Os familiares dos três pescadores desaparecidos no mar desde o dia 13, quando saíram da ilha da Boa Vista com destino à ilha do Sal, queixam-se de “falta de informação” e do tempo de resposta das autoridades nas buscas.
O irmão de um dos pescadores desaparecidos, Gersílio Lima, que chegou à Boa Vista na terça-feira, 15, para se inteirar das buscas, contou que entrou em contacto como as autoridades e ficou a saber que estes emitiram um comunicado para que as embarcações no mar ficassem em alerta em caso de avistar algum objecto ou mesmo o bote no mar.
Entretanto, disse que na quarta-feira, 16, estando um avião na ilha, implicado nas buscas, angariou fundo junto de amigos e familiares para tentar alugar o aparelho para mais dias de buscas, mas este teve que regressar.
“O avião esteve cá alugado por um privado, e nunca ninguém nos contactou para ver se era possível fazer mais qualquer coisa, para dar continuidade às buscas”, lamentou, informando que os familiares mobilizaram buscas com ajuda de uma organização não governamental ambiental, que os apoiou com três carros, binóculos e ‘drone’.
“Foram feitas buscas no ar, em terra, mas no mar onde se encontram não estão à procura”, asseverou, indicando que fazem todos os dias chamadas para as autoridades a fim de tentar saber sobre os procedimentos nas buscas.
Sem procedimentos
Entretanto, Gersílio Lima alegou que têm a percepção que as autoridades à frente do caso “não têm procedimentos”, e que está quase tudo fora do alcance dos mesmos, por causa da falta de meios.
Segundo disse, acabam por ficar reféns de um telefone a tentar dar alguma satisfação aos familiares, quando a seu ver, as coisas poderiam ser resolvidas de outra forma.
O familiar questiona também o tempo de resposta das buscas para salvar vidas, neste caso de três pescadores, que saíram da ilha da Boa Vista há uma semana à procura do sustento da família e não chegaram ao destino que seria Palmeira, ilha do Sal.
Desaparecidos na faina, não em terra
A irmã de outro pescador, de nome Luís Miguel “Titan”, Zenaida Gomes, também referiu que há falta de informação concreta sobre as buscas e que, no seu entender, deveriam ser feitas no mar e não em terra, tendo em conta que os pescadores desapareceram na faina.
“Eles foram à procura do sustento para os filhos e desapareceram. Acho que eles têm o direito de serem procurados no momento, na hora, porque a família pediu socorro logo na altura que aconteceu”, afirmou demonstrando o seu descontentamento no procedimento das buscas efectuadas.
Zenaida Gomes disse que a família está desesperada, isto porque, se tivessem conhecimento de que se está a fazer buscas teriam alguma esperança que a qualquer momento os pescadores poderiam ser encontrados.
“O meu irmão não está perdido na costa, mas sim no mar. Quero que me digam que estão à procura no mar, porque se for para procurar nas orlas costeiras, em terra, isso temos feito todos os dias”, pontificou.
Para que não se repita
Nelvino Lima, também irmão de um dos pescadores, apelou que o percurso de Zé Luís e “Col” não fique no anonimato, destacando, para isso, o papel da comunicação social em contar estas histórias, e da sociedade civil em reflectir e procurar soluções e meios para que não se percam mais vidas humanas no mar.
“Num espaço de menos de um ano estamos com nove vidas desaparecidas, e corremos o risco de banalizar perdas humanas naquilo que é a nossa maior riqueza, nosso mar”, concretizou, lembrando que além de os pescadores estarem à deriva, os familiares encontram-se “num mar de incertezas e de dor”.
C/ Inforpress