Apesar da crise, contenção dos gastos e de vários outros problemas que afectam Cabo Verde e o mundo, há quem tente tirar uns dias para repousar, estar com a família e pôr a leitura em dia. A NAÇÃO ouviu várias figuras públicas – de políticos a artistas, passando por empresários – sobre as suas férias e leituras. Como não podia deixar de ser, os gostos são dos mais diversos. De romances a ensaios, passando pelos chamados livros técnicos e de auto-estima, há quase de tudo.
José Maria Neves – Presidente da República
José Maria Neves diz que estava a contar com um “merecido descanso”, neste verão, mas já viu que vai ser difícil. É que, como confidenciou ao A NAÇÃO, no ano passado não tirou férias e, depois da campanha eleitoral, entrou logo em funções como novo chefe de Estado. “Não descansei desde essa altura”, afirma.
Tempos difíceis
A ideia este ano, diz, era aproveitar quinze dias em Agosto, entre “praias e montanhas” e caminhadas, para estar “descontraído” com as pessoas. Mas, devido a compromissos de última hora (como, por exemplo, representar o país nas exéquias do ex-chefe de Estado de Angola, José Eduardo dos Santos), só conseguiu ir, para já, passar uns dias, à ilha do Maio.
“Neste momento, é quase que uma obrigação fazer as férias aqui dentro. Estar nas ilhas com as pessoas e ver como elas estão, e para aproveitar e descansar, ao mesmo tempo”, disse ao A NAÇÃO.
“Todos os dias recebo mensagens de pessoas, daqui e da diáspora, a mostrarem as suas dificuldades. Houve uma profunda devastação social, com a pandemia e a seca, e as pessoas estão numa situação extremamente difícil. Perderam rendimentos, muitos perderam emprego e as desigualdades e a pobreza aumentaram”.
E, como Setembro já está quase à porta, a ideia de JMN, quando regressar de Angola, é tentar aproveitar o resto dos dias em Santiago, sua ilha Natal.
Desconectar-se e ler
Mas a ideia é desconectar-se também “um pouco”, das redes sociais, e descansar “em família”, “desanuviar” e aproveitar para ler.
“Mesmo trabalhando leio muito, mais literatura e filosofia política. Durante o ano sempre tenho dois ou três livros na cabeceira. Agora, durante as férias, vou aproveitar para ler alguns romances”.
Um dos romances que espera ler é o do prémio nobel da literatura de 2021, Abdulrazak Gurnah, “O paraíso”, que decorre em Zanzibar, Tanzânia.
“Não li ainda nenhum romance dele e estou curioso… E vou levar também o nobel da literatura de 2015, Gunter Grass, ‘A ratazana’. Este livro chamou-me atenção pelo facto de as ratazanas terem estado na origem das pandemias e por referir-se aos derradeiros dias da humanidade”.
Depois tem também outras obras de “leitura mais rápida”, como os Contos de São Petersburgo, do russo Nikolai Gógol, entre outros.
E para enfrentar a nova realidade aponta um outro livro, neste caso ensaio político.
“Estou a ler Uma Teoria da Democracia Complexa, de Daniel Innerarity, ele utiliza precisamente essa expressão que os tempos são gasosos, extremamente complexos e difíceis e disruptivos”, elucida.
“Num país pequeno como Cabo Verde, as coisas ainda são muito mais complexas. Temos problemas enormes de recursos, muitas das instituições ainda não estão consolidadas, a nossa democracia, o nosso Estado de Direito, são jovens e não há, ainda, uma consciência cívica e um espírito crítico muito fortes. A sociedade civil é excessivamente dependente do Estado, o mercado é muito pequeno. Há fortes restrições a uma comunicação social livre e autónoma, à realização de debates francos e abertos, o campo intelectual ainda é acanhado e tudo isto constitui constrangimentos que condicionam a acção política e a acção de qualquer Presidente da República”, finaliza.
Austelino Correia – Presidente da Assembleia Nacional
Austelino Correia, Presidente da Assembleia Nacional, espera dividir as férias entre o descanso e o trabalho inerente às suas funções. As férias, diz, são “sempre merecidas para todas as pessoas”, independentemente da conjuntura que estamos a viver, pese embora os momentos de crise serem mais exigentes.
No seu caso, em princípio, irá passar cá no país, mas, como explica, poderá surgir alguma descolação ao exterior, “mas não para gozo de férias”.
Sempre presente
Ademais, a agenda do PAN é, “por imposição constitucional”, condicionada por agenda de outros órgãos de soberania.
“Veja, por exemplo, o estatuído no artigo 131º da nossa Carta Magna. Mais, no mês de Agosto, estarão de férias os senhores deputados incluindo os membros da Mesa da Assembleia Nacional, de modo que o Presidente é quase obrigado a estar presente, ainda que não no local habitual de trabalho”.
Mesmo assim, nas férias ou não, “como em todos os dias da minha vida, sou homem das pessoas. Fascina-me estar com as pessoas, valorizo as amizades e os contactos ‘corpo a corpo’, pois, afinal, a nossa vida no mundo é essencialmente feita de relações com as pessoas”.
Entre outras coisas, nas férias, o PAN diz que aproveita este momento de trégua política e de trabalho, “para visitar localidades e ilhas, procurando conhecer melhor as maravilhas, potencialidades e vocações locais e regionais”.
Reflexão e leitura
Outra prioridade, revela, é aproveitar parte das férias para reflectir sobre a “vida profissional, política, espiritual”, mas também para ler.
“Neste momento, estou quase a concluir a segunda leitura do livro ‘Cativar’, de Vanessa Edwards. Seguirão ‘Princípios para lidar com a nova ordem mundial’, de Dalio, e ‘O traidor vermelho’, de Owen Matthews. Também estarei a revisitar alguns livros do Dr. Mário Silva”.
No seu caso, desconectar das redes sociais, não será fácil. “Não consigo. Nos dias que correm e, particularmente, numa conjuntura de crises, somos quase que obrigados a estar permanentemente conectados para podermos acompanhar o desenrolar da situação no sentido de estarmos sempre bem informados e podermos ajustar as nossas acções às demandas dos novos tempos”, confessa.
Novo ano parlamentar
Já em Setembro, na retoma do ano parlamentar, espera-lhe “muito trabalho, como é óbvio”. “Além da agenda habitual do Presidente e do Parlamento, iniciaremos o novo ano parlamentar, tendo o debate sobre a situação da justiça no final de Outubro, o que requer muito envolvimento do Parlamento e um requintado trabalho prévio”.
O debate e aprovação do Orçamento do Estado para 2023, “assunto que exige aturada preparação dos senhores deputados e muita atenção do Presidente da Assembleia Nacional”, serão outros dos desafios.
A Casa Parlamentar está ainda a preparar os 30 anos da Constituição da República. Segundo o PAN, já está planificado um conjunto de actividades alusivas à efeméride.
“Estaremos a insistir, no sentido positivo do termo, sobre questões pendentes, particularmente as que têm a ver com os chamados “órgãos externos ao Parlamento e com a reforma do Parlamento”, acrescenta.
Abertura para entendimentos
Na agenda está ainda a questão da revisão constitucional e do Código Eleitoral, estando este último, como explica, condicionado por limitação temporal.
“Acredito que depois das férias, todos os sujeitos parlamentares iniciarão o novo ano parlamentar com muito boa disposição e, consequentemente, com vontade política e abertura de espírito para se entenderem sobre essas e outras matérias de relevante importância para a vida do nosso país. Confio em todos os sujeitos parlamentares e estou crente que o novo ano parlamentar seja auspicioso”, finaliza.
Olavo Correia – vice-primeiro ministro e ministro das Finanças
Férias, para já, não constam na agenda do vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, Olavo Correia. O descanso, diz, deverá vir só lá para o fim do ano. Agora, é tempo de muito trabalho.
“Feliz ou infelizmente, Agosto, Setembro e Outubro são meses extremamente exigentes para os ministros das Finanças de todo o mundo e, particularmente, para os ministros das Finanças de Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento”, começou por esclarecer ao A NAÇÃO.
Em Cabo Verde, explica, está-se a fechar o Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável II e é preciso entregar a proposta do Orçamento do Estado (OE) a 1 de Outubro ao Parlamento. Além disso, “é imperioso fechar a cobertura financeira para o plano de emergência no montante de oito milhões de contos”.
Essas são as “três urgências e prioridades” que impedem Olavo Correia de tirar férias e que, como expressa, “demandam agora o nosso foco e consomem todo o tempo disponível”.
As férias, por isso mesmo, têm de “aguardar pelo melhor momento”, mais para “o final do ano”.
Açores e Cabo Verde
Quando chegar o momento para férias, Correia confessa que quer voltar aos Açores e aproveitar para conhecer melhor Cabo Verde.
“Temos ilhas belíssimas e únicas. E pessoas encantadoras. Gosto mesmo é de Cabo Verde”, realça, acrecentando que, em matéria de lazer, entre sol e mar e montanhas, gosta de tudo um pouco, isto é, “tudo o que cheira a Cabo Verde, gosto”.
Olavo Correia é um conhecido adepto de caminhadas e de passeios de bicicleta, que tenta intercalar com o trabalho. O número dois do Governo confessa ainda que gosta de fazer “coisas diferentes”, nas férias e de “conhecer outros mundos, tocar novos encantos, abraçar novas amizades e cuidar também da base familiar”.
A leitura, também faz parte dos planos e do dia-a-dia.
“Vou ler e estudar bem o livro ‘Como viver calma e plenamente num mundo acelerado. O que só vemos quando abrandamos’, um belíssimo livro de Haemin Sunim. Estou a ler também tudo o que me aparecer pela frente sobre ‘Nações digitais’ porque penso que Cabo Verde terá melhor futuro enquanto Nação digital. E, para cuidar da alma, quero terminar a leitura de ‘Fratelli tutti’, uma encíclica do Papa Francisco”.
Resiliência
Já sobre se desconectar das redes sociais, Olavo Correia admite ser complicado. “É difícil desconectar o que está conectado. Mas devo reduzir a intensidade quando for o momento das férias”.
A quem foi de férias e regressa em Setembro, o governante aconselha uma boa dose de realismo, a todos.
“A não contar com um mundo mais calmo e muito menos esperar que os problemas acabem. Nós é que temos de ser mais fortes para poder vencer os desafios, sejam quais forem. Regressem todos mais fortes e mais resilientes!”, apela.
Filomena Delgado – Secretária Geral do Movimento para a Democracia (MpD)
Há alguns anos que a palavra férias, pelo menos no conceito universal que conhecemos, não faz parte das rotinas de Filomena Delgado, secretária-geral do Movimento para a Democracia (MpD), porta-voz dessa força política nas questões que vão surgindo fora do Parlamento ou do Governo.
É que, por questões políticas, mas também familiares, Filomena Delgado não tem conseguido tirar férias. “A minha mãe tem 99 anos e isso condiciona-me um pouco qualquer deslocação para férias. Neste momento, qualquer deslocação que faça tem de ser de um tempo muito reduzido”.
Por isso, diz, “este ano será a mesma coisa”, pelo que não tem férias programadas fora da Praia.
Leituras
Quando antigamente tinha mais tempo disponível e tirava férias, Filomena Delgado recorda que gostava de actividades ligadas ao “sol e praia”, como “idas ao Tarrafal de Santiago”, revisitar a leitura e privilegiar passeios com amigos. Antiga professora liceal, mais tarde ministra da Educação, a leitura era algo que fazia parte do seu dia-a-dia de forma mais constante.
Neste momento, está a ler “10 razões para ter esperança no futuro”, um livro que lhe ofereceram, e que já tinha em casa há algum tempo, e que agora começou a ler, e que viu que “tem interesse”. Como conta, é uma obra com vários capítulos e que fala sobre vários aspectos, como o saneamento, a esperança de vida e a pobreza.
“É um livro que nos enriquece muito e que nos ajuda a ver alguns temas. Se neste momento estivesse a leccionar, mas já não estou, é um livro do qual poderia tirar informações para as aulas sobre os diferentes temas”, revela.
Em fila de espera para leitura estão outras obras como “A Democracia Nacional Revolucionária”, de José Tomaz Veiga, e “Cabo Verde, Um corpo que se recusa a morrer”, de José Vicente Lopes, para que, “à medida que o tempo for aparecendo”, se poder dedicar “um pouco mais à leitura”, algo que gosta muito e que vem praticando “desde o tempo do ensino secundário”.
Actualizada
Mesmo durante as férias, defende que as pessoas devem estar actualizadas e que o “noticiário” é algo que ela pessoalmente não dispensa, assim como a leitura de jornais.
“Leio jornais online, mas ainda gosto do jornal em formato papel para ler, porque, assim, à medida que a gente vai tendo tempo, vai lendo e, às vezes, tenho um pouco a tendência, também, de ver televisão e de ter o jornal à mão, para ler”.
Como o trabalho não pára, Filomena Delgado diz que, neste momento, já há uma comissão a trabalhar na abertura do ano político, e que há ainda trabalho relativamente às comissões concelhias do MpD, que já começaram a tomar posse, e outras ainda para fazerem eleições, como o caso de França, onde estão eleições previstas para Setembro. Isto, além de, como avança, em 2023 se avizinhar um ano intenso de disputa político-partidária devido às próximas eleições autárquicas.
Aristides Lima – Juiz do Tribunal Constitucional
Aristides Lima, ex-presidente da Assembleia Nacional e actual Juiz do Tribunal Constitucional, admite que a conjuntura não está para férias e que a situação sócio-económica do país “é muito grave e exigente para todos”, mas lembra que as férias são importantes e um direito.
“Para a recuperação das energias, o desenvolvimento da personalidade, fazendo-se aquilo de que se gosta, e também para se estar com a família e amigos. Além disso, constituem um direito das pessoas que trabalham”, defende.
No seu caso em concreto e com as férias judiciais, diz que “muito provavelmente” vai ficar no país.
“As paisagens de montanha têm o seu valor. Basta pensar nas lindas paisagens de São Nicolau, Fogo, Santo Antão ou Santiago e Brava. Mas, pessoalmente, a minha paixão é o mar: nadar e remar, sobretudo”, diz.
É que, como recorda, nasceu num país “abençoado pelo mar”, e na Boa Vista, que tem as praias “mais lindas do mundo”, a qual se junta uma baía “encantadora e inigualável”. “Infelizmente”, acrescenta, a Baía de Sal-Rei “ainda não está a ser explorada como devia ser a nível de desportos náuticos, designadamente da vela e do remo”.
Recuperar energias e ler
As férias servem, como defende, para recuperar “as energias”, mas também para se fazer aquilo que não se consegue fazer “no turbilhão” dos dias de trabalho.
“São um tempo para a leitura e reflexão, mas também para se escrever algo que ficou pendurado ao longo do ano, ou ainda para se mexer um pouquinho mais o corpo com exercícios”.
Quantos às leituras, admite que há “sempre alguma coisa” para se ler.
“Vou terminar um livro que me foi oferecido por um filósofo francês, Alain Finkielkraut. Intitula-se ‘Ich schweige nicht’ (Eu não me calo) e corresponde ao original francês ‘À la première personne’ (Na primeira pessoa). Tenho ainda para ler, entre outros, o romance recente da escritora cabo-verdiana Maria Helena Sato, radicada no Brasil, ‘O Médico Africano’”.
Quanto a desconectar-se das redes sociais, Aristides Lima é da opinião que “é preciso sempre gerir as informações”, sobretudo, “fugir-se do narcisismo e do egocentrismo de ostentação que grassa nas redes sociais”. Em Setembro, não tem dúvidas que lhe espera “muito trabalho, por certo”, no Tribunal Constitucional e “muitos desafios”.
Zaida Freitas – Presidente da CNDHC
Por mais que a conjuntura não seja “nada favorável”, Zaida Freitas, presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos e Cidadania de Cabo Verde (CNDHC), defende que as férias são sempre importantes. “Para que possamos repor as energias e renovar as forças para enfrentar os desafios”.
Além disso, lembra, “o direito ao repouso e ao lazer é um direito humano, previsto no artigo 24 da Declaração Universal dos Direitos Humanos” e que, como tal, deve ser “respeitado”.
Questionada se foi um ano muito difícil em termos de direitos humanos, afirma que sim. “As crises mundiais tiveram um impacto negativo no nosso país. As desigualdades sociais aumentaram, temos neste momento muitas famílias a viverem em situação precária, os casos de VBG e violência sexual contra crianças são preocupantes, a insegurança sobretudo urbana, tem sido uma grande preocupação”, enumera.
São Vicente e Santo Antão
No seu caso, irá passar uns dias de férias na sua ilha natal, São Vicente, juntamente com a família, entre o mar e a montanha. “Ir à Laginha será sempre a minha prioridade, mas irei a Santo Antão conversar com as montanhas”. Mas também espera “retomar a equitação, um desporto que eu gosto muito, mas que só consigo fazer em São Vicente”.
Os livros fazem, “sem dúvida”, parte da sua bagagem de férias. “Levarei na mala o livro ‘Sapiens, história breve da humanidade’, que ainda não consegui terminar de ler”. Quanto às redes sociais, compreende a necessidade de se “desconectar QB”, mas defende que “não podemos estar desligados” do mundo. “E as redes sociais, se forem bem utilizadas podem ser muito úteis”.
Plano de actividades
No regresso em Setembro, a certeza de muito trabalho pela frente. “Aguarda-me um plano de actividades, com acções importantes para serem implementadas. Setembro é o mês em que se comemora o Dia Nacional dos Direitos Humanos, teremos a visita do alto comissariado da ONU, para prepararmos o novo ciclo de avaliação do país, no âmbito da revisão periódica universal”.
Além disso, a CNDHC espera, concluir, em Setembro, o projecto de integração dos direitos humanos no plano estratégico de desenvolvimento sustentável e nos planos sectoriais. “Teremos a sessão plenária dos comissários e em parceria com a associação a Ponte iremos fazer ações de promoção da saúde mental e direitos humanos, com foco na prevenção do suicídio”, conclui.
José Carlos Delgado – Provedor de Justiça
José Carlos Delgado, Provedor de Justiça, tem estado a trabalhar em pleno mês de Agosto. Como explicou ao A NAÇÃO, por razões pessoais, teve de se deslocar a Lisboa, em Junho, onde aproveitou para passar alguns dias de férias, com a esposa e as duas netas.
“Foram menos de três semanas e, nessa altura, aproveitei para tratar dos meus assuntos pessoais e estar um pouco com a minha família. Nos momentos livres, quando estou em Portugal, aproveito para fazer aquilo que gosto imenso, e que me falta em Cabo Verde, que é ler jornais”.
Como explica, é “viciado” em comunicação, rádio e informação. “Há esse bichinho que persegue todos aqueles que gostam de comunicação e informação, de uma forma geral. Então aproveitei para ler muitos jornais, todos os dias, com especial destaque para o Expresso, que é sagrado, e os jornais diários de Portugal”.
Reler Chiquinho
Nessa altura, lembra, aproveitou para reler um livro que lhee é “caro” e que tem muito a ver com a sua ilha Natal, São Nicolau. Falamos de “Chiquinho” e de uma edição especial. “Um exemplar muito antigo, que era do meu pai”, recorda.
“Reli Chiquinho porque, no fundo, traduz o drama do cabo-verdiano, de uma forma geral. Eu acho que estamos a passar por momentos difíceis e tive vontade de o reler, de novo; reler Baltasar Lopes, que foi meu professor, portanto, quem eu conhecia pessoalmente, e que vivi na mesma rua que ele”, explica, sobre a sua escolha. “Recorda-me praticamente todas as peripécias que Chiquinho descreve, e todas as localidades de São Nicolau, que eu conheço”, revela saudoso.
Agosto para programar actividades
Contrariamente àquilo que se costuma dizer, que Agosto é um mês “complicado” para se trabalhar, o Provedor de Justiça está a laborar normalmente. “Porque a gente telefona para os locais e dizem: ‘está de férias, está ausente, não está…’, então como usei as férias em Junho, em Agosto estou a trabalhar, afincadamente, para programar as actividades agendadas até final do ano”.
“Vou visitar as ilhas do Norte, que ainda faltam visitar, começando por Sal, São Nicolau, depois São Vicente e Santo Antão”, revela.
Segundo explica, são visitas de encontros com autoridades locais, serviços desconcentrados do Estado, sendo que, por exemplo, no Sal e em São Vicente vai visitar as cadeias. “Vão tentar fazer algumas palestras, como tenho estado a fazer em outras ilhas”.
A programação incluiu, entre outras, visitas a alguns municípios de Santiago, que faltam visitar, no âmbito do seu programa, como Santa Catarina, São Salvador do Mundo e São Lourenço dos Órgãos.
Visita aos centros sócio-educativos de crianças em conflito com a lei, promoção dos direitos laborais e visitas aos hospitais de Santiago, constam também do seu plano.
Paulino Dias – Empresário
Naturalmente, as férias de empresários acabam por ser condicionadas pelo trabalho. É o caso de Paulino Dias que gere a PD Consult, um gabinete de estudos e consultoria.
“Infelizmente ainda não consegui ir de férias. Este ano estamos a ter um crescimento acentuado da procura pelos serviços da nossa empresa, o trabalho tem aumentado, não pude ainda tirar uns dias de férias”, confessa.
Mas assim que puder, diz, pensa passar alguns dias em Santo Antão e, se calhar, “re-visitar” a ilha do Fogo com a família. Para férias, confessa, prefere as montanhas, não fosse ele um filho de Santo Antão.
“Como no dia-a-dia já frequento bastante a praia, nas férias vou às montanhas. Para, de certa forma, reencontrar-me e às minhas raízes. Montanhas me transmitem uma imensa paz, tranquilidade, sentido de equilíbrio. Precisamente o que busco durante as férias”.
Nas férias prefere caminhadas, leitura e interação com outras pessoas, a par do “dolce far niente” (deixar-se estar, sem fazer nada).
“Quando vou a Santo Antão, gosto de não fazer planos: sair em passeios, sem rumo, sem relógio, sem linhas traçadas. Adoro. As férias são, para mim, sobretudo para estar mais com a família e os amigos, descansar, recuperar energia, procurar inspiração”.
Leituras em fila de espera
Quanto a leituras, devido à carga de trabalho, não tem tido muito tempo para ler, ultimamente.
“Tenho na fila (há já algum tempo) o livro ‘The Origin of Wealth: Evolution, Complexity, and the Radical Remaking of Economics’ (algo como A Origem da Riqueza: Evolução, Complexidade e a Remodelação Radical da Economia), de Eric Beinhocker. Mas antes, estou a terminar de ler ‘Justiça Restaurativa – Um Contributo para a Reforma do Sistema Penal’, do jurista Emanuel Sousa”.
Desconectar-se é coisa difícil, desde que se tornou empresário.
“Confesso que há anos, desde que abri a minha própria empresa, que não sei o que é ir de férias completamente, totalmente desconectado do trabalho. Temos uma equipa fantástica que me ajuda a reduzir a carga de trabalho nas férias, mas há sempre alguma coisinha por despachar, um assunto a resolver”.
Se conseguir tirar uns dias, como perspectiva, quando regressar, em Setembro, espera-lhe, “provavelmente mais trabalho”.
Cremilda Medina – Cantora (residir actualmente em Portugal)
Ao contrário dos políticos e outros dirigentes em que Agosto é o mês das tradicionais férias, para os artistas está a ser marcado pela retoma plena dos espectáculos e festivais, dentro e fora do país, depois de quase dois anos parados por conta das restrições da covid-19.
“De momento, felizmente, as coisas têm estado a correr bem, com concertos em Cabo Verde e Portugal e participações em espetáculos em França e Holanda”, revela ao A NAÇÃO, Cremilda Medina que agora vive em Portugal. Mesmo assim, “sempre” que pode, a nossa entrevistada diz que gosta de tirar um tempo para ela e para a família.
“Como é o caso do último concerto em Cabo Verde, no Festival Baía das Gatas, onde aproveitei para ficar mais uns dias com a família”, explica.
Desconecta-se com regularidade
Cremilda conta que privilegia o “descanso” nas férias, quando pode, e confessa que prefere o sol e o mar.Apesar de admitir que “nunca” teve o hábito “regular de leitura”, de momento está a terminar de ler o livro “Onze minutos” do escritor Paulo Coelho.
Ao contrário dos outros, afirma que consegue desconectar-se das redes sociais e que o faz “com regularidade”, independentemente de estar ou não de férias.
Para Setembro continua com uma agenda de espectáculos, especialmente mais uma sessão de Fado e Morna, no dia 18, no Jardim da Fundação Amália Rodrigues, em Lisboa, enquanto aguarda por algumas confirmações de outros concertos.
“Irei também dar seguimento ao meu próximo álbum, que tudo indica irá ser editado ainda este ano”, conclui.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 782, de 25 de Agosto de 2022