Orlando Dias, que já se posicionou como candidato à liderança do MpD, nas directas que antecederão a Convenção do partido, no primeiro trimestre de 2023, garantiu, ao A NAÇÃO, que “nunca” será um factor de instabilidade no seio da família ventoinha. Mas até às eleições de 2026, o ora primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, terá de mudar a forma como vem governando Cabo Verde.
Este posicionamento surge da entrevista colectiva do primeiro-ministro, no passado domingo, onde Ulisses Correia e Silva derivou para questões partidárias, quando um dos jornalistas lhe perguntou se não teme governar numa situação de instabilidade. De forma curta e sibilina, o chefe do Governo e presidente do MpD avisou:
“Cabo Verde não merece. Estamos numa situação de crise económica profunda, derivada de factores externos e não vamos agora acrescentar uma crise poliíica”, o que, no entender do chefe do Governo “seria extremamente desastroso para o país”.
UCS pediu, em vez disso, foco e concentração “para podermos ultrapassar essa fase mais difícil, que é muito dura e que impõe ao país condições de ultrapassagem muito difíceis”, salientando que “todo foco terá que ser no sentido de haver governabilidade e estabilidade no país”.
Perguntado se está a trabalhar com os seus pares do partido no sentido de se evitar situações de instabilidade, UCS foi taxativo: “Eles compreendem muito bem isso. Não podem dar tiros no pé”.
Confrontado com essas afirmações, enquanto alvo principal da resposta, o deputado Orlando Dias começou por dizer que a sua candidatura à liderança do MpD “é uma garantia de estabilidade” e reafirmou que, caso vença as eleições directas no partido, Ulisses Correia e Silva se manterá no cargo de primeiro-ministro. Contudo, deixa bem claro também: “É logico que serei eu a concorrer ao cargo de primeiro-ministro nas eleições legislativas de 2026”.
Vitória
“Ganhando eu a liderança do partido, o lugar de Ulisses Correia e Silva como chefe do governo não estará em causa” esclarece Orlando Dias que diz estar convicto numa vitória que lhe proporcione a oportunidade de liderar o MpD nos próximos embates eleitorais.
Caso isso aconteça, este candidato deixa bem claro que as coisas serão bem diferentes. Ou seja, como primeiro-ministro, “Ulisses terá que seguir algumas regras do partido, no sentido de estabelecer uma liderança mais partilhada e a composição do Governo terá que ser redimensionada”.
Isto porque, como trata igualmente de deixar claro, “uma coisa é a liderança do partido e outra é ser primeiro-ministro”, dado que a lei não obriga que o líder do partido seja o chefe do Governo.
Quadro diferente
Com a solução de manter Ulisses Correia e Silva como PM, caso vença as eleições para a liderança do MpD, Orlando Dias adianta que o partido terá que ser diferente: “É claro que o partido continuará a suportá-lo como primeiro-ministro e, no Parlamento, dar-lhe-emos todas as garantias de estabilidade governativa. Só que o quadro será diferente”.
Dias esclarece que num cenário de ser ele o líder do MpD, Ulisses Correia e Silva não poderá formar o Governo como bem entender, “terá que ouvir o partido e a Comissão Política, terá que partilhar ideias e introduzir algumas reformas”.
Para o seu projecto político, Orlando Dias defende, igualmente, uma profunda revisão nos estatutos do MpD. Isto porque, do seu ponto de vista, as sucessivas revisões, a partir de uma certa altura, “retiraram praticamente todos os poderes aos órgãos e, por outro lado, concentraram poderes no presidente do partido”, leia-se, Ulisses Correia e Silva.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 770, de 02 de Junho de 2022