Por: Filinto Elísio
Menos, malta. Menos. Naturalmente que a condenação à guerra deve ser a mais veemente (para todas as guerras, de resto), pelos direitos humanos que são violados, e que a solidariedade com as vítimas não deva discriminar este ou aquele (por raça, nacionalidade, condição social, diferença cultural, orientação sexual e confissão religiosa). Por quê, para quê…dizer mais?
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Entretanto, nem todas as guerras, por mais desumanas que sejam, têm a mesma ponderabilidade. Umas guerras há com mais potencial de internacionalização, de crise sanitária e ambiental, de destruição da vida económica global, de genocídio e de perigo à sobrevivência da Humanidade que outras. Por isso, menos malta. Sobretudo, mais prudência e mais parcimónia, perante as delicadezas de cada guerra!
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Há seis anos, escrevi aqui uma pequena nota e chamei-a “Quase solilóquio”. Sendo pirosa a citação própria, que nem um “fulano de tal” que, às tantas, escrevia ver em anexo o douto esclarecimento sobre o assunto feito por mim, Minha Excelência, etc e tal. Mas há seis anos escrevi, e isto é despretensiosa lembrança, que não me deixeis cair na ‘esquizofrenização’ da política, com o primado da palavra-de-ordem sobre a palavra crítica. As aves, em bando, revoam pelo cordel do entardecer; antes ‘que noute’, dizia o Poeta diante do voo desse mistério semântico.
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Uma classe média (fui escrevendo) que, saindo da sua zona de conforto, fosse capaz de cogitar soluções coletivas e de formular políticas da realização do bem comum. Seria, em toda a lucidez e clareza, a pequena-burguesia, mister ao ‘suicídio de classe’ idealizado por Cabral? Em tudo isso, procederia à reformulação de uma perspetiva não conformista do Poder? Para além do domínio da palavra e do discurso, a germinação de uma nova práxis política, algo que comportasse, não necessariamente a alternância, mas a alternativa. O mais, era também o montar nessa sintaxe e, qual asa-delta, sobrevoar o ninho de cucos.
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Penélope faz ode à Odisséia e diz a lenda que assim esboçou-se Odessa. Pela certa, não sobrava a esse desenho iniciático a mitologia, cores, paisagens, alma…toda a placidez desta segunda-feira, suas iluminuras estranhas e gravuras que estremecem.
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A guerra, que os generais discutem no painel, é uma desprezível orgia sob o céu sangrento, visto no baço da televisão.
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Dizer mais? Que nada me deixe esquecer Marielle Franco, ainda presente!
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 759, de 17 de Março de 2022