O músico e compositor Roy Job diz-se consternado com a decisão dos Cabo Verde Music Awards (CVMA) em nomear a morna “Prisão” para a categoria de Melhor Morna depois da polémica sobre a sua autoria, caso que diz estar a ser tratado no tribunal. Pelo seu turno a directora de comunicação dos CVMA, Soraia Deus avançou que a organização já respondeu a carta do artista, lamentando inclusive a situação e justificando que desconhece a disputa sobre a autoria da canção, estando a cumprir o Regulamento.
Depois de reivindicar que “Prisão”, interpretada por Neusa de Pina, é uma composição do seu pai, uma das polémicas após apresentação da lista dos pré-nomeados para a Gala dos CVMA 2022, o músico e compositor Roy Job esperava que a organização retirasse a música nomeada na categoria “Melhor Morna” da premiação.
Isto porque, conforme avançou numa carta direcionada aos organizadores do certame, a que o A NAÇÃO teve acesso, o caso está a ser resolvido nos tribunais.
Consternado com a nomeação após a polémica
“Foi com um sentimento de consternação que me chegou ao conhecimento de que a mesma morna encontra-se nomeada para a categoria de ‘Melhor Morna’ no concurso do Cabo Verde Music Awards”, escreveu o artista radicado nos Estados Unidos, questionando a decisão da direcção dos CVMA em nomear “Prisão” para a categoria de Melhor Morna, depois da polémica.
“Sabendo que estamos a tratar do caso, recorrendo aos tribunais e da polémica que rendeu, tendo sido publicado em notícias e nas redes sociais, pergunto como é possível uma música tão antiga, cuja origem se mostra duvidosa, poderá estar a concorrer para uma premiação num dos maiores concursos de música cabo-verdiana?”.
Defender a causa do pai
Roy Job que até aquela altura dizia não ter ainda nenhuma resposta por parte da direcção dos CVMA avançou que a sua intenção não é falar sobre a sua pessoa, mas, sim sobre seu pai, Jorge Job, falecido no final do ano passado, “que foi músico e que já deu para Cabo Verde diversas composições, cantadas e tocadas por diferentes artistas ao longo de todos estes anos”.
“Uma das músicas que produziu trata-se de ‘Ano Novo’ escrita antes dos anos 60 e que recentemente foi regravada na voz de Neusa de Pina, com outra versão denominada de ‘Prisão’, mas mantendo o primeiro verso e a melodia que são propriedades de Jorge Job”, avançou.
Envolvido na polémica desde a altura em que foi apresentada a lista dos pré-nomeados para CVMA 2022, Roy Job esclareceu que o seu propósito é “defender o respeito pela memória e pelo rico património musical que Jorge Job deixou para a cultura cabo-verdiana”.
Quanto à disputa, diz que “já está mais do que provado que o primeiro a compor a música foi meu pai, antes da década de sessenta. E como António Alves, que, dizem ser o compositor de ‘Prisão’, ‘escreveu’ a canção nos anos 70, quando esteve preso em Angola, logo a morna original nunca poderia ser da sua autoria”.
CVMA garante ter respondido à carta do artista e justificado a sua decisão
Ouvida pelo A NAÇÃO, a directora de comunicação dos CVMA, Soraia Deus avançou que a organização já respondeu à carta do Roy Job nesta segunda-feira,4, lamentando inclusive a situação.
Quanto à justificativa, Soraia Deus diz que os CVMA desconhecem a disputa sobre a autoria da canção, pelo que não podia retirar a música da premiação, estando a cumprir o Regulamento.
“Desconhecemos a disputa relativamente à autoria da morna em causa e lamentamos que a mesma esteja a suceder. No entanto, os CVMA nomeiam, a cada ano, intérpretes e músicas gravadas e em comercialização dentro dos prazos estabelecidos em Regulamento”, argumenta.
Perante o esclarecido em cima, justifica que foi com base nisso que o tema em referência foi nomeado.
“Trata-se de uma canção gravada e interpretada pela artista Neuza e publicada no seu trabalho discográfico, que corresponde ao ano a concurso”, justificou reiterando que “o júri agiu em conformidade com o Regulamento, nomeando o tema e também a sua intérprete”.
O caso
Recorde-se que a polémica instalou-se no passado dia 16 de julho, quando Roy Job utilizou as redes sociais para reivindicar, para seu pai, parte da “Prisão”, interpretada por Neusa de Pina alegando que parte desta morna e a melodia foi composta pelo mesmo nos anos 60.
Na altura, Neuza de Pina disse que foi apenas a intérprete e que recebeu a composição do autor, António Alves, seu sogro, entrando também na polémica os filhos para quem António teria escrito a morna aquando da sua prisão, em Angola.