Nelson Silva, delegado da TAP para Cabo Verde, aponta constrangimentos com as infraestruturas no Aeroporto da Praia, que diz provocarem atrasos nas rotações dos voos e perdas de ligações. Em entrevista ao A NAÇÃO, afirma, contudo, que os aeroportos nacionais funcionam de forma “regular e muito satisfatória”. Quanto às críticas ao elevado preço dos bilhetes, relativiza, e diz que os mesmos dependem “essencialmente” da oferta disponível, face à procura em determinado momento.
Nelson Silva começa por reconhecer que Cabo Verde é um mercado “importante” para a companhia lusa, desde logo pelos “fortes laços afectivos e históricos” entre os dois países e os dois povos.
A esses, destaca, junta-se a posição geográfica “privilegiada” de Portugal como ponto de ligação entre África, as Américas e a Europa, em que a TAP está, também, “na melhor posição para poder servir a diáspora de Cabo Verde em Portugal e no mundo”, assim como os negócios entre os dois países e os turistas dos grandes mercados emissores. Turistas esses, afirma que, “cada vez em maior quantidade”, escolhem Cabo Verde como destino.
Instado se Cabo Verde é um mercado rentável para a TAP, o mesmo refuta essa designação, mas admite que a operação é positiva.
“Não se pode falar em “mercados rentáveis” no negócio do transporte aéreo de passageiros. São as rotas, não isoladas uma a uma, mas na forma como contribuem para a rentabilidade total da rede de destinos, que são analisadas em termos de rentabilidade, e essa análise é positiva nas rotas que a TAP opera em Cabo Verde”.
O mercado de Cabo Verde é, por isso, “obviamente, importante para a TAP”, mas, como explica, as vendas para as rotas da TAP, no país, são realizadas em muitos outros mercados, e não só em Cabo Verde.
Constrangimentos operacionais
Numa análise ao funcionamento dos aeroportos de Cabo Verde, esse responsável garante que, na óptica da TAP, funcionam de “forma regular e muito satisfatória”, mas, no entanto, aponta alguns constrangimentos com as infraestruturas do aeroporto da Praia, que, como justifica, provocam “atrasos” nas rotações dos voos e “perdas” de ligações.
“São exemplos as muitas avarias dos tapetes de bagagem, a má sinalização de acesso à sala de embarque internacional, a debilidade das comunicações internas por telefone e PA e a falta de planeamento no estacionamento dos aviões”, enumera.
Contudo, pontua que a TAP “está e estará sempre disponível”, para colaborar com o aeroporto, “em tudo o que for possível”, para ultrapassar estes constrangimentos.
Como é sabido, a TAP já teve registo de alguns incidentes com aparelhos devido à permanência de aves no aeroporto da Praia. Uma questão que diz não se registar “há seis meses”.
“A Autoridade Aeroportuária tem tomado as medidas necessárias, mas é desejável condicionar a criação de pombos nas imediações do aeroporto”, apela.
Problemas “pontuais” com passageiros embriagados
Como tem vindo a público, a TAP tem-se deparado com constrangimentos ainda que “pontuais” com passageiros cabo-verdianos, especialmente emigrantes, que embriagados, têm provocado transtornos nos voos. Algo que, garante, não se pode generalizar e que é resolvido conforme os procedimentos previstos.
“Existem casos pontuais e isolados, que além do incómodo que causam a todos os passageiros e tripulações, podem provocar alguma perturbação operacional. As tripulações da TAP são treinadas para lidar com passageiros ‘unruly’ e têm a autoridade para os imobilizar, sendo os mesmos entregues às autoridades policiais nos aeroportos de destino”.
A melhor forma de lidar com este problema, diz, não pode ser outra, “senão apelar ao comportamento adequado e responsável de todos”.
Concorrência
Uma das principais críticas em relação à TAP por parte dos utentes, por assim dizer, é a questão do elevado preço das passagens entre Praia-Lisboa.
Interpelado se acabam por tirar partido do facto de saberem que, por exemplo, a TACV, devido a problemas vários e falta de consistência nas operações, acaba por não fazer tanta concorrência, o mesmo desvaloriza a questão e argumenta que há muita concorrência.
“A TACV/CVA é uma empresa importante para Cabo Verde e desejamos que possa ultrapassar todas as dificuldades e retomar o seu papel essencial para o país. Convém referir que, para a Praia, a TAP concorre também com outras companhias, como a SATA ou Royal Air Maroc”, enfatiza.
Quanto ao preço dos bilhetes, alega que os mesmos dependem “essencialmente” da oferta disponível, face à procura em determinado momento. “A TAP tem reforçado a sua oferta para a Praia, procurando satisfazer a maior procura possível. Se os preços não forem competitivos, a TAP não vai conseguir aumentar e atrair a procura”, argumenta.
Relativamente à retirada da refeição quente gratuita com a compra da passagem, que era outra das criticas dos clientes a bordo dos voos da TAP, o mesmo garante que desde Maio passado a mesma já foi reposta “em qualquer bilhete em classe económica de/para Cabo Verde” com reações “muito positivas” por parte dos passageiros.
Praia domina
No que toca à liderança do mercado nacional, em termos de transporte de passageiros, para a TAP, o aeroporto internacional da Praia, Nelson Mandela domina. De Janeiro a Agosto deste ano 2022, o número de passageiros embarcados e desembarcados pela TAP na Praia atingiu a cifra de 113.200.
Já no total das rotas entre Cabo Verde e Portugal, nos dois sentidos, a TAP transportou 232.972 passageiros em 2021 e 237.748 de janeiro a agosto de 2022. Ou seja, só neste primeiro semestre de 2022, já ultrapassaram o número de passageiros de 2021, o que deixa transparecer uma retoma significativa das operações no pós-pandemia e mesmo em contexto de Guerra na Europa.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 787, de 29 de Setembro de 2022