Os dados finais do Censo 2021, revelados no início desta semana confirmaram a tendência da diminuição da população cabo-verdiana residente. Uma tendência que havia sido já avançada nos dados provisórios do INE, revelados em Agosto do ano passado e que chegaram a gerar polémica, pois iam contra as tendências do próprio crescimento populacional, que vinham desde 1950. Isto, quando as projecções vinham sendo no sentido dos 550 mil habitantes, ou até mais.
Agora, os dados definitivos apontam para 491. 233 de população residente, ou seja, abaixo dos 500 mil. O que por si confirma a baixa dos dados preliminares de Agosto do ano passado.
Desses 491.233 habitantes residentes, Praia alberga 29,6%, São Vicente 15,4% e Santa Catarina de Santiago 7,7%. Os outros municípios têm abaixo de 7%.
Na passada segunda-feira, 5, durante a apresentação oficial dos dados à imprensa, Elga Tavares, a responsável da unidade de metodologia, concessão e análise do gabinete de Censo, explicou que, comparativamente a 2010, houve uma diminuição de 450 indivíduos.
“A nossa pirâmide etária mostra uma contracção da base, o que significa que temos baixa fecundidade e, a par disso, os dados da emigração demonstram que estão a sair jovens em idade reprodutiva e, sobretudo, mulheres”, explicou.
Emigração
De notar que na categoria população emigrante, nos últimos cinco anos anteriores ao Censo 2021, foram notificados 17.961 indivíduos sendo 9.447 mulheres e 8.514 homens. Ainda, 64,1% desses emigrantes tinham entre 15 e 34 anos e 45,6% entre 15 e 24 anos.
Portugal com 61,9% do acolhimento da emigração, Estados Unidos com 17,8% e França com 6,6% figuram no top 3 dos destinos de emigração.
Em termos de percentagem da população residente, a maioria, 94,7% tem nacionalidade só cabo-verdiana, 3,0% tem dupla nacionalidade, 2,2% nacionalidade estrangeira e 0,05 apátrida. Guiné-Bissau com 33,7% é o país estrangeiro com mais residentes, seguindo-se Senegal com 11,3% e Portugal com 10,0% e China com 7,1%. Depois outros países têm praticamente abaixo de 4% de representatividade.
De notar que, segundo os números do INE, a população recenseada foi de 505.044, sendo 253.177 homens e 251.867 mulheres. Os “visitantes” na altura do inquérito eram 13.504.
Explicações precisam-se
Entretanto, a consultora internacional, formada em estatística, e que durante 10 anos foi técnica do INE, Deolinda Reis, defende que esse Instituto deve dar a conhecer aos cabo-verdianos a metodologia que utilizou no Censo 2021.
Pois, conforme esclareceu à RCV, a partir de Angola, onde reside, “sem um inquérito pós-censitário ou o índice de cobertura, qualquer análise aos dados apresentados pode ser falaciosa”.
“O inquérito de cobertura é um inquérito que os INE’s fazem 30 dias após a recolha, para medir a qualidade da cobertura, e é um inquérito que é feito por amostragem, onde os INE’s fazem a recolha de algumas variáveis para comparar. Depois da recolha vão comparar, realmente, se essas informações, se essas pessoas foram recenseadas ou não”, esclareceu. Prosseguindo que fazem uma amostra para obter o índice de cobertura.
“Vão para o terreno fazer a recolha, novamente, em alguns edifícios, é uma amostra representativa e depois fazem essa comparação e calculam o índice de cobertura”.
Embora considere que as projecções são sempre relativas, podendo se alterar em função de alguns factores, Deolinda Reis diz que só o INE pode explicar porque é que a população o cabo-verdiana diminuiu, mesmo tendo em conta a projecção 2010/2020, isto porque, segundo diz, não vê, para já, razões para o decréscimo da população cabo-verdiana.
“As pessoas continuaram a morrer, as pessoas continuaram a emigrar, as pessoas continuaram a nascer na mesma dinâmica, então, deve ser algo, e o INE sabe, em que tivemos essas informações (da diminuição) e, com certeza, o INE trouxe essas informações para fora, porque já foram analisadas e eu acredito que sejam essas informações”, analisa.
Na sua óptica, perante este cenário, defende que a população precisa de “um esclarecimento”, ou seja, o INE deve “mostrar a metodologia”, para sabermos “porque é que isto aconteceu”.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 762, de 07 de Abril de 2022