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Memória curta ou desconhecimento introito

Por: Carlos Carvalho

Hoje, o assunto é a Guerra no Leste da Europa.

Por todo o lado e, claro, nos becos e belecos de nossas ilhas, é o tema que se discute.

Cada um tem opinião formada, com ou sem ciência.

Se ouve, todos os dias, todo o tipo de comentários sobre o assunto, quase todos indo no mesmo sentido.   

Doutos analistas da praça já emitiram o veredicto.

Ouvi o nosso Premier e o PR condenarem uns e apoiar outros.

No concerto das Nações emitimos … sem “titubeios”… para não variar…de que lado estamos…sempre o mesmo lado!!

Havia decidido não emitir a minha opinião sobre porque … mas sabidus dja fla tudu.

Mas depois de ouvir num programa eminentes analistas, remando também todos pelo mesmo lado, a proferirem afirmações como:

Putin quer instalar um novo regime no mundo; Putin é um beligerante; Putin quer desmantelar a ordem mundial para instalar uma nova ordem; Putin sustenta uma oligarquia; oligarcas que sustentam o regime; os russos estão a empurrar para guerra nuclear; o tempo não corre a favor dos russos; o risco não é a NATO é ter democracia as portas; um dos erros é tratar a Rússia como um estado democrático. 

Estranhei nesse debate não ter visto pelo menos uma pessoa que tivesse vivido ou estudado na ex-URSS, portanto, com vivência e, quiçá, melhor conhecimento dessa realidade.

Bom … depois do que ouvi, pensei que não podia ficar calado para não entrar no rol dos “mentecaptos”.

O que trago, pois, nesta minha reflexão, com certeza não agradará a maioria dos cabo-verdianos porque a opinião de quase todos já está formada…formatada…pelos medias de nossos principais parceiros.

Nem analisamos…somente…consumimos!! 

Vou trazer só o que disse uma insuspeita figura da política mundial, para nossa, dos cabo-verdianos, reflexão. 

Bernie Sanders (BS), merkanu de Merka, disse o seguinte:

“Putin pode ser o que for. Um mentiroso, um demagogo, mas seria hipercrítico para nós, os Estados Unidos, não aceitarmos o princípio de esfera de influência; nos últimos 200 anos de nossa existência, operamos no mundo sustentados na/pela Doutrina Monroe. Esta … nos dá o direito de intervir contra qualquer país no mundo, não importa aonde for, para defender nossos legítimos interesses; quando julgamos que nossos interesses estão em jogo, em perigo.

Essa doutrina é no mínimo inegociável quando esses (dos EUA, claro) interesses se referem à América Central, América Latina e ao Caribe (considerados o quintal dos EUA)”.

BS lembrou a crise dos mísseis de 1962, quando os soviéticos colocaram mísseis a 90 milhas do território americano, o que quase levou à 3ª Guerra Mundial. Lembrou aos Congressistas como reagiu a administração Kenedy, dizendo ser inaceitável ter mísseis à porta da casa. Tudo baseado nessa Doutrina.

Sanders lembrou ainda aos Congressistas que a Doutrina Monroe não morreu, está viva…E…que, ainda em 2019, antigos altos dirigentes de Donald Trump, (Rod Stwartson e  John Bolton), reafirmaram a sua validade hoje.

BS disse:

“Putin pode ser o que for; corrompe oligarcas; é déspota; mas a Rússia, assim como os EU, tem o direito de defender sua Zona de Influência…

Imaginem que o México, Cuba e outros países da América Central e América Latina resolvessem fazer alianças militares com adversários dos EUA, o que diriam? e…o que fariam?

Vocês diriam que sim que está tudo bem porque são países independentes, podem fazer o que querem!?”

Terminando, Sanders alertou:

“Sr. Presidente, é verdade que qualquer país pode e deve escolher com quem relacionar no capítulo externo, sempre equacionando seus custos e benefícios. Sim é verdade.

Mas se os EU e a Ucrânia entrarem numa profunda relação de segurança mútua será prejudicial para ambos os países”.

Isto, cabo-verdianos, não foi dito por um “tu que fumas qualquer”, mas sim pelo Senador Bernard Sanders, Governador do Vermont e antigo candidato à Presidência dos EUA.

Isto dito em pleno Congresso americano.

Outro exemplo.

Um deputado alemão, Petr Bystron (PB), explicando ao Chanceler e aos alemães os motivos da operação russa, leia-se guerra, na Ucrânia, disse:

– “E o que conseguiram”, perguntou aos seus colegas deputados.

Continuou:

– “Sr. Chanceler (1° Ministro), o Senhor disse que a esfera de influência se moveu.

Esfera de quem? É a OTAN quem se aproximou da fronteira russa.

É a esfera da OTAN quem se aproximou às fronteiras russas.

E qual foi o preço disso??

Agora, morrem homens jovens, ucranianos e russos.

E…no plano político … empurraram a Rússia para os braços da China.

A Rússia sempre foi um Governo Europeu e vocês literalmente a empurraram para os braços da China…E não se atrevam a dizer que não foram advertidos. Os Russos vos advertiram há cerca de 15 anos!!

Putin vos disse, advertiu, aqui, neste Parlamento.

E … vocês todos aplaudiram!!

Depois disso, em 2007, ainda, nos (Putin) ofereceu aqui uma arquitectura comum para a Segurança para a Europa toda.

Vocês a rejeitaram, disseram que não.

Há apenas um mês atrás, um General Alemão vos advertiu sobre a situação e vocês lhe demitiram, o despediram por isso.   

Vocês ignoraram todas as advertências e o resultado de tudo isto é a guerra na Europa. E vocês também são culpados, são cumplices”.

O deputado disse isso em pleno Bundestag, o Parlamento Alemão.

Pergunto.

Quem não percebeu isso ainda!!??

Pelos vistos, esta pergunta não é da ciência dos cabo-verdianos.

E…vozes esclarecidas como a destes senhores não são poucas…são muiiiiiiitas.

Agora…o que penso

Pelo que foi dito logo acima, o que vou dizer vai destoar da onda da quase totalidade dos cabo-verdianos porque … penso com a minha própria cabeça, como Cabral nos ensinou.

Conversas de bar

Confesso que sou um frequentador assíduo de bares. Adoro conversas de bares. São apaixonantes. Fala-se, discute-se com paixão. Seja sobre futebol…seja sobre política, os temas mais presentes.

Normalmente, evito falar de política nos bares, mas acabo sempre sendo envolvido porque todos acham que devo emitir minha opinião.

E…foram as conversas…discussões de bares que me empurraram também a este exercício…porque prometi pôr no papel o que penso. 

RUSSIA VERSUS UCRÂNIA 

Assim, há dias meti-me numa dessas intermináveis discussões sobre o tema da actualidade…a guerra de David contra Golias.

Depois de “insistidamente” intimado a opinar, recorri a metáfora para explicar o que entendi ser esta guerra.

Pequena estória.

Eis a estória que contei.

A guerra entre a Rússia e a Ucrânia é uma espécie de guerra entre irmãos gêmeos. Portanto, saíram…na mesma hora…da mesma barriga…há muito…muiiiito tempo.

Como em toda a família…há brigas até entre irmãos.

Irmãos brigam, a família briga…mas fazem depois as pazes.

Quando alguém “compra guerra” com alguém da família, toda a família se levanta em defesa do familiar.

Mas, o que está a acontecer neste caso??

O irmão mais velho, mas menos poderoso, está querendo se juntar a outros para afrontar o irmão mais novo, porém, mais poderoso.

O irmão mais novo foi avisando o mais velho…foi avisando…

Nha ermon para di frontan.

Nha ermon ka bu frontan.

Nha ermon ka bu djunta k stranhu pa bu frontan li nha/nos kaza

Para di frontan … pan ka dadji na bo.

Mas o irmão mais velho (mais fraco) foi sendo “txustxusidu” por estranhos à família a fronta si ermon, o que levou o mais novo (mais forte) a cumprir o prometido…É rizolvi dadji na el.

Eis, em resumo, metaforicamente, o que está acontecendo.

Concluindo

Podia bem ir à história, à séculos e séculos de história para explicar melhor e justificar o que está acontecendo no mundo;

Poderia ir à história da Rússia czarista e à invasão napoleônica; ir à história da União Soviética, da 1ª e a 2ª Guerras Mundiais; poderia ir à NATO e ao Pacto de Varsóvia; poderia ir à Perestroika e Glasnost e queda do Muro de Berlim e ao desmembramento da ex-URSS; mais recentemente poderia ir à Síria, ao Iraque, à Líbia, etc.

Tuuuuudo…para explicar o que está acontecendo, hoje, no Leste da Europa…e no mundo!!

Para ficar claro

Sou…sempre fui contra qualquer guerra. 

Sou contra invasões de países contra outros países, como inúmeras vezes aconteceu …até num passado recente… e…nós todos ficamos calados.

Ninguém condenou!!

Quedamos cegos e mudos!!

Meu apelo

Se dependesse de mim…NUNCA HAVERIA GUERRA NESTE MUNDO!!

Quem me conhece sabe que não APROVARIA NENHUMA GUERRA

Assim, se minha voz pudesse chegar e influenciar nalguma coisa e se soubesse como fazê-lo…

Nunca é demais reforçar que o diálogo é a melhor arma para dirimir conflitos…na família…entre adversários políticos…e entre países.    

“A pior paz é melhor que a mais pequena guerra”.

Que a Paz volte rápido ao Leste…e pare o sofrimento de velhos, mulheres e crianças…que são quem normalmente paga.

Tenho dito.

Praia, Março 2022.   

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 758, de 10 de Março de 2022

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