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Dia Mundial da Alimentação 2022: Como garantir que realmente não deixamos ninguém para trás

Por: Dr. Qu Dongyu*

NÃO Deixar NINGUÉM para trás – este é o tema do Dia Mundial da Alimentação deste ano. É também um apelo urgente à comunidade internacional para enfrentar a realidade alarmante do número crescente de pessoas deixadas para trás no contexto de uma crise global de segurança alimentar que se agrava devido a múltiplos fatores, incluindo o impacto dos conflitos em curso e prolongados, incluindo a guerra na Ucrânia, a pandemia da COVID-19 e a crise climática.

E estes problemas são ainda exacerbados por picos de inflação e aumentos dramáticos nos preços dos alimentos, rações, combustíveis, fertilizantes e energia, que ameaçam criar uma crise de acesso aos alimentos agora e, possivelmente, uma crise de abastecimento alimentar na próxima estação.

Muitos de nós estamos chocados com as imagens que surgiram nos últimos meses e semanas de níveis catastróficos de insegurança alimentar aguda em muitas partes do mundo.

De acordo com estimativas apresentadas na última edição do Relatório sobre o Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo, elaborado pela FAO e seus parceiros, cerca de 828 milhões de pessoas estarão cronicamente subnutridas em 2021, 46 milhões mais do que em 2020 e 150 milhões mais do que em 2019, antes da pandemia da COVID-19.

O impacto da pandemia já alargou as desigualdades existentes, aumentou a pobreza extrema e tornou a erradicação da fome ainda mais difícil, especialmente em países vulneráveis.

Atingir o objetivo de não deixar NINGUÉM para trás, mesmo que apenas em termos de alimentar a população mundial, quanto mais de proporcionar às pessoas uma vida de paz e igualdade e um futuro inclusivo e sustentável, é claramente uma tarefa assustadora.

Mas não devemos sentar-nos em desespero, nem continuar a fazer as coisas da mesma maneira e esperar resultados diferentes. Existem formas eficazes de enfrentar estes desafios.

Tomemos como exemplo uma das questões mais prementes: face ao número crescente de emergências, conflitos e catástrofes que estamos a viver, uma das nossas principais prioridades deve ser assegurar o nosso apoio aos meios de subsistência das pessoas afetadas e mais vulneráveis. Este apoio precisa de ser melhor coordenado e mais substancial, e a tempo para as épocas cruciais de plantação e produção pecuária.

Chocantemente, pelo menos duas em cada três pessoas que passam fome extrema são, elas próprias, pequenos produtores de alimentos em zonas rurais. É vital que os ajudemos a alimentarem-se a si próprios e a todos nós. As comunidades que não beneficiam de ajuda de emergência, trabalho de desenvolvimento e esforços de construção da paz em zonas de conflito são muito facilmente deixadas para trás e precisamos de coordenar e orientar melhor o apoio essencial que prestamos.

É também necessária uma maior solidariedade global. Por exemplo, os Estados mais vulneráveis necessitam da ajuda da comunidade internacional para assegurar a proteção social dos seus habitantes mais pobres, de modo a terem as ferramentas necessárias para serem resilientes antes da ocorrência da catástrofe.

Os Estados devem concentrar-se no bem comum e abster-se de medidas protecionistas que possam prejudicar os mercados internacionais, se quisermos mitigar os choques potenciais da escassez alimentar, mantendo o comércio e as cadeias de abastecimento a funcionar.

Os governos, o setor privado, o meio académico, a sociedade civil e todas as partes interessadas que trabalham em conjunto têm um papel a desempenhar para ajudar a capacitar os mais vulneráveis, transformando a forma como os nossos alimentos são produzidos, distribuídos e consumidos. Para tal, é essencial fornecer insumos agrícolas básicos, formação adequada, incentivos, inovações e tecnologias às pessoas vulneráveis, incluindo mulheres e jovens.

O primeiro passo para resolver este problema é compreender que precisamos de mais e melhor informação sobre quem está a ser deixado para trás e porquê. Com mais dados e investigação centrada nas pessoas à sua disposição, os governos podem basear-se neste conhecimento empírico para adotar instituições e práticas sociais inclusivas, que permitam a adaptação e a responsabilização. Um passo importante seria os Estados comprometerem-se a ser inclusivos nas suas estratégias, planos e orçamentos para alcançar os objetivos da Agenda para o Desenvolvimento Sustentável de 2030.

Então, o que podemos fazer colecivamente para que isto aconteça a diferentes níveis? Em última análise, todos podemos agir eficaz e eficientemente, de forma consistente e com maior compaixão, falando e influenciando os decisores para assegurar que NINGUÉM seja deixado para trás. Também podemos desperdiçar menos alimentos, comer alimentos nutritivos e sazonais e cuidar dos nossos recursos naturais, tais como solo e água.

Neste contexto, gostaria de destacar o papel vital dos nossos jovens. Pelo segundo ano consecutivo, estão no centro da plataforma do Fórum Mundial da Alimentação que estamos a realizar em formato híbrido na sede da FAO em Roma este mês (17-21 de Outubro), que inclui o Fórum Mundial da Juventude, o Fórum da Ciência e Inovação e o Fórum de Investimento da Iniciativa “Hand in Hand”. Devemos dar um lugar de destaque às suas ideias e ao seu entusiasmo, e ao papel que irão desempenhar no futuro, para que os nossos pensamentos e paixão girem em torno da ação e da solidariedade, para alcançar os quatro melhores (na produção, nutrição, ambiente e condições de vida), não deixando NINGUÉM para trás!

*Director-Geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO)

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