Estas eleições municipais na Holanda, em contexto de guerra e pandemia, ficaram marcadas por uma histórica fraca adesão às urnas. Só cerca 39% dos eleitores votaram, em Roterdão. A participação da comunidade cabo-verdiana que ficou aquém do desejado, especialmente quando estas eleições estavam marcadas por uma forte presença dos seus patrícios na lista na corrida ao cargo de deputado municipal.
“Roterdão foi o município com a percentagem de adesão mais baixa a nível nacional. Mais de metade da população tem a sua origem fora da Europa. A maioria dos cabo-verdianos na Holanda habita em Roterdão e faz parte do grupo da população que menos aderiu às eleições”, começa por analisar Osvaldo Brito, jornalista cabo-verdiano a residir em Roterdão.
Contudo, como realça, “todos os partidos tiveram problemas com a baixa adesão da população nas eleições”.
Como refere, muitos cidadãos na Holanda, inclusive os cabo-verdianos, “já perderam a confiança na política e, por isso, não foram votar”. Os únicos vencedores foram os partidos locais, em cada município, como o caso do Leefbaar Rotterdam.
Contudo, como diz, se os cabo-verdianos querem conseguir algo na política têm de “investir” mais tempo dentro de um partido político, para ganhar experiência e aprender as regras do jogo.
“O cabo-verdiano não deve contar somente com os votos dos cabo-verdianos para conseguir um lugar na Câmara Municipal. O candidato tem de se perfilar mais no seio da comunidade e tornar-se conhecido pelas suas actividades em favor da comunidade”, aconselha.
Mesmo assim, Brito considera que há ilações positivas a se tirar deste pleito municipal na Holanda. “A participação dos cabo-verdianos nestas eleições demostra que esta geração está disposta a tentar realizar mudanças no país onde vivem usando os meios democráticos à sua disposição. Isto servirá de exemplo para outros que, possivelmente, numa das próximas eleições possam candidatar-se”.
Instado ainda sofre a fraca adesão dos cabo-verdianos às urnas em Roterdão, admite haver descrédito.
“Uma grande parte da população migrante adere menos porque, por um lado, não confia no sistema e, por outro, tem outras prioridades. Muitos migrantes moram em zonas mais pobres da cidade, ganham menos, têm mais problemas de saúde e enfrentam problemas de discriminação e exclusão. Tudo isso leva este grupo a pensar que o Governo não pode fazer nada por ele, mesmo que votem”, finaliza.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 760, de 24 de Março de 2022