A introdução da matemática em todas as áreas de ensino, a partir do 10º ano de escolaridade, é uma forma de incutir maior rigor e qualidade no sistema de ensino, defende o director nacional da Educação, . “Não queremos fabricar reprovações.
Apartir deste ano lectivo (2022/23), todas as áreas de ensino, a partir do 10º ano, terão a disciplina de matemática, nomeadamente Ciências e Tecnologias, Económico-Social, Humanas e Artes, embora estes dois últimos sejam matemática aplicada às áreas.
A medida, que está sendo contestada por vozes da sociedade civil e professores, não é uma uniformização do ensino, mas uma forma de melhor preparar os alunos para a vida universitária e profissional, conforme explicou Adriano Moreno, ao A NAÇÃO.
Principais mudanças
A nível do ensino secundário, este ano as mudanças acontecem no décimo ano de escolaridade, a partir de onde os alunos vão poder escolher a área a seguir.
As áreas de Humanas e de Artes terão um reforço curricular, com a introdução da disciplina de matemática, de foro obrigatório, mas aplicado à realidade de cada área.
“Hoje em dia, praticamente em todas as áreas dos cursos, os alunos precisam de algum reforço ao nível da matemática. Claro que é uma matemática diferente da ensinada nas áreas de Económico Social e de Ciências e Tecnologias, mas, servirá, sobretudo, para dar algum upgrade aos alunos, pelo menos para
terem minimamente aquilo que é a ferramenta básica para prosseguir os outros cursos”, fundamentou.
A medida foi pensada, segundo o nosso entrevistado, ao se fazer a constatação que, ao longo dos tempos, as áreas científicas e exactas vão ficando para trás. “Nós vemos isso nas próprias universidades. Hoje em dia os cursos de matemática e de físico-química têm pouquíssima gente”, diz Moreno, salvaguardando que os alunos não devem se assustar.
“É uma matemática aplicada a essas áreas, com uma metodologia diferenciada, será trabalhada neste sentido e esperemos que isto não seja mais um elemento para reprovar os alunos, mas que sirva, sobretudo, para dar maior bagagem científica”, garante.
Experimento de três anos
O responsável garante que há uma equipa a trabalhar a sua implementação, com o envolvimento da Universidade de Cabo Verde e de professores, para que seja “devidamente aplicado” e tenha o interesse dos alunos. “Eu, enquanto professor de matemática, estou certo de que os alunos vão gostar desta disciplina”, prevê.
Trata-se de uma medida de carácter experimental, para um período de três anos, suficiente para os alunos terminarem o 12º ano, para então passar por uma avaliação. “Porque também isso está na lei. Se for necessário vamos introduzir melhorias, para que seja um elemento que prega mais valia para as crianças”, adianta.
Decisão no 10º ano
Ao contrário do que se praticava anteriormente, agora também os alunos vão poder escolher a área que querem seguir já no 10º ano de escolaridade, tendo como opção quatro áreas: Ciências e Tecnologias (CT), Económico Social (ES), Humanas e Artes.
A socialização do novo quadro de ensino, segundo disse, já foi feita com os dirigentes das escolas, no sentido de o ano lectivo iniciar na mesma linguagem, em todas as escolas do país.
“Primeiro queremos socializar os instrumentos que já foram publicados no sistema nacional de avaliação das aprendizagens, mas também o novo currículo do ensino secundário, que também já foi publicado, para que todos falem a mesma linguagem nas escolas”, adianta.
“Estamos a trabalhar na questão do ensino secundário via geral, e já nesta próxima semana (semana de 22 de Agosto) estaremos com os diretores das escolas técnicas, para podermos todos termos esta questão legislativa bem patente e podermos implementar o início do ano e não estarmos durante o ano a enviar várias orientações às escolas”, informou Adriano Moreno.
Manuais escolares do EBO já estão no mercado
Todos os manuais que foram produzidos até agora a nível do ensino básico já estão no mercado, disponíveis para aquisição, garante, ainda, o diretor nacional da Educação.
Já para o ensino secundário, que tem passado pela reforma, os manuais para o nono ano devem estar prontos até Maio/Junho de 2023, indica o director nacional da Educação, Adriano Moreno.
“O processo de contratualização já está feito, com o Banco Mundial, nós agora como já fechamos o nono ano, já estamos na fase de homologação do programa, porque o programa era experimental, e não podemos estar a fazer manuais para um programa experimental”, justifica.
Entretanto, garante que o programa será consolidado ainda este ano, para passar a fase de confecção e edição dos manuais para o nono ano. A impressão será feita por gráficas locais, também através de concurso público.
“No início do próximo ano já vamos começar a ter no mercado manuais do ensino secundário, porque já vamos ter programas consolidados”, prevê.
Até lá os alunos do secundário vão continuar com a utilização de fotocópias enquanto material de suporte, com a previsão de que, daqui há dois ou três anos, todos os manuais do ensino secundário estejam disponíveis.
Introdução de novas línguas
Para além da introdução da matemática em todas as áreas, como referido anteriormente nesta reportagem, outra novidade deste ano lectivo é a introdução, a nível nacional, do mandarim e do espanhol, como línguas estrangeiras para enriquecimento do currículo dos alunos.
Entretanto, ao contrário do francês e do inglês, obrigatórios entre o 5º e o 12º anos, estas duas novas línguas, implementadas a partir do 10º ano, serão opcionais e não terão peso na nota final do aluno.
“É opcional, e serve como complemento curricular. A escola, podendo, oferece, e os alunos, querendo, nós temos um protocolo com o Instituto Confúcio que vai fornecer professores. Neste momento já estão à espera que a agente forneça o número de alunos matriculados para poderem fornecer os professores”, indica Manuel Moreno.
De frisar que a implementação do mandarim e do espanhol já havia passado por um processo experimental, nos concelhos de São Vicente, Santa Catarina e Praia, sendo agora estendidos a todo o país.
Rádio e TV Educativa enquanto complemento importante
As aulas retomam normalmente, mas a Rádio e a Televisão Educativa são projectos que se vão manter, estando a televisão com previsão de início de emissão a partir de 01 de Setembro.
A rádio, segundo Adriano Moreno, continua a funcionar “sem grandes dificuldades”, com a programação normal e, contando também com a parceria de instituições portuguesas e brasileiras, que apoiam na produção de conteúdos.
“Esperamos retomar este processo a partir de 01 de setembro, com força, porque foi um dos ganhos da pandemia, podermos emitir aulas online e podermos chegar a todos os alunos”, frisou o responsável.
Formação a distância
Um dos pilares da educação nos próximos tempos, segundo disse, será a rádio e a televisão, uma vez que vai ser montado um sistema nacional de formação de professores e de formação a distância.
“Vamos ter centros de educação a distância em todos os concelhos, mas a rádio e a televisão serão importantes para melhorar a qualidade de ensino”, indicou.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 784, de 08 de Setembro de 2022