Amélia Correia é uma das mulheres batalhadoras de Cabo Verde que no seu município, Ribeira Grande de Santiago, dedicou-se desde muito nova à produção de sabão “di terá”, à base de azeite e cascas da purgueira, para sustentar a sua família. Hoje, devido à extinção do pé da purgueira, no arquipélago, deixou a produção e teme não haver condições para passar esta prática aos mais jovens.
Solteira, mãe de nove filhos, residente em Salineiro, Concelho de Ribeira Grande Santiago, Amélia Correia é dona de uma trajetória de vida digna de respeito e orgulho, guardiã de um grande saber-fazer, conforme nos faz saber o “Catálogo do Inventário do Património Cultural Imaterial do Concelho de Ribeira Grande de Santiago”, elaborado pelo Instituto do Património Cultural.
Desde muito nova que Amélia Correia, mais conhecida em Salineiro por “Mélia”, mostrou interesse pela confecção do sabão “di terá” e diz lembrar-se nitidamente de todos os esforços e labuta nesta actividade que muito significado tem na sua vida, pois serviu como principal meio para sustentar a família.
Por ser uma actividade muito dura e bastante exigente, Amélia trabalhava em articulação com mais quatro mulheres da mesma localidade, lembrando que chegaram a ter cerca de três dias no processo de produção do sabão até obterem o resultado final.
Com toda a dedicação conseguiram produzir o sabão tradicional, um produto derivado do azeite e cascas extraídas da purgueira, utilizado no tratamento capilar, na estética e lavagem das roupas.
Risco de extinção
Apesar de todo o esforço para a produção de sabão tradicional, esta prática desenvolvida na comunidade de Salineiro por Amélia Correia e outras mulheres da mesma localidade por muitos anos está em risco de extinção por falta de matéria prima.
Amélia contou que abandonou a produção do sabão, há alguns anos, devido à extinção do pé da purgueira no arquipélago.
Um dos seus grandes desejos é de que se volte a plantar e preservar a purgueira, para que os mais jovens da comunidade e não só, venham a seguir com a tradição e descobrir o grande valor do “sabon di téra”.
O processo de confecção, a ser retomado, um dia, quem sabe, poderia servir inclusive, como mais uma oferta turística aos turistas que visitam a ilha de Santiago.