Tive a ideia de propor ao manager que faria os serviços de design e, em troca, poderia gravar algumas das minhas composições, não para serem lançadas, eram somente para mim”.
A Four4 music é uma produtora jovem, que trabalha com artistas de Cabo Verde, como é o caso dos rappers CESF e Jey B e que têm trazido uma sonoridade e composições muito interessantes explorando o hip hop, rap, trap e outros estilos e influências.
Riv conta-nos que trabalhou como designer gráfico para a produtora durante um ano e diz que tinha medo de ir ao estúdio de gravação. Mas um dia o rapper CESF o convidou para ir ao estúdio de gravação e após ver algumas das composições de Riv, como uma intitulada “Bipolar”, CESF decidiu pedir ao manager da Four4 para integrar o jovem na firma, não só como designer mas agora também como artista/rapper.
Assim começa a aventura de Rivaldo no mundo da música. De lá pra cá já gravou dois singles, o de estreia chamado “Corre” e outro com participação da artista Dannie Ferreira denominado “Ne pa bai”.
Além disso o rapper salense já participou nos projetos “voz e versu 1” e “voz e versu 2” da Four4, obtendo muito sucesso entre o público, um projeto que junta vários artistas de sonoridades, estilos e vozes diferentes.
Fontes de inspiração
O rapper revela que, tanto no design, como na música tudo pode ser motivo de inspiração, para uma nova composição ou para um novo trabalho gráfico.
“Quando se aprende a ser observador e analisar o ambiente ao teu redor qualquer coisa pode ser fonte de inspiração”, revela.
Ultimamente Riv tem explorado temas mais do foro social, dos problemas que afetam os jovens e a sociedade como é o caso da problemática das drogas, do abandono escolar, machismo, suicídio. Segundo Riv, são problemas e situações que têm acontecido à sua volta e não pode deixar de os trazer à tona.
Riv diz ter em curso um conjunto de composições que abordam somente temas sociais e pensa em lançar, brevemente, um projecto inteiramente voltado para essas temáticas.
O primeiro single e o projeto “Voz e Versu”
“Corre” o primeiro single de Riv, foi lançado a 17 de abril de 2021 e nesta música o artista explorou mais “trap” ou “drill”, ambos estilos que estão em alta entre os jovens.
“O corre foi gravado meio à toa, nunca tinha feito um drill mas depois de ver uma live do rapper Mark Delman sobre a música “pode bem” pensei em fazer algo explorando o mesmo género”, explica Riv.
Rivaldo apareceu, pela primeira vez, no mundo da música no projeto “Voz e Versu 1” juntamente com artistas muito conhecidos como CESF, Mark Delman, Ritxa Kursha, Lucy Monteiro e Renata Santos.
“Voz e Versu 1” já conta com mais de 640 mil visualizações no youtube e teve uma ótima aceitação entre o público sendo, inclusive, um dos nomeados para os Cabo Verde Music Awards na categoria melhor colaboração no ano de 2022.
“Depois do voz e versu, muitas pessoas mandavam-me mensagens, vários comentários positivos, o feedback foi incrível…Foi uma surpresa para mim e para pessoas próximas, pois, muitas delas, inclusive amigos de longa data, não sabiam deste meu lado e, quando lancei o “corre”, não foi diferente, mesmo trazendo uma outra sonoridade e uma outra vibe”, afirma o rapper.
Riv diz que participar nos projetos “voz e versu 1 e 2” foi “incrível,”, pois, foi um começo “estonteante”. “Foi uma experiência muito enriquecedora, acabei por aprender a trabalhar com outros artistas, tive a honra de trabalhar com artistas que já admirava e a cada feedback e orientação era uma forma de me moralizar a continuar”, sublinhou.
O rapper afirma que gostou do ambiente do estúdio, com muitos artistas a trabalharem juntos e a troca de ideias que ocorre.
“Ne pa bai”
O segundo single do artista, denominado “Ne pa bai”, feito em colaboração com a artista Dannie Ferreira, chegou aos ouvido do público em maio de 2022 e mostra uma outra vertente do artista, uma música mais suave, com uma letra mais romântica mas sem fugir do rap que lhe é característico.
Riv explica que quando estava a escrever a música queria ter uma voz feminina, então começou à procura de artistas que poderiam fazer esta colaboração e trazer este projeto à vida foi então que, com recomendação de amigos, surgiu o nome da Dannie, apresentou-a a ideia, ela aceitou e assim começaram a trabalhar.
“Sentamo-nos, eu, a Dannie e o Daya (irmão da Dannie) e começamos a trocar ideias e esboçar a música e deu muito certo. Quando a vibe é boa é impossível não sair bons resultados”.
Riv revela que não tinha noção que as vozes iriam combinar tanto, mas ficou maravilhado com o resultado final.
“ O Daya e a Dannie têm uma energia muito boa e suave, o que nos ajudou a trazer este projeto à vida” sublinhou Riv.
Riv, o designer
Rivaldo é, também, designer gráfico e veio de uma família que tem muitos membros que estão envolvidos com a arte como um todo, desde a pintura ao desenho, então diz que sempre teve aquele “bichinho” e sente que a arte está “na veia”.
Hoje em dia, ele tem uma página no Instagram, @ilustriv, onde publica muitos dos seus trabalhos.
“Desde pequeno sempre gostei de desenhar, tinha interesse em aprender a tocar algum instrumento musical também, a música era a parte que eu menos explorava e acabou por, mais tarde, se revelar como a minha paixão maior”.
No ensino secundário sempre mostrou habilidades acima da média com desenhos, tinha muita criatividade e os professores sempre elogiavam os trabalhos que ele fazia e o recomendavam a prosseguir os estudos em algo relacionado à arte, ao design gráfico.
“O sonho sempre foi trabalhar com algo relacionado à arte, já interessei-me pela arquitetura, fotografia, explorei um bocado a pintura e de facto me encontrei no mundo do design gráfico, foi a cereja no topo do bolo” afirma o artista.
“ Para mim têm complementado perfeitamente” diz Riv ao ser perguntado sobre a complementaridade das duas artes com as quais trabalha, referindo que ele cria as suas próprias capas, pôsteres para publicidade, teaser de músicas e, entre risos, diz que para ele isso é “perfeito”.
Vai mais longe e afirma que sem criatividade não existe nem o rapper e muito menos o designer.
Riv diz que a música se tornou algo vital, “é vibe, é energia, é o local onde te encontras, as pessoas à tua volta, a forma como aprecias a música” e é por isso que diz que gosta de ter uma composição “carregada de conteúdo”, e em cada letra composta está um “pedaço da alma” do artista.
Novos projetos a caminho
O salense revela que tem um single novo que está em reta final de produção e será lançado brevemente.
“É algo um bocadinho fora da curva, quero cantar em outras línguas e é algo que vou fazer mais vezes, quero ser livre para me expressar da forma que quiser e passar a minha mensagem de forma que chegue a cada vez mais pessoas, sempre com conteúdos fortes” exortou o rapper.
Rivaldo afirma que a sua música é direcionada a todos, sem exclusão. “Quero escrever com o coração para que as pessoas oiçam com a alma!” enfatiza.
No início, Riv tinha como artistas inspiradores os rappers Batchart, Mark Delman, Kiddye Bonz e outros artistas internacionais como é o caso do Tupac Shakur, The Notorious B.I.G, entre outros.
Um início cheio de desafios
Rivaldo diz que o primeiro e maior desafio é ser conhecido e reconhecido, o rapper afirma saber o quão difícil isso é, mas diz que tem trabalhado para atingir essa primeira meta.
Outro desafio é a questão monetária, como estudante, revela que fica muito difícil investir mais na carreira, em vídeo-clipes com maior qualidade, em publicidade para maior divulgação, mas acredita que são desafios normais e que pouco a pouco serão ultrapassados.
“Neste momento trabalho como freelancer, mas acho que preferia algo mais estável e fixo para conseguir organizar melhor o meu tempo e ter mais tempo para me dedicar à música, para melhorar e apresentar um produto com cada vez mais qualidade…às vezes tenho muitos clientes e trabalhos gráficos por entregar e acabo por ficar o tempo todo atarefado”, sublinha.
Riv e o futuro na música
O artista confidenciou-nos que quer que as pessoas saibam o seu nome e o seu trabalho e afirma estar preparado para enfrentar todos os desafios que se avizinham para atingir esse objectivo.
“Tenho uma meta, quero ser uma das referências no rap cabo-verdiano e para tal tenho que trabalhar arduamente e sinto que estou preparado. Estou 100% dentro do “game” e irei trabalhar para me tornar uma das referências. E, quando este dia chegar, vou olhar para trás, orgulhoso do caminho que fiz e com a meta concluída.”
Tiago Ribeiro
Estagiário
