Por: Walter Moreno Lopes
De Santo Antão a Brava, o desemprego mantém-se como o nosso maior inimigo e insiste em nos perseguir! Temos um governo gordo, com salários altos e outras regalias, mas também temos uma sociedade pobre e sem espírito para, ao menos, levar avante uma mudança.
Eu, com 24 anos, também já fui um dos jovens utilizados como marionete em busca de votos para pessoas que depois das eleições se esqueceram de mim e outras que fingiram já não me conhecer. Infelizmente, é este o país que temos. Só é pobre quem vota e não aquele que recebe os votos.
O pior de tudo, para além do desemprego, são as consequências do mau uso da internet pelos nossos jovens. É incrível como esse meio tem dado cabo da mente da nossa juventude. Já não temos adolescentes que se preocupam em estudar para serem médicas, professoras etc.
Atualmente, para maioria das nossas jovens, tirar fotos de bikini à frente do espelho com Iphone na mão é bem melhor do que exibir um diploma, um livro… Todas querem ser influencer’s e ter notoriedade com base no exibicionismo corporal na internet, este que é um dos bens comprados a peso de ouro em Cabo Verde. O preço da internet é um atendado ao bolso dos Cabo-verdianos e isso não tem sido levado para os debates no Parlamento por ser um lucro extra do Estado.
E quanto aos nossos rapazes, na sua larga maioria segue ou cultiva a cultura e influências do hip hop americano. É cada vez mais comum ouvir as palavras “Gangstar”, “Thug” e “Niggas”… Cada vez mais, a tendência é ser única e exclusivamente Young, Wild and Free. Há bairros na Capital onde o jovem que não fuma marijuana não é macho e nem tem amigas para as vibes.
Neste ritmo, vamos continuar a ser um país onde o dinheiro desaparece do cofre do Estado e o povo não recebe satisfação alguma, onde o fundo do ambiente é uma fiel mamata, onde quem mata 11 pessoas continua preso, mas sem se pronunciar uma única vez sequer.
Somos um país altamente politizado em tudo. A maior prova disso são os medias estatais. Pensam que por serem do Estado têm única e exclusivamente de trabalhar para o Estado. Quando assume o poder o partido A ou B controla o que se deve ou não falar ou relatar nas notícias. Um exemplo disso foram as reportagens sobre a última manifestação feita na capital.
O nosso povo é bombardeado diariamente só com notícias políticas, até parece que não existe outra forma de fazer jornalismo. Mas não se pode culpar os jornalistas porque eles têm filhos para alimentar e por isso o problema da falta de diversidade nos meios públicos de informação irá perdurar, da mesma forma que em mais de três décadas de televisão ela continua a não evoluir nem para ter uma qualidade HD.
O que eu quero dizer com isto tudo é que os partidos do arco do poder são nada além dos números 6 e 9, mesmo que o poder se inverta tudo continua a ser o mesmo. Quem, em sã consciência, vai continuar a acreditar que algum indivíduo terá condições de criar 45 mil postos de trabalhos em 5 anos? Ou para pedir que a juventude permaneça no país enquanto ele tem os filhos todos emigrados?
Já é hora de dizer um basta. De termos mais atitudes e menos conversas. Temos que fazer exatamente o que o boi Bulimundo fez ao chamado do rei. Temos que recusar o que está ou nos quer fazer mal, porque senão vamos continuar a ter uma sociedade com pouca margem de progressão.
Fala-se muito em empreendedorismo como forma de aliviar o peso que Estado carrega nas costas e passar a batata quente para os jovens. Porém, o referido termo não é bem empregue, porque, para se ser empreendedor, não é só ter ideias, é acima de tudo ter dinheiro para se investir. Inovar ou empreender não é criar mais bares, salões de beleza ou vender frangos grelhados, embora isso tudo sejam trabalhos honestos. Ser empreendedor é fazer algo novo e rentável, o que tem sido cada vez mais escasso em Cabo Verde.
Infelizmente, é este o país que temos com políticas mal aplicadas, com juventude sem oportunidades e uma sociedade com pouca margem de progressão.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 787, de 29 de Setembro de 2022