A formação profissional tem sido a via escolhida por muitos jovens, entre os quais vários com formação superior, enquanto via “rápida”, para conseguir emprego e obter rendimento. Para a presidente da Associação de Escolas e Centros Privados de Formação Profissional, Ana Reis, a via técnica é fundamental para qualquer país que se quer desenvolvido.
A Associação de Escolas e Centros de Formação Profissional Privados, criada em 2020, tem como propósito dar mais visibilidade à formação técnica profissional, que, segundo a sua presidente, Ana Reis, tem desempenhado um papel de extrema importância, apesar de haver ainda um fosso no que tange a sua divulgação.
Um outro objectivo é, segundo disse, “desconstruir” a ideia existente de que a formação profissional é uma via para quem não consegue fazer um curso superior ou tem poucos rendimentos.
“Muitos jovens já estão a pensar de maneira diferente, até porque a formação profissional tem sido uma alternativa credível. Se formos reparar, os países mais desenvolvidos apostam mais na formação profissional”, indicou a responsável, apontando exemplos como os Estados Unidos, Alemanha, Suíça e mesmo as Canárias, todos com “um desenvolvimento fora de sério, graças a uma aposta forte e massificação da formação profissional”.
Segundo a nossa entrevistada, que também é presidente do Instituto Profissional das Tecnologias e Artes (EPTARTES), hoje em dia há vários casos de jovens que, mesmo com uma licenciatura, passam anos sem conseguir emprego, mas que depois fazem uma formação profissional, conseguem entrar, quase que de imediato, no mercado de trabalho.
“Nós temos exemplos disso. Jovens com três, quatro, outros sete anos no desemprego, após fazer a licenciatura. Fizeram formação profissional e passado um ano e meio estão colocados e fazem parte já de quadros, tanto a nível público como privado”, sustentou.
Alternativa viável
No que tange a EPT ARTES, diz que têm estado a fazer um trabalho de divulgação, para que os jovens percebam a formação profissional enquanto alternativa credível.
Reclama, por outro lado, um maior envolvimento do sector público e concertação com o privado, no sentido de desenvolver ainda mais a formação profissional.
“Apesar de haver um pouco mais de sensibilidade neste Governo, ainda falta massificar mais, fazer formações e eliminar o complexo de que quem está a fazer formação profissional é porque não encontrou bolsa de estudos, não tem dinheiro ou não conseguiu sair do país”, defende.
A formação, segundo diz, costuma ser mais prática e imediata quando o assunto é conseguir um emprego. “Actualmente, de acordo com um estudo feito, cerca de 70 a 80% dos jovens que frequentam a formação profissional entram logo no mercado de trabalho. É um feito muito grande para um país pequeno, com mais de 30% de jovens no desemprego”, indica.
Por isso mesmo, diz, o Governo deve dar maior atenção ao sector, se quer realmente tirar os jovens da rua, diminuir o desemprego e levar o país a desenvolver num ritmo mais acentuado.
Empregabilidade e negócio próprio
Os jovens que fazem formação profissional, conforme a mesma fonte, têm algumas facilidades, na medida que conseguem desenvolver emprego próprio, com competências técnicas adquiridas na formação.
“Aqueles que não possuem o lado mais empreendedor procuram trabalho com terceiros. Mas, sobretudo, a nível do empreendedorismo, tem estado a olhos nus que a maioria esmagadora dos jovens que estão a empreender são aqueles que fizeram formação profissional”, considera.
É por isso que, segundo diz, já existe a preocupação de introduzir nos cursos os módulos de empreendedorismo e inovação, gestão de projectos, informática aplicada, direito comercial, gestão de negócios e de recursos humanos, entre outros, que fornecem ferramentas para montar um negócio e ter uma relação mais pacífica possível com os seus colaboradores.
Novo ano lectivo
Assim como o sector do ensino, as escolas e centros de formação estão a dar início um novo ano lectivo, embora com formações que variam no tempo de duração, que pode ser de três meses ou até de um ou dois anos.
“Todas as escolas privadas já estão preparadas para iniciar as actividades já no dia 02 de setembro, e, normalmente, a dinâmica vai ao lado das universidades e também do ensino secundário”, precisou.
As áreas mais procuradas, conforme Ana Reis, têm sido a área de serviços, de tecnologias de informação e comunicação, de hotelaria, restauração e turismo, que tem um “mercado muito abrangente”.
A Associação de Escolas e Centros de Formação Profissional Privados tem atualmente 18 membros associados, num universo de cerca de 50 escolas, em todo o país.
Mesmo assim, está representada em todas as ilhas do país, com maior número em Santiago, São Vicente e Sal.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 784, de 08 de Setembro de 2022