O sobrado de Ubaldinho, um dos mais emblemáticos do centro histórico da cidade de São Filipe, na ilha do Fogo, edificado há quase 100 anos, está a ser demolido parcialmente para a sua reconstrução. o novo projecto respeita todas as características do antigo edifício.
O sobrado, construído poucos anos após a, então, vila de São Filipe ter ascendido à categoria de cidade, encontrava-se em estado avançado de degradação, colocando em risco a segurança dos transeuntes que circulam nas suas proximidades, segundo informa a Inforpress.
Situado na zona nobre do centro histórico de São Filipe, ao pé do mercado municipal e a escassos metros da praça do Presídio, um dos maiores miradouros da cidade, o sobrado de Ubaldinho (Ubaldo Ferreira dos Santos) como é conhecido, foi construído na década de 30 do século XX, pelo comerciante e proprietário Manuel Ferreira, originário da localidade de Forno (zona sul), e que, de entre outros produtos, comercializava sementes de purgueira e de rícino, produtos que eram exportados, na época, para Portugal.
Função
Com uma arquitectura que se usava na época colonial para a construção dos sobrados (tipo angular), este edifício comporta três pisos, nomeadamente a parte inferior, que se destinava ao comércio, o primeiro piso reservado a escritório e o segundo funcionava como quartos para hospedagem dos clientes que vinham de longe, evitando o regresso no mesmo dia.
A parte inferior da traseira destinava-se à armazenagem e a de cima como moradia da família.
Segunda dá conta a mesma fonte, a degradação deste edifício era de tal ordem que parte do mesmo, nomeadamente a varanda exterior e os pilares de suporte ruíram e só não provocou uma tragédia porque aconteceu num período sem movimentação das vendedeiras do mercado municipal, que habitualmente ocupavam o espaço para colocação dos seus produtos, sobretudo a parte que se destinava à Cidade da Praia.
Fachada externa será mantida
A sua demolição para reconstrução surpreendeu muitas pessoas e atraiu a presença de muitos curiosos, para saber como será o projecto e, sobretudo, se vai ao encontro do Plano de Desenvolvimento Urbanístico de São Filipe (PDU), no que respeita à manutenção da fachada externa do sobrado, que está localizado no centro histórico que foi declarado em 2012, Património Nacional.
O vereador da câmara de São Filipe, Euclides Fernandes, responsável pelo sector das Infraestruturas e Obras, disse que, no quadro do Plano de Desenvolvimento Urbanístico de São Filipe, este sobrado está catalogado como sendo de “protecção morfológica” o que significa que na restauração deve-se manter toda a fachada externa.
O projecto de arquitectura da remodelação foi aprovado em Fevereiro de 2018, pela câmara anterior, mas respeita “todas as exigências” para restauro de edifícios do Centro Histórico, nomeadamente a manutenção da fachada externa, disse o vereador, sublinhando que a cobertura será de telha e que os traços arquitectónicos serão mantidos como defende o PDU para a conservação morfológica.
Sem parecer do IPC
O vereador avançou que a câmara anterior, antes da aprovação do projecto arquitectónico, não solicitou qualquer parecer do Instituto do Património Cultural (IPC), pelo menos, acrescentou, “não há nenhum documento nos arquivos”.
A câmara actual, também, não solicitou parecer desta instituição antes da concessão do licenciamento para execução física da obra, não obstante o edifício estar situado no centro histórico, mas o vereador Euclides Fernandes, garantiu que antes da concessão da licença, a autarquia reavaliou, internamente, o projecto de arquitectura aprovado em 2018 e os técnicos do Gabinete de Apoio Técnico (GAT) não detectaram quaisquer anomalias em termos de alteração da fachada.
Mas, pontuou ainda, o GAT, à semelhança do que faz com o resto das edificações no centro histórico, irá fiscalizar e acompanhar a execução do projecto de remodelação deste sobrado para evitar quaisquer alterações.
A construção será à base de bloco e pedras, o número de portas e janelas serão mantidas e são todas de madeiras e com as mesmas características, as varandas exteriores mantêm-se, assim como os pilares, quer em número como no formato, anteriores.
Agentes culturais satisfeitos
O agente cultural, Fausto do Rosário, após inteirar-se do projecto, assim como alguns arquitectos com escritórios em São Filipe, mostram-se satisfeitos com o projecto de arquitectura que, no dizer dos mesmos, respeita à manutenção da fachada externa.
A licença de construção emitida pela câmara de São Filipe tem a duração de um ano, mas poderá ser alargada caso neste período os proprietários não consigam concluir as obras de reabilitação deste sobrado.
C/ Inforpress
A Nação