Osvaldo Brito, jornalista cabo-verdiano da Plataforma Letra das Ilhas, Roterdão, segue com entusiasmo a adesão dos seus patrícios às listas partidárias na corrida às eleições municipais na Holanda. Na sua análise, duas leituras ajudam a explicar esta “boa adesão” às municipais holandesas da próxima semana.
“Acho que esta adesão dos descendentes cabo-verdianos pode ser vista, por um lado, como uma reacção ao que está acontecendo na sociedade e, por outro, como uma forma natural de integração e participação na Holanda”, começa por dizer, esclarecendo que a “maior parte” dos candidatos nas listas já tinham uma afiliação com o seu partido político.
Participação na política holandesa
Como diz, os cabo-verdianos e seus descendentes na Holanda “não têm uma tradição de participar activamente no seio da política holandesa”.
A primeira geração “seguia mais o desenvolvimento da política de Cabo Verde e, muitas vezes, os grupos de associações eram organizados de acordo com a afiliação política”.
Já a segunda geração, usou esses conhecimentos políticos e aplicou isso na política holandesa, que estava mais próxima dela.
José Carlos Gonçalves: uma carreira política que atraiu cabo-verdianos
“José Carlos Gonçalves foi um dos primeiros, ou senão o primeiro, cabo-verdiano a participar activamente na política, como deputado da freguesia de Delfshaven em Roterdão, entre 1998 e 2000”, recorda.
Nessa mesma freguesia, Gonçalves fez uma carreira política que atraiu a atenção dos seus conterrâneos.
“Ele foi vereador por quatro anos e depois assumiu o cargo de Presidente da freguesia durante dois mandatos até 2014. Após a reorganização e desmantelamento das freguesias, Gonçalves funcionou durante quatro anos como deputado municipal, em Roterdão”.
Já em Março de 2002, recorda também o nosso interlocutor, foram realizadas eleições autárquicas em Roterdão, tanto para o município como para as freguesias.
“Nas listas do partido do trabalho, e do partido cristão, nessa altura, constavam sete nomes de cabo-verdianos. Um deles, Carlos Gonçalves, que se candidatava para o cargo de vereador de freguesia. Dois dos candidatos concorriam para um cargo como deputado municipal e o resto concorria para um lugar na sua freguesia”.
Na altura, Gonçalves conseguiu o seu posto e Agostinho Santos conseguiu um lugar como deputado municipal para o partido do trabalho.
João Varela: primeiro cabo-verdiano no Parlamento holandês
Já em Maio de 2002, João Varela, segundo lugar da lista do partido Lijst Pim Fortuyn (LPF) foi o primeiro cabo-verdiano a conseguir um assento no Parlamento holandês, onde permaneceu durante quatro anos.
Entre 2006 e 2022, Osvaldo Brito explica que apareceram, esporadicamente, nomes de cabo-verdianos nas listas de diversos partidos, “mas nem sempre em posições elegíveis”.
E, agora, em 2022, para as autárquicas de Março, mostra-se satisfeito por existir, “novamente”, um número “significante” de candidatos cabo-verdianos nas listas.
“É de louvar tanta participação política”, finaliza.
De notar que a nossa reportagem tentou apurar ao certo quantos cabo-verdianos, ou descendentes, já nascidos na Holanda, integram as listas dos 20 partidos às eleições municipais em Roterdão, mas sem sucesso.
Participação nas autárquicas pode ser maior
Contudo, estima-se serem mais do que aqueles com quem falamos, não só pela dimensão do país, mas também pelo facto de termos tido acesso a listas em que alguns dos nomes apontam para nomes possivelmente de cabo-verdianos, como acontece com a lista do Movimento de Combate à Pobreza.
Tratando-se, neste caso, de um partido que não tem assentos no Parlamento holandês. De notar ainda que, segundo Osvaldo Brito, existem muitos partidos locais em Roterdão.
“Muitos municípios têm o seu partido local, para além dos, mais ou menos, 13 partidos grandes que participam a nível nacional, em todos os municípios”.
Essa fonte enumera ainda que a maioria dos candidatos cabo-verdianos ou descendentes figuram em Roterdão, Capelle aandenIJssel e Schiedam. Municípios que fazem fronteira com Roterdão.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 758, de 10 de Março de 2022