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Economia

Utentes desgastados com CV Interilhas

Os utentes, sobretudo os pequenos comerciantes inter-ilhas, dizem não ter uma vida fácil diante dos “inúmeros” constrangimentos no sector marítimo e que lhes rendem avultados prejuízos. Viagens irregulares, atrasos, avaria dos navios e falta de informações integram a longa lista de reclamações de quem ganha a vida, circulando de ilha em ilha.

O sector marítimo de passageiros e cargas entre as ilhas encontra-se em situação difícil e o problema não é de hoje. Os constrangimentos giram em torno das viagens irregulares, atrasos, avaria dos navios, falta de informações, entre outras dores de cabeça, que arrasam os nervos dos passageiros e comerciantes, indignados com a empresa que presta serviço de transporte marítimo no país, a Cabo Verde Inter-ilhas.

 Tanto é que, volta e meia, na comunicação social, surgem notícias dando conta do drama de passageiros em terra, com carga por transportar, e com isso os prejuízos que segundo contam, não são poucos.

“Por várias vezes, tive as minhas coisas todas danificadas, sem contar no atraso de envio no trajeto Praia-Boa Vista”, contou Solange Fonseca, ao A NAÇÃO, dizendo que a forma como a CV Interilhas trabalha prejudica, “e muito”, a vida dos cabo-verdianos.

“Um dos maiores constrangimentos tem que ver com o envio de cargas, sobretudo produtos alimentícios em que na maioria das vezes, são jogados fora depois de chegar ao seu destino pois chegam num péssimo estado de conservação”, avançou a cidadã da ilha da Boa Vista.

Serviços de “péssima” qualidade

Pelos constrangimentos causados, Solange, que recebe regularmente cargas do Fogo, na Boa Vista, diz que avalia muito negativamente as prestações de serviços de transportes marítimos entre as ilhas.

“Na minha opinião, os serviços que a CV Interilhas nos presta são de péssima qualidade, não há um mínimo de respeito para com os clientes, quer em termos de transporte das mercadorias, quer em termos dos passageiros”, apontou, à semelhança de outras críticas lançadas à empresa nesta reportagem.

Dificuldades nas viagens longas

Há cerca de um ano que Cátia Tavares, residente em Ponta d’ Água, Praia, começou a apostar na venda de peixe importado de São Nicolau para Santiago. O seu negócio, aproximadamente 100 quilos de peixe por semana, depende das transações inter-ilhas. Até receber a encomenda que sai da ilha do Chiquinho, demora cerca de três ou quatro dias. O barco faz a trajetória de São Vicente, São Nicolau, Sal, Boa Vista e finalmente Praia.

Cátia considera longo o trajeto contando que houve uma altura em que chegou a esperar por duas semanas até o barco chegar para ela receber a sua encomenda. Entre atrasos e trajeto longo, diz que só lhe resta pedir aos seus fornecedores que conservem muito bem o seu pescado para não deixar de vender peixe fresco, como prometido à clientela.

Situação desgastante

Apesar de alguns prejuízos causados no seu negócio, pão de cada dia, a nossa entrevistada diz que não vale estar sempre em pé de guerra com a empresa de transportes marítimos de Cabo Verde, CV Inter Ilhas, pelo que prefere apostar na conserva, evitando que o produto chegue em péssimo estado. Até porque, como desabafa, “chega a ser desgastante bater sempre na mesma tecla que todos os outros comerciantes e passageiros estando sempre a depender deles”.

Esta dependência dos transportes marítimos inter ilhas não é uma situação só de Cátia, mas de muitos outros comerciantes que fazem o “leva e traz” de produtos entre as nove ilhas, não tendo estes, uma vida fácil.

Sugestões para melhoria

Apesar de poucas expectativas de que as coisas possam melhorar nos transportes marítimos, de passageiros ou de mercadorias, os nossos entrevistados preferem ainda acreditar, pois, a esperança é a última que morre. 

“É possível desde que façam um reajuste nos seus programas de navegação e principalmente o cumprimento da data/ horário estabelecido para possíveis viagens”, recomenda Solange Fonseca.

 Por seu turno, Cátia, empreendedora e responsável pela peixaria online – comercialização e entregas de pescados a domicílio, na cidade da Praia sugere primeiramente viagens mais curtas, diminuindo a rota, nomeadamente São Vicente – São Nicolau – Sal – Boa Vista – Praia. Isto, do seu ponto de vista, ajudaria resolver a questão dos atrasos.

Aumentar frequência Fogo-Praia na Azágua

Com cerca de 10 anos no negócio de cargas entre Brava, Fogo e Praia, mais compreensivo, Aguinaldo Timas entende que, por vezes, os atrasos nos barcos interilhas têm que ver com causas naturais (condições meteorológicas e estado do mar, por exemplo) pelo que “nem sempre a empresa é culpada”.

No entanto, diz que melhorias são sempre necessárias para melhor prestação de serviços. Em termos de percurso, diz que deseja ver com mais frequência, o barco entre Fogo e Praia, sobretudo neste tempo de azágua.  

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 787, de 29 de Setembro de 2022

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