Familiares, amigos e conhecidos de Arlinda Ortet, falecida no passado dia 26 de Setembro, do ano passado, alegadamente por negligência médica no Hospital Agostinho Neto, na Praia, estão a realizar nesta manhã de segunda-feira,26, uma marcha silenciosa como forma de protesto e descontentamento pelo “silêncio da justiça”.
Segundo os familiares, Arlinda Ortet, que estava grávida de gêmeos, deu entrada na maternidade do Hospital D. Agostinho Neto, na Praia, no dia 25 de Setembro de 2021, por volta das 17 horas, entrando em trabalho de parto antes da data prevista para a realização da cesariana, método que tinha optado em concertação com a médica obstetra que a seguiu durante a gestação.
“A paciente era seguida, durante a sua gravidez, por uma médica obstetra, cujo acordo entre as partes era de que chegando aos trinta e sete semanas da gestação, proceder-se-ia a cesariana que se considera a prática aconselhada para o caso de gravidez gemelar e, para além disso, constituía um desejo da paciente pelo facto de se pudesse realizar o tratamento da laqueação, uma vez que com o nascimento dos gémeos a mesma teria ficado com 3 filhos”, dizia uma carta da família, assinada por Antonieta Ortet, em que o A NAÇÃO online teve acesso.
“Pesadelo”
O mesmo documento refere que “tudo se tornou num pesadelo para a paciente, quando se apercebeu que estava entrando em trabalho de parto antes da data prevista para a realização da cesariana, e por isso, teve de chamar a médica que a seguia, mas, sem sucesso, pois, a mesma não atendeu o seu telefonema”.
Nestas circunstâncias, segundo os familiares, Arlinda “teve de aceitar, de forma contrariada, as condições impostas pelos serviços disponíveis naquela unidade hospitalar, ou seja, uma equipa incompleta no que concerne aos recursos humanos, materiais e técnicos”.
De entre as condições, alegam que a vítima foi transportada para o Banco de Urgência, pela parte exterior do hospital, “numa cama que não foi possível sair pelas portas interiores do edifício”.
Isto, além de “deslocamento da cama num piso irregular, o que consequentemente implicou um movimento em ziguezague da mesma ao longo da estrada em direção ao Banco de Urgência, o que certamente causou alguns transtornos físicos e/ou psicológico à paciente que, segundo o médico, teve uma convulsão logo após ter dado à luz”.
Situação lamentável
Perante a situação que consideram “lamentável” os familiares de Arlinda, falecida há um ano, questionam: “Não deveria ser feita a cesariana à vítima, logo quando deu entrada na maternidade, sabendo que se tratava de uma gravidez de risco, por ser gemelar, e o mais grave ainda, o facto de que, segundo o relatório da ecografia aos 31,6 semana, uma das crianças se encontrava em posição pélvica?”
Por outro lado alegam que o médico que atendeu a vítima em trabalho de parto, teve acesso ao referido relatório antes da realização do parto e efetivou uma outra ecografia que supostamente seria a confirmação da ecografia anterior.
“Questionado por uma das irmãs da vítima sobre o resultado da última ecografia, este respondeu que tudo se passava bem. Mas, tal facto não correspondia à verdade.Pois, tudo veio a confirmar através do registo no caderno de ‘Atenção Integral à Saúde da Mulher’, sobre histórico obstétrico, de que umas das crianças, a que nasceu primeiro, nasceu em posição pélvica”.
Obrigada a dar à luz
Por estas circunstâncias, os familiares acreditam que “a vítima que se encontrava toda inflamada principalmente nos membros inferiores, foi obrigada a dar à luz com a criança naquela posição, o que não corresponde à prática corrente, tendo, provavelmente, feito um esforço fora do normal para expulsar a criança”.
É neste sentido que acusam o hospital de negligência médica, afirmando que o caso está a correr no tribunal. “Perante todas essas constatações podemos afirmar que a morte da vítima foi provocada pela negligência do médico que se encontrava de serviço naquela unidade hospitalar, uma vez que teve tempo suficiente para a realização da operação pois a vítima deu entrada na maternidade por volta das 17h, e só veio, obrigatoriamente, dar à luz, por volta das 21h”.
Um ano sem respostas…marcha de descontentamento
Tendo avançado ao A NAÇÃO que aguardam há cerca de um ano pela resposta das entidades competentes, nomeadamente Ordem dos Médicos, os familiares da vítima dizem-se também descontentes com a justiça cabo-verdiana que igualmente ainda não se pronunciou.
“É como forma de protesto que optamos por sair às ruas, numa marcha silenciosa mostrando o nosso desagrado, a nossa perda e o silêncio da justiça e das autoridades”, avançou a este online, uma das irmãs da vítima, Vera Ortet.
Segundo a mesma, a marcha silenciosa vai percorrer Achadinha-Platô, sob o lema “Decisão Estúpida e Desumana, Pamodi?” e acontece após a missa de um ano de falecimento de Arlinda Ortet.
De notar que A NAÇÃO está a tentar contactar o Hospital Agostinho Neto, contando trazer a reacção do mesmo assim que possível.