Por: Filinto Elisio
Arrebatadora solidão. A cada susto, amar. Amar mais…
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Já por mais de uma vez tive de reduzir a zero a alegria e de exaltá-la de novo, comovido no haver vida e sempre à cautela do fadário. Seja, pois, recorrente este grande mistério e eu, dele estoico e sereno, vá pelas andanças sem acelerar o tempo, nem renegar o susto continuado. Vez por outra, poemas…que nos farão regressar antes do fim do caminho.
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Assinalamos o 47.º Aniversário da Independência Nacional, com sentido de pertença coletiva e de identidade cabo-verdiana, na aventura (que sonho) insubmissa por uma África soberana e democrática. E por um Mundo melhor possível. Para tanto, ingente e recorrente o desafio de criarmos riqueza, eliminarmos a pobreza e combatermos as desigualdades. Com Liberdade (na ideia de Sérgio Godinho que só há liberdade a sério quando pertencer ao povo o que o povo produzir). Com liberdades…amplas e diversas liberdades.
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Seja tudo isto um poste, uma nota, uma mini crónica. Texto, com ou sem textura; escritura, com ou sem labor metafórico; mas que tenha ímpeto vertiginoso, alma inconsútil…leve impressão de voo. O mais é o truísmo, a tautologia e a evidência, sol demasiado claro para ser verdade. Demasiada luz, quando também urge sombra, para exaltar a alegria da criatura. Demasiada cor, policromática e irritante arco-íris com tampas de psicadélicos tambores, a destoar o visual da Praça. Se o moderno nos interpela, o aberrante nos convoca à refracção, ao olhar perdido no mau gosto que se esconde.
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E a vida, não mais que uma roldana de acontecimentos, pendulando aqui e ali. Assumi-lo com amor – tanto o maior e coletivo, como o mais íntimo, não a só, mas a sós (e à beira da água) -, a contrapor as notações agudas do fadário. Amor que, a cada susto, chega e retempera com tudo. Pronto para ficar…
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 775, de 07 de Julho de 2022