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Cultura

Pedro Celestino Correia e Larissa Morais já vão em 300 composições em pauta

O músico Pedro Celestino Correia e a professora Larissa Morais encetaram em 2017 o desafio de lançar no mercado Partituras de Músicas de Cabo Verde. Juntos, ou em separado, esta iniciativa já vai em cerca de 300 composições em pauta, sobretudo, mornas e coladeiras. O sexto volume vai estar disponível ainda esta semana e conta com 18 mornas “mais bonitas” e “populares”, uma homenagem a este género Património Imaterial da Humanidade.

Impulsionados pelo amor à música cabo-verdiana, Pedro Celestino Correia e Larissa Morais terminaram o ano de 2017 com o lançamento do primeiro volume de Partituras de Músicas de Cabo Verde que disponibiliza, em pauta, várias mornas, coladeiras e funanás.

Em entrevista ao A NAÇÃO, aquele músico natural do concelho de São Miguel, interior de Santiago, e a professora de origem  ucraniana, radicada há mais de 25 anos em Cabo Verde, explicaram que a ideia, na altura, foi apresentar ao público um projecto comum que valorizasse mais a música cabo-verdiana, em particular a morna, mas também a coladeira e o funaná, os géneros mais enraizados que melhor representam o povo destas ilhas.

Propósito

O projecto é apresentado como um “modesto contributo” destes dois amantes da música que se encontraram, como aluno e professora, na antiga escola de música da então JAAC-CV, no Gino Desportivo da Praia (entre 1985 e 1989). O mesmo foi pensado também como uma ferramenta de apoio aos cabo-verdianos e não só, especialmente os artistas, que, muitas vezes, vagueiam às cegas nas composições. 

“Apesar de ser o nosso país, um fertilíssimo terreno de música popular, ainda carecemos de condições para estampar as nossas criações em papel. Decidimos, eu e a professora Larissa dar o nosso contributo nesse empreendimento. Por isso, quisemos com estas partituras, contribuir humildemente, à nossa maneira, para que mais cabo-verdianos tenham acesso a uma ferramenta simples de aprendizagem”, explicou Pedro Celestino ao A NAÇÃO.

“As partituras estão constituídas de três pentagramas, sendo a primeira, com notas gráficas para guitarra, instrumento musical mais comum no país, e a segunda, com uma linha melódica acompanhada de letras, e a terceira pauta com acordes para o teclado. No fim, apresentamos uma página só de letras”, acrescenta.

A introdução do livro diz ainda que as partituras estão organizadas por ordem alfabética, sem indicação de páginas, sendo que cada partitura constitui uma unidade individual paginada.

“Utilizamos as cifras universais, ao invés das tradicionais. Cremos que vários praticantes e executantes poderão satisfazer as suas necessidades. Mesmo os estrangeiros terão aí a possibilidade de aprender a nossa música”, descreve Celestino, realçando que as partituras foram produzidas com recurso ao programa musical Sibelius 7.1.

O primeiro volume de Partituras de Músicas de Cabo Verde é formado por 22 composições, sendo 15 mornas, seis coladeiras e um funaná, da autoria de Zezé di nha Reinalda, Ano Nobu, Ney Fernandes, Orlando Pantera, Kaká Barbosa, Manuel d’ Novas, Paulino Vieira, Jorge Tavares, Amândio Cabral, entre outros.

De entre as músicas mais conhecidas disponibilizadas em pauta, por Celestino e Morais, constam “Sodade”, “Ami seis anos na Tarrafal”, “Biografia dun Criol”, “Feia Cabelo Bedjo”, “Fernanda Caracunda”, “Areia de Salamansa”, “Sima Kretcheu” e “Xandinha”.

Tendo a clara consciência de que nem tudo estava perfeito, no primeiro volume lançado em 2017, Pedro Celestino resolveu dar continuidade ao projecto, desta vez, a solo.

 “Na verdade, quando pensei neste projecto, procurei aliar-me à professora Larissa, porque ela foi uma pessoa que me ajudou bastante, pois, quando nos conhecemos, eu tocava piano sem muita cultura musical e faltavam-me ainda algumas técnicas. Consciente das minhas limitações, não dei o primeiro passo de lançar partituras sem ela, tinha receio de não estar à altura do desafio. Depois da aliança que me fortaleceu, segui lançando os próximos volumes”, explicou o músico que, a solo, lançou mais quatro volumes de pautas musicais.

“Na segunda e terceira edições constam músicas que fizeram parte da primeira edição, que, pelas críticas positivas que recebi, bem como pela aceitação das partituras, resolvi aperfeiçoar. Foi muito bom dar continuidade à ideia. Nesta caminhada percebi que havia uma grande bagunça entre muitas composições cabo-verdianas. Antes de seleccionar as canções pesquisei sobre os autores das mesmas. Os intérpretes, muitas vezes, não têm esta informação, o que julgam saber, obtido através de boca-em-boca, entre eles, pode não ser verdade”.

Sexto volume a caminho

Acreditando que este projecto tem pernas para andar, e tendo em conta também o tamanho do cancioneiro cabo-verdiano, só no terceiro e quarto livro, Pedro Celestino diz ter conseguido reunir em pauta 120 músicas de géneros diferentes, os mais populares em Cabo Verde que, conforme avançou, foram escolhidas por ele mesmo, de forma aleatória. Nisso, às vezes, em conversa com os amigos, pedia sugestões para chegar mais perto do desejo do público.

O quinto volume – “Músicas/Letras Cifradas de Cabo Verde” – foi lançado em Maio de 2021, com 36 composições. E agora o sexto volume está a caminho, devendo ser colocado no mercado ainda esta semana, nas livrarias da Praia, completando assim um ciclo de cerca de 300 composições cabo-verdianas em pauta, sendo 60% mornas e 40% coladeiras.

Dentre as novidades, esta nova obra é constituída apenas por mornas, contando, de novo, com a colaboração de Larissa Morais. E é esta que nos conta:

“O Pedro procurou-me para fazer parte do projecto e lá fomos nós, novamente. Sem dúvida, tenho todo o interesse em dar mais esta contribuição para a música e a cultura de Cabo Verde e para os cabo-verdianos, um povo incrível que consegue aprender e tocar uma música surpreendentemente pelos ouvidos”.

Larissa Morais revelou-nos que o sexto volume de Partituras contará com 18 mornas, na sua opinião, “as mais bonitas de Cabo Verde”.

Já Pedro Celestino informa que ele e Larissa Morais esperam que diferentes pretendentes do panorama musical cabo-verdiano encontrem nestas obras o que procuram. “O outro importante objectivo é contribuir para a perenidade da nossa música através da escrita em papel”, indicou.

Pedro Celestino adianta pretende fechar este ciclo de Partituras de Músicas de Cabo Verde com o lançamento do sétimo volume, com as 20 mornas mais populares e modernas das ilhas, na companhia da professora Larissa Morais, uma homenagem a este género Património Imaterial da Humanidade.

Pedro Celestino, “um eterno aprendiz”

Pedro Celestino Correia nasceu em Flamengos – São Miguel, em Dezembro de 1964. É licenciado em Geografia-Ensino, pela Universidade de Coimbra, pós-graduou-se em Geografia Humana e Planeamento Regional e Local pela Universidade Clássica de Lisboa em 2001. É também pós-graduado pela UNI-CV em Estudos Autárquicos em 2010. 

Os seus primeiros contactos com a teoria musical começaram no Seminário São José, na Praia, com o hoje padre José Constantina Bento. De 1985 a 1989 frequentou aulas de música na escola de JAAC-CV no Gimno Desportivo da Praia, dirigidas pelo falecido professor José Francisco Baptista-”Kubala”.

Ainda no panorama musical apresentou alguns concertos de piano clássico ao público, quer nos palcos, quer na Televisão de Cabo Verde (TCV). Foi ainda fundador principal do “Tropical Som na Praia”, em Março de 1991, grupo musical que sobreviveu por mais de uma década. Sempre a aperfeiçoar os seus conhecimentos na área, estudou uma cadeira de história da música europeia em Coimbra e continua, ainda hoje, “um eterno aprendiz”.

Larissa Morais, uma promotora da cultura cabo-verdiana

Larissa Morais nasceu em Kiev, República da Ucrânia. Estudou Música Clássica durante oito anos numa Escola Pública especializada na sua cidade natal. A par disso, licenciou-se em Língua Inglesa em Moscovo, Rússia, tendo ainda realizado o seu mestrado em História e Ciências Sociais.

Em Cabo Verde há 25 anos, foi casada com um diplomata cabo-verdiano, com quem tem uma filha. Tem ministrado aulas de música a nacionais e estrangeiros, sendo que uma das primeiras pessoas com quem trabalhou é Pedro Celestino, além do malogrado cantor Vadú e alguns músicos do conjunto Bulimundo, fora diplomatas europeus em Cabo Verde, apaixonados também pela música cabo-verdiana.

Ainda como professora, trabalhou com o coral da Igreja Nazarena na Praia e foi, por vários anos, professora em escolas secundárias da Capital.

Fora isso, Larissa Morais é promotora da Cultura Cabo-verdiana no exterior desde 1994-1997, quando exerceu funções junto à Embaixada de Cabo Verde em Moscovo, e posteriormente em Pequim. Entre 2006-2015 escreveu artigos para revistas estrangeiras sobre estas ilhas, versando a cultura, a música e a gastronomia, junto com outras actividades promocionais.

Larissa Morais assume-se como professora com gosto para música, além da pintura, balé, entre outras artes, desde a sua infância. Dedica-se actualmente a trabalhos de investigação no campo da música, história e línguas junto com outras actividades profissionais.

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 765, de 28 de Abril de 2022

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