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Santiago

Carlos “Charles” Correia: Um fruto dos 14 anos do Espaço Safende

Há 14 anos nascia o Espaço Aberto Safende (EAS), um centro da Associação Zé Moniz (AZM), com o coração nesse bairro da Praia, e que já deu vários frutos na comunidade. Um deles é Carlos Correia, “colaborador” há mais de 10 anos.

Conhecido carinhosamente por Charles, Carlos Correia reside na Vila Nova, mas é em Safende que se realiza como guarda e colaborador do Espaço Aberto Safende (EAS), mais concretamente como treinador de futebol de crianças e adolescentes dessa comunidade da Praia.

Charles fazia tratamento no Hospital da Trindade para se livrar do vício do álcool e outras drogas, quando conheceu o Dr. Manuel Faustino que lhe apresentou o EAS, na época, ainda na fase de construção.

Fazer a diferença através do futebol
Mais tarde, ao terminar o tratamento, Charles aceitou o convite para conhecer mais a fundo o trabalho feito no EAS e começou um teste para servir e trabalhar como guarda do centro. “Logo no início me adaptei rapidamente, a comunidade e os colaboradores do Espaço Aberto Safende aceitaram-me da melhor forma, o que tornou tudo mais fácil para mim”, diz.

Com o passar do tempo, Charles viu o futebol como um meio para dar um contributo maior e fazer a diferença na comunidade de Safende.

“Tudo começou a partir de um passeio feito com as crianças e jovens de Safende a São Jorge dos Órgãos, algum tempo depois da minha entrada no EAS. Durante o passeio observei o dom dessas crianças no futebol, então, resolvi fazer alguma coisa para contribuir para o desenvolvimento da zona”, recorda.

Desde então, Charles treina cerca de 30 rapazes, dos 10 aos 18 anos, a maioria moradores em Safende, acolhendo igualmente os meninos dos bairros vizinhos.

“O futebol é uma forma de crescer saudável, tanto a nível físico como no desenvolvimento psicólogico de quem o pratica. A pensar nisso, vi o futebol como um meio para desenvolver a prática desportiva em Safende, treinando as crianças e os adolescentes”.

Charles conta ao A NAÇÃO que, mais do que treinar as técnicas desportivas para a prática do futebol, ele tenta mostrar o lado bom da sã convivência e do poder das escolhas certas que os jovens sob a sua responsabilidade devem fazer.

“O treino serve também para transmitir mensagens positivas e passar experiências de vida que considero importantes para que eles possam tirar algum aprendizado com isso”, acrescenta.

Futebol como sinónimo de paz e bem-estar
Nos treinos Charles procura, igualmente, aliar a sua paixão pelo futebol à sua experiência de vida, mostrando as vantagens de se jogar em equipa, dos benefícios da sua prática, mas, sobretudo, apresentar o futebol como forma de manter o bem-estar em vários sentidos, desde a tenra idade.

“Eu já passei por muita coisa na vida, por isso, sempre reservo algum tempo do treino, nos sentamos, simplesmente, para conversar, sobre a vida, sobre a escola, a nossa equipa e como anda a nossa zona”, frisa, uma vez, sem deixar de lado a sua experiência de vida.

“A minha luta não foi fácil, muitas pessoas me ajudaram a recuperar quando eu precisava de apoio; hoje luto para ser um guia para que os outros jovens não façam as escolhas erradas que eu fiz, e isso pode ser feito através do desporto que eles gostam; em consequência deste trabalho, feito com as crianças, acho que poderemos prevenir muitos males sociais”.

A equipa liderada por Charles já participou de vários torneios, ganhando taças; recentemente, têm estado a realizar actividades em conjunto com o Centro Orlando Pantera, “para que os meninos da equipa conheçam outras realidades e assim terem uma noção das oportunidades que têm tido no bairro”.

14 anos do EAS
De realçar que o Espaço Aberto Safende (EAS) é um centro, pertencente à Associação Zé Moniz, criado em 2008 e destinado à crianças e jovens da comunidade do bairro, com a intenção de promover a educação e adopção de um estilo de vida saudável entre a população juvenil, principalmente.

O centro EAS, que este ano completou 14 anos, tem um jardim infantil que acolhe crianças da comunidade, dá assistência a crianças com estudos orientados, proporciona atendimento psicossocial, dispondo ainda de uma sala multiusos.

E foi distinguido, em 2011, pela Comissão Nacional os Direitos Humanos e a Cidadania (CNDHC) e em 2015 na Gala Somos Cabo Verde na categoria do Voluntariado, pelos trabalhos que tem desenvolvido.

Por: Tiana Silva

Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 757, de 03 de Fevereiro de 2022

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