O financiamento e a sobrevivência do ensino superior não se têm revelado fáceis em Cabo Verde. Com a crise da covid-19, algumas instituições de ensino superior viram a dívida dos estudantes aumentar, nalguns casos, de forma exponencial. É o caso da Uni-CV, onde os estudantes devem cerca de 24 mil contos somente em propinas, conforme avança o reitor, José Arlindo Barreto.
“De acordo com os cálculos dos serviços financeiros, as dívidas de propina giram à volta de 24 milhões de escudos”, diz o reitor da Universidade de Cabo Verde, José Arlindo Barreto, quando questionado sobre o assunto. Sendo a maior instituição de ensino superior, pese embora este seja um problema que se estende a todas as demais universidades, a questão ganha particular relevância a nível da Uni-CV.
Um pouco por todo o país, a culpa pela actual situação do atraso e até ausência de pagamento de propinas é atribuída à Covid-19, que deixou muitas famílias em situação financeiramente difícil.
José Arlindo Barreto indica, contudo, outros elementos causadores desta situação: “A situação financeira e social da Universidade de Cabo Verde, devido à sua própria natureza e missão, foi sempre frágil e com a crise pandémica e a crise económica derivada da guerra na Ucrânia, essa fragilidade tornou-se mais visível. É preciso uma solução mais estruturada para que a maior universidade do país possa cumprir com a sua missão e os seus objectivos”.
Deste modo, consciente das suas obrigações enquanto universidade pública, José Arlindo Barreto garante que a Uni-CV “optou sempre pela via de negociação de pagamento das dívidas dos estudantes”.
Desafios e constrangimentos
Com a dívida dos estudantes rondando os 24 milhões de escudos, “um dos maiores constrangimentos” é, sem dúvida, o da sustentabilidade financeira das universidades.
No caso da Uni-CV, diz José Arlindo Barreto, isso “arrasta consigo várias problemáticas ligadas à investigação, ao desenvolvimento de perspetivas de carreira do pessoal docente e dos técnicos-administrativos e à gestão dos recursos humanos”.
Por isso, Barreto diz que a nova equipa reitoral da Uni-CV, eleita há menos de um ano, tem “trabalhado durante esses quatro meses de mandato, com serenidade, rigor e determinação na procura de soluções para essa sustentabilidade financeira, mas também para abrir o caminho da qualidade da investigação, do ensino e da extensão da Uni-CV”.
Barreto afirma ainda que “a falta de pagamento de propinas gera constrangimentos de vária ordem, não apenas em termos de receitas de funcionamento, como também nos impactos negativos que tem na reorganização e na procura de eficiência do funcionamento dos sistemas e serviços internos”.
Uma dívida que se acumula ano após ano, considerando que o não pagamento das propinas na Uni-CV “não impede os estudantes de frequentarem as aulas nem de serem avaliados”.
“Actualmente, os estudantes inscrevem-se pelo número de créditos e o conceito de retenção num determinado ano quase se esvaziou. Pode-se falar num número significativo de insucessos derivados de vários fatores, não exclusivos ao pagamento das propinas. Como é o caso das condições de alojamento, alimentação, materiais escolares, transporte e a comunicação”, sintetiza, consciente de que este é um problema que terá de ser encarado e resolvido, a seu devido tempo.
Tiana Silva
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 784, de 08 de Setembro de 2022