Paulo Veiga é o nome indicado para substituir João Gomes na liderança do Grupo Parlamentar do MpD e Luís Carlos Silva deve ser o próximo secretário-geral do partido. Também haverá mexidas no executivo de Ulisses Correia e Silva, em Outubro, na sequência da reunião da Direcção Nacional dos ventoinhas.
O MpD vai arrancar o novo ano político com alterações profundas no seu Grupo Parlamentar, assim como na estrutura partidária, soube o A NAÇÃO.
Haverá, consequentemente, mexidas no elenco governamental, ao que tudo indica, a partir de 1 de Outubro, data da realização da reunião da Direcção Nacional desse partido, que tem dois pontos na agenda: situação política, económica e social do país e a escolha de um novo secretário geral.
Consenso em torno de Paulo Veiga
O deputado Paulo Veiga, que, em Novembro do ano passado, pediu demissão do cargo de ministro do Mar, na sequência da derrota de Carlos Veiga nas eleições presidenciais de 2021, é o nome consensualizado para assumir a liderança do MpD nas eleições marcadas para o dia 29 deste mês.
Esse parlamentar que é tido como próximo de Orlando Dias, candidato à liderança do MpD nas directas que deverão acontecer no primeiro trimestre de 2023, vai substituir João Gomes que, em menos de dois anos como líder da bancada da maioria, vem sendo alvo de fortes críticas internas.
Para além disso, questões ligadas com a sua saúde terão ditado a saída prematura desse deputado, eleito pelo círculo de São Vicente, da liderança da bancada ventoinha.
Deverão acompanhar Paulo Veiga na nova “linha da frente” do Grupo Parlamentar do MpD, Celso Ribeiro, Euclides de Siva e Vanusa Barbosa. Contudo, persistem dúvidas em relação aos nomes de Mircéa Delgado Rocha e Ângela Gomes para compor essa direcção. Mircéa é também apontada para o cargo de presidente da primeira comissão. Por agora, Euclides de Pina é o único que transita da anterior direção da bancada da maioria.
A NAÇÃO sabe, no entanto, que o nome de Paulo Veiga para a liderança da bancada do MpD foi consensualizado num jantar com alguns deputados, muitos deles apoiantes de Orlando Dias, num restaurante, no Platô, no dia do encerramento do ano Parlamentar, 20 de Julho.
Segundo um dos participantes, nesse jantar “esteve um intruso que deu com a língua nos dentes e, logo no dia seguinte, Ulisses chamou Paulo Veiga para lhe convidar para o cargo”.
Mas para viabilizar essa solução, UCS teve que tirar Emanuel Barbosa do Parlamento, oferendo-lhe a chefia da recém-criada Autoridade da Concorrência. A manutenção desse deputado da diáspora seria “incomportável” na actual conjuntura, tendo em conta o facto de o mesmo ter perdido por apenas um voto na disputa com João Gomes.
Novo secretário-geral
Um certo “amorfismo” do partido, que vem sendo acusado de ter abandonado as bases, estará na origem da escolha de um novo secretário-geral do MpD.
Para o lugar vai Luís Carlos Silva que se tem destacado no Parlamento. Essa escolha também é vista como uma forma de manter deputado “ocupado”, tendo em conta que, com a “queda” de João Gomes, também sai da direcção do Grupo Parlamentar do MpD.
Essa mudança também é vista como uma forma de introduzir maior dinâmica à acção do secretariado do partido, tendo em conta que a actual secretária-geral, Filomena Delgado, não terá conseguido esse propósito desde que substituiu Miguel Monteiro no cargo.
Com o aproximar do próximo ciclo eleitoral entende-se que é melhor alguém com um perfil mais combativo para dar resposta às críticas da oposição a nível partidário, isto é, fora do Parlamento.
Mexidas no Governo
As mudanças que o MpD vai introduzir no partido e no seu Grupo Parlamentar apontam para uma mexida no Governo, logo nos primeiros dias de Outubro.
Com a cautela que este tipo de previsão impõe, dado o perfil “casmurro” de Ulisses Correia e Silva, é quase certo que a maioria dos secretários de Estado deverá cair, assim como alguns ministros que não são deputados. A estratégia de mexer só nos ministros que não são deputados vai no sentido de evitar “amuos” no Parlamento por parte dos “remodelados”.
Assim, como forma de dar respostas às críticas de ter um executivo “gordo”, UCS começará por cortar nos secretários de Estado. Pelo que A NAÇÃO pôde apurar, apenas um ficará no Governo.
Em relação aos ministros, nos bastidores do MpD circulam os nomes de Carlos Monteiro, Alexandre Monteiro, Eunice Silva, Arlindo do Rosário e, eventualmente, Amadeu Cruz, como “remodeláveis”. Alguns deverão ser colocados noutras funções, nomeadamente, embaixadas. Quer Eurico Monteiro (Lisboa), quer Jorge Figueiredo (Luanda) já terão esgotado o respectivo prazo de validade.
Olavo Correia na berlinda
Segundo uma fonte bem posicionada, o primeiro-ministro deverá reduzir o seu elenco governamental reforçando, por outro lado, os poderes dos ministros das áreas da economia e social, libertando-os das “amarras” do vice-primeiro-ministro.
Falando do segundo homem do Governo, há uma forte corrente no MpD que considera que o PM deve obrigar Olavo Correia a “baixar a bola” para se poder focar no essencial.
“O mal-estar entre os membros do governo e o VPM é por demais evidente, tendo em conta que intervém em todas as esferas da área governativa manietando muitas vezes as acções dos vários ministros que não conseguem tomar decisões próprias nas áreas que têm sob tutela”, descreveu a nossa fonte.
Um militante do partido que já desempenhou funções governativas afirmou que “é evidente a ausência de resultados em várias áreas que Olavo Correia chamou para sua jurisdição, como são os casos do fomento empresarial, alfândegas e privatizações”.
O nosso interlocutor considera também que “o PM não pode continuar a ignorar as vozes dentro do partido e do Governo que reclamam contra o excesso de protagonismo de Olavo Correia e a evidente ausência de resultados”.
Pôr ordem
Com uma eventual remodelação governamental, UCS deverá emitir novas directivas à governação no sentido de imprimir uma maior dinâmica no sector económico que tem muitos projectos e processos encalhados.
Segundo o nosso interlocutor, “as privatizações não avançam, os transportes marítimos e aéreos estão uma lástima. A concessão ao Grupo ETE revelou-se um fiasco, ninguém monitora o contrato e os cinco navios prometidos ainda estão por chegar e no domínio aéreo a privatização da TACV exibida com pompa e circunstância serviu apenas para os islandeses alugarem os seus aviões a preços proibitivos”.
E, mais, prossegue, “os empresários continuam a criticar o excesso de burocracia e a ausência de respostas por parte das alfândegas, as pequenas e médias empresas que estão asfixiadas de dívidas não conseguem ter acesso aos tão propalados fundos devidos ás garantias exigidas”.
E, por último, “as empresas da área digital queixam-se da feroz concorrência do NOSi e do facto de os grandes trabalhos serem entregues a empresas portuguesas ao invés das starups cv”. Ou seja, “o Governo tem dois discursos, diz que quer incentivar as start-ups cv, mas continua a ser as empresas portuguesas da área da digitalização a apanhar os melhores contratos”.
Além disso, a descrença e o cansaço, mesmo entre os ventoinhas, parecem ter tomado conta do país. Sectores tidos como essenciais – transportes aéreos e marítimos – é o que se sabe. A criação de empregos, segurança urbana, felicidade para todos, parece que a covid tudo devorou.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 786, de 22 de Setembro de 2022