O que pode representar uma gravidez no meio de uma licenciatura? Foi este questionamento que motivou Georgina Fernandes, então estudante de Comunicação e Multimédia, a escolher o tema para o seu projecto final de licenciatura. Nasceu o documentário “As estudantes mães”, que lança um olhar sobre os desafios de encarar uma gravidez e o nascimento de um filho, ao mesmo tempo que se dedica a um curso superior.
Esta foi a realidade da própria Georgina Fernandes, mas, para o seu documentário, foi ouvir alunas que também se tornaram mães, durante o curso de quatro anos. E é por isso que o documentário se chama “Estudantes mães”, pois aborda os desafios de estudantes que se tornaram mães durante o processo académico. O objectivo foi mostrar como elas conseguem conciliar os estudos com as responsabilidades inerentes à maternidade e que dificuldades enfrentaram.
“Engravidar transforma a rotina de qualquer mulher. Quando se é universitária, a maternidade representa um desafio a mais”, diz Georgina Fernandes, que, apesar de ter concluído o curso em 2018, recentemente, solicitou a autorização das mães que participaram do seu projecto, para exibir o documentário para o público.
A sua própria experiência, segundo contou ao A NAÇÃO, levou a então aluna a querer sensibilizar a comunidade educativa, de estudantes e professores, no sentido de lidar melhor com a temática.
“Obviamente algumas enfrentam dificuldades maiores e outras nem tanto. No meu caso, estava a estudar fora da minha ilha, logo, sem o apoio de uma estrutura familiar. Há outras que, para além das dificuldades em relação à gestão do tempo, por exemplo, por vezes tinham um familiar por perto para ajudar no processo”, explica.
É, em suma, um desafio maior ou menor, dependendo da realidade da estudante, do seu contexto social e até de condições financeiras.
“Quando se é mãe de primeira viagem, é o mundo completamente novo, que nos tira da nossa zona de conforto e apresenta novas realidades. Pode não ser fácil lidar com este processo. Mas também existem aquelas que conseguem tiras de letra, outras, para além de estudar e ser mãe, também trabalham”, refere.
Preconceitos
Segundo Georgina Fernandes, em alguns dos casos relatados no seu trabalho, muitas vezes, as alunas tiveram de levar as crianças à escola, por não terem outra alternativa. Mas, conforme diz, houve quem tenha sofrido um certo preconceito por levar o filho ao ambiente académico.
“Muitas vezes, esse preconceito parte tanto dos professores quanto dos colegas, que dizem que a criança perturba o normal ambiente escolar”, descreve.
Neste sentido, à luz da sua experiência pessoal, e tendo em conta a existência de outros casos, a mesma defende que as universidades devem ter uma estrutura de apoio para as estudantes que também são mães.
Uni-CV tem projecto de creche
De referir que, aquando da sua mudança para a o novo campus, no Palmarejo Grande, a Universidade de Cabo Verde anunciou que estava a trabalhar em um projecto de uma creche, para “garantir que a população jovem que tem filhos pequenos possa, com conforto, levar os filhos e colocá-los na creche da cidade universitária”.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 776, de 14 de Julho de 2022