PUB

Santiago

Praia: Excesso de aparato policial não impediu multidão de fazer ouvir a sua voz

Uma multidão grande, que se estima ter ultrapassado as mais de mil pessoas, manifestou-se hoje pelas principais artérias da cidade da Praia, numa passeata reivindicativa pacífica e ordeira. Apesar daquilo que foi considerado de excesso de aparato policial, as pessoas de vários quadrantes, idades e classes sociais, não se deixaram intimidar e fizeram ouvir a sua voz, gritando palavras de ordem, especialmente voltadas para a Justiça. De notar que os manifestantes foram impedidos de se aproximar, dentro dos limites dos 100 metros, previsto na lei, do Palácio do Governo e da Casa do Povo que os representa, a Assembleia Nacional.

“Hoje um importante passo foi dado, para somar aos passos diários que as associações comunitárias dão no terreno!”. Este era o sentimento vivido por Dino Gonçalves, da Rede das Associações Comunitárias e Movimentos Sociais da Praia (RACMS), que mobilizou as pessoas a saírem às ruas da cidade da Praia, esta sexta-feira,19, para apelarem a mais respeito e atenção das autoridades nacionais, para questões como segurança, transportes, saúde e desemprego.

Apesar de a Rede garantir que alcançou as suas metas, com uma grande adesão da população nesta primeira iniciativa, como se constatou nas ruas da cidade, Dino confessa que gostavam de ter visto ainda mais pessoas que enfrentam problemas no dia a dia, como “taxistas, hiacistas e professores”.

Mesmo assim, “foi muito bom” e quem saiu, saiu para fazer ouvir a sua voz e a voz de quem quer melhores condições de vida.

“Sentiu-se que as pessoas mostraram que estavam ansiosas de sair às ruas”, atestou.

Esta movimentação cívica garante, valeu a pena, e a ideia é instituir, anualmente, esta manifestação sobre o Estado da Nação. “Em Julho no parlamento, em Agosto nas ruas”, garantiu. 

Pessoas de todas as idades e quadrantes sociais

De forma ordeira e pacífica, acompanhados por um grande dispositivo policial ao longo do percurso, já passava das 16h30 quando os manifestantes deixaram a Praça Alexandre Albuquerque, em frente à Câmara Municipal, rumo à Fazenda.

Sempre envergando cartazes, onde sobressaia a cara do advogado Amadeu  Oliveira, detido na cadeia da Ribeirinha, em São Vicente, com vários dizeres escritos como “As injustiças da justiça”  ou o “Rosto da Não Justiça” a multidão rumou ao Sucupira, tendo como destino o Palácio do Governo.

No caminho várias pessoas se foram juntando à manifestação,  onde sobressaiu a adesão de pessoas de várias idades, e quadrantes da sociedade civil, cultural e artística cabo-verdiana. Mas também muitos activistas conhecidos.

Só para citar alguns, Redy Wilson Lima, Helder Cardoso, Cesar Schofield Cardoso, Tutu Sousa, Zé Rui de Pina, Darlene Barreto, Vera Figueiredo, Thairo Costa, o pan –africanista Paulo Umaru, o economista e consultor Amilcar Arístides Monteiro, Amândio Barbosa Vicente do PP, o psicólogo Jacob Vicente e o influencer Oracy Cruz, foram algumas das presenças.

Excesso de aparato policial

À chegada ao Palácio do Governo esperava-os aquilo que foi considerado pelos presentes de excesso de dispositivo policial.

Uma barreira de mais de 100 policiais só no local, incluindo corpo de intervenção, fortemente apetrechados impossibilitando que passassem da rotunda junto ao “Pão Quente” da Várzea, impedindo-os de fazerem ouvir as suas vozes junto dos governantes, como era o objetivo.

“Que desilusão. É este o estado da nossa democracia”, lamentava um manifestante de idade já mais madura.

“Nu mesti polícia na zona, moda sta li hoji”, ou seja, traduzindo, “precisamos de polícia na zona, como está aqui hoje”, dizia um outro manifestante, mais jovem.

O aparato policial acabou por, de certa forma, ser um dos marcos da manifestação, ainda que pacífica e ordeira.

Nas redes sociais, Cesar Schofield Cardoso foi um dos que se mostram espantado pela quantidade de polícia mobilizada.

“Cumpriu-se assim a manifestação cidadã, pacífica, organizada pela rede das associações comunitárias e movimentos sociais da Praia (RACMS). Nota de destaque: uma presença policial jamais vista, em número de agentes, armamento e viaturas, a impedir a passagem pelo Palácio do Governo e a Assembleia Nacional. Vamos refletir sobre isso. Por agora só o espanto”, escreveu.

Mais uma vez barrados

Depois de alguns assobios e palavras de ordem como “Sima nu sta nu ka podi fika”, traduzindo, “assim como estamos, não podemos ficar”, os manifestantes rumaram dos arreadores do Palácio do Governo, até à Assembleia Nacional, subindo a rampa da Achada de Santo António, não tendo conseguido passar da rotunda, junto ao Centro Cultural Português.

Ou seja, mais uma vez, foram impedidos de se aproximar da Casa do Povo, a Assembleia Nacional (AN), pelo forte dispositivo policial.

 Aliás, com a dimensão e altura do novo edifício do Banco de Cabo Verde, da AN pouco ou nada se vislumbrava, para frustação de alguns.

“Sem justiça não há paz”

Mesmo assim, com o excesso de aparato policial e o impedimento de fazer com que se aproximassem do Palácio do Governo e da Assembleia Nacional, os manifestantes não se deixaram intimidar e continuaram a fazer cumprir aquilo que os levou às ruas, um país mais justo e mais seguro, porque “Sem justiça não há paz”.

Um país com mais igualdade, contra um “Governo gordo e, povo magro”, acesso à saúde, ligações inter-ilhas eficientes e combate ao desemprego porque “Sima nu sta nu ka podi fika”, traduzindo, “assim como estamos, não podemos ficar”.

Nota da jornalista

De notar que, apesar das insistentes tentativas do A NAÇÃO, juntamente com mais colegas de outros órgãos de imprensa, para saber o número exato de efectivos destacados para a operação, para trazer informação com mais exatidão isso não foi possível.

Contudo, pelas contas efetuadas no local, juntamente com outros colegas, o número de homens da PN, para dar cobertura à manifestação ultrapassava, em grande medida, os 100, para um universo de um pouco mais de mil pessoas estimadas, que marcaram presença.

Só para se ter uma ideia, para o Festival da Baía das Gatas, em São Vicente, foram mobilizados entre 100 a 150 agentes, num universo que ultrapassou em grande escala os mais de 50 mil festivaleiros.

PUB

PUB

PUB

To Top