Segundo o fundador do projecto, José Luís Martins, “perceber a essência deste projeto é ainda um grande desafio”. O mesmo fez estas declarações à margem da conversa aberta realizada este fim de semana, em São Vicente, promovida pela referida associação, com o objetivo de dar a conhecer o seu trabalho e estabelecer parcerias com a Câmara Municipal da ilha, igrejas e outras associações.
“ O objetivo é cooperar para trabalharmos em comum e não haver ajudas repetidas, pessoas a serem ajudadas por mais do que uma associação, não dando lugar a outras pessoas”, defendeu. É que, como disse, “muitas vezes” recebe mensagens de pessoas a pedir ajuda, mas “as pessoas querem ser ajudadas, mas não querem participar”.
O mesmo lamentou não ter havido uma maior falta de adesão por parte da sociedade civil à iniciativa, que ia servir para criar mais sinergias, pois há muito trabalho a fazer.
“Por norma os pedidos de ajuda devem ser realizados através dos representantes, em cada ilha, mas ainda há pessoas que se dirigem diretamente a mim, por acharem que é mais fácil, ou que terão ajuda se dirigirem-se a mim ao invés dos representantes, por isso, apelo que se dirijam aos representantes, porque as chances de serem ajudadas serão maiores”. Pois, como alerta, conhecem melhor a realidade de cada ilha e por estarem no terreno para verificarem se, de facto, a pessoa necessita do apoio.
Acrescenta ainda um outro desafio, mas que não se aplica à ilha de São Vicente, que é o desembaraço alfandegário, nas outras ilhas.
“ A Ilha de São Vicente é a única ilha em que a alfândega nunca nos criou problemas, não sei se já perceberam o que é o projeto, se o acompanham, mas nas outras ilhas tem sido uma dor de cabeça e pagamos um valor grande para tirar as cargas”, lamenta.
Falta de reconhecimento
O fundador do projeto lamenta ainda o facto do mesmo não ter o devido reconhecimento por parte das autoridades.
“ Não temos nenhum apoio nem reconhecimento da parte do governo, apesar do projeto já estar registado em Cabo Verde como associação, já saiu no Boletim Oficial. Mesmo conseguindo evacuar 20 pessoas, 16 para Senegal e 4 para Portugal, mas nunca tivemos sequer um obrigada da parte do Ministério da Saúde”, lamenta.
O projecto Zé Luis Solidário atua em quatro vertentes, nomeadamente saúde, alimentação, educação e habitação, sendo que a saúde tem sido a prioridade.
“ Na habitação temos recebido muitos pedidos mas, por norma, em cada ano, se construirmos uma ou duas casas é suficiente, por não haver muitos recursos. Por exemplo, construímos uma casa em Santo Antão e outra no Fogo e, neste momento, vamos para Brava”.
A saúde tem sido a prioridade. “Temos beneficiado muitas pessoas a realizarem exames de TAC, exames de oftalmologia entre outros, tentamos sempre focar em salvar vidas, do que construir uma casa que pode custar 12 a 15 mil dólares sabendo que tem uma pessoa a morrer ou com falta de algum tratamento”, explica.
Apesar de todos os desafios enfrentados, o projecto, garante, é para continuar, mesmo tendo em conta as incertezas do contexto actual e das dificuldades que poderão surgir.
Para além da apresentação do projeto, houve lugar para testemunhos de pessoas que já foram beneficiadas pelo projecto.
O projeto Zé Luís Solidário irá completar 2 anos de existência no mês de Abril e, para assinalar esta data, pretendem realizar nos Estados Unidos e, possivelmente, em cada ilha, um jantar para arrecadar fundos.
Louisiene Lima – Estagiária