O Presidente da República, José Maria Neves, sustentou, esta quarta-feira, 23, em São Filipe, que a língua cabo-verdiana une Cabo Verde e a sua diáspora, pelo que existe “toda a razão para a sua oficialização plena”. Segundo o chefe de Estado, não há mais tempo a perder para a sua introdução no sistema de ensino.
O chefe de Estado, que participou, na noite de quarta-feira, 23, na conferência “Língua cabo-verdiana: fundamento para uma política de língua integrada”, na Casa da Memória, com a professora Amália Melo Lopes, indicou que a Presidência está “absolutamente disponível” para apoiar esta dinâmica para oficialização da língua nacional.
“Estou absolutamente disponível para apoiar todos os académicos e linguísticos nesta matéria”, declarou José Maria Neves, indicando que estes já fizeram os seus trabalhos e demonstraram que a oficialização é possível.
“Agora é tempo de trabalharmos para a oficialização plena da língua cabo-verdiana e o consenso está se esboçando neste sentido, com base em todas as variantes e de forma muito plural, começamos a dar à língua cabo-verdiana toda a sua dimensão e valor que tem”, aludiu.
Consolidação da liberdade
Para o Presidente da República, é um direito de que dispomos e que permite consolidar a liberdade, enquanto cidadãos, e a independência, enquanto País, além de abrir “a mente e a estrada para aprender muito melhor”, as outras línguas.
A oficialização da língua cabo-verdiana, continuou, deveria ter acontecido há mais tempo, e se a mesma tivesse sido introduzido no sistema de ensino, hoje o País teria mais sucesso de aprendizagem da língua portuguesa e das outras disciplinas, acentuando que a experiência realizada com o ensino bilíngue deu “resultado extraordinário”.
“Não há mais tempo a perder e temos de acelerar e introduzir língua cabo-verdiana no ensino e avançar”, pontuou José Maria Neves.
Educação bilingue
A conferencista, a professora Amália Melo Lopes, disse que tentou explicar aquilo que é os fundamentos para mudar a política linguística actual, seja a nível do reconhecimento da igualdade, mas também do prestígio da língua cabo-verdiana e da língua portuguesa, de modo a ter as duas línguas no ensino em igualdade de circunstância.
Segundo disse, é necessária “uma educação bilíngue” e em relação à língua cabo-verdiana salientou a necessidade de ter uma norma que integra as variedades e que seja flexível, plural e sem deixar nenhuma das variantes de fora.
Amália Melo Lopes destacou os comentários, que classificou de “interessantes”, apoiando a ideia da oficialização e dando sugestões sobre a necessidade de uma educação linguística para que as pessoas possam compreender melhor esta ideia.
“Tivemos uma política linguística colonial que desvalorizou as línguas nacionais, de um modo geral, e crioulo, em particular, e muitas dessas ideias subsistem na mente de muitas pessoas e é necessária uma grande acção de divulgação para que as pessoas possam entender que a língua cabo-verdiana é uma língua plena, com valor e dignidade para ser oficializada e ensinada”, concluiu.
A conferência foi promovida pela Presidência da República em parceria com a câmara de São Filipe, para celebrar o Dia Internacional da Língua Materna, mas também enquadrada nas actividades comemorativas do centenário da elevação de São Filipe à cidade, cujo Presidente da República é o presidente de honra das celebrações.
C/ Inforpress